terça-feira, 2 de maio de 2017

VIOLÊNCIA URBANA NO RJ – COMPLEXO DO ALEMÃO - MAIS UMA INOVAÇÃO PARA FICAR TUDO COMO ESTÁ



 "Algo deve mudar para que tudo continue como está." (Giuseppe di Lampedusa); ou: “Tudo como dantes no quartel de Abrantes” (Provérbio português)




G1 de 02/05/2017

'Não vamos recuar, podem fazer a pressão que for', diz major sobre torre blindada e UPP no Alemão

Em entrevista exclusiva ao G1, o comandante da UPP Nova Brasília, Leonardo Zuma, diz que lamenta as mortes nos confrontos e explica que ataques de traficantes são para retomar área em que funcionava boca de fumo lucrativa.


G1 entrevista comandante da UPP Nova Brasília

A principal via onde a Polícia Militar instalou as bases da UPP Nova Brasília, no Complexo do Alemão, tem apenas 700 metros de extensão. O suficiente para vitimar muitas pessoas na guerra entre traficantes e PMs. No fim de abril, cinco pessoas morreram em seis dias durante confrontos na operação para a implementação de uma torre blindada no Largo do Samba – na sexta-feira (28), a torre de vigilância começou a funcionar.
Era no largo que funcionava uma das bocas de fumo mais lucrativas da comunidade, segundo o major Leonardo Zuma, comandante da UPP Nova Brasília desde dezembro de 2014. Em entrevista exclusiva ao G1, o oficial diz que a resistência para não perder o terreno fez criminosos abrirem fogo com o intuito de obrigar a polícia recuar.

"O tráfico viu que está perdendo terreno e já previu os próximos passos, as próximas bases que vamos instalar. Essa guerra que os criminosos estão movendo nisso tudo é o prenúncio da morte deles. Morte deles como instituição ali dentro e, por isso, estão reagindo dessa forma", explica Zuma.


Torre blindada do Alemão fica em via estratégica, segundo a PM (Foto: Editoria de Arte/G1) 

 Torre blindada do Alemão fica em via estratégica, segundo a PM (Foto: Editoria de Arte/G1)

Residências que ficam no entorno do Largo do Samba são alvos de tiros com frequência (Foto: Divulgação)

Desde que iniciou a obra para a construção da torre blindada, em fevereiro, a equipe de Zuma foi alvejada diariamente. A solução foi desistir da obra e mandar colocar uma já pronta que estava sem utilização na Linha Amarela. Isso minimizou os prejuízos, não somente os financeiros, mas também de vidas.
"A ordem dos traficantes era: 'Chegou o pedreiro, manda bala nele!'. Tive um PM baleado lá dentro do Largo do Samba e mais três agentes do Bope feridos no dia da instalação da torre", conta o comandante. 
Zuma afirma que não previu que a resistência seria tão sangrenta.

"Comecei a perceber que aquele ponto era realmente muito importante para o tráfico de drogas. No início, os policiais ficaram receosos, me pediam pra não instalar essa base, mas depois perceberam que essa era uma jogada dos traficantes pra gente voltar atrás. Eles estão numa ação desesperada, que não tem a mínima chance de dar certo." 



Major Leonardo Zuma está no comando da UPP Nova Brasília desde dezembro de 2014 (Foto: Marcos Serra Lima/G1)

Largo do Samba e o lucro da boca de fumo

O local é estratégico tanto para polícia quanto para os traficantes. O Largo do Samba fica posicionado na metade de uma das vias principais da favela Nova Brasília, a Rua Sete de Setembro. Tem duas entradas e mais acessos a três becos que dão em distintas regiões na comunidade.
Qualquer morador chega rapidamente ali. Mototaxistas também podem subir com facilidade pela Estrada do Itararé. O ponto comercial de venda de entorpecentes, que ali funcionava, era favorável geograficamente para os clientes. Agora, a polícia acredita que comandará a região, com visão privilegiada da favela.

"Pra gente ocupar o Largo do Samba eu levava seis horas, no meio da troca de tiros. Hoje, eu entro em 30 segundos porque a torre está lá dentro. Para entrar ali, tivemos que ir pulando de laje em laje para que os bandidos não vissem."


Criminosos em momento de lazer no Largo do Samba antes da polícia tomar o local (Foto: Divulgação) 

Atualmente, 340 policiais trabalham para garantir a segurança dentro da comunidade.

"Há pouco tempo, tinham trilhos fincados no chão e muros de concreto, para evitar o tráfego das viaturas. Limpamos toda a área. Caso os policiais sejam atacados, temos condições de entrar ali para socorrê-los. Existe a possibilidade de atacarem a torre? Existe. Já possibilidade de sucesso eu acho que é nula."
Para o oficial, a localidade é triplamente estratégica: "Primeiro, porque funcionava uma grande boca de fumo lucrativa, depois, porque os bandidos conseguiam atacar a polícia em dois pontos de um único local de disparos, outra porque dali do largo eles protegem três acessos da comunidade".

Estrutura blindada

Visão 360°, mais de dez pontos de disparos, dois andares, ar-condicionado, banheiro, além de paredes e janelas blindadas. É dentro da estrutura de seis metros de altura que os policiais da UPP Nova Brasília vão monitorar toda a região.

"Acho uma visão equivocada quando dizem que a torre vai contra o conceito da UPP. Na verdade, a torre está permitindo o acesso do policiamento ali dentro, que não acontecia antes. Tiramos uma boca de fumo da porta dos moradores, tiramos um monte de pessoas fortemente armadas circulando ali. Não vejo pelo ponto de que a torre está isolando a polícia dos moradores, muito pelo contrário. Agora, vão poder levar suas vidas de forma pacífica, voltar a fazer festas." 

Visão interna da parte inferior de uma torre blindada da PM semelhante à que foi instalada no Alemão (Foto: Marcos Serra Lima/G1) 

Holofotes e câmeras de segurança estão sendo espalhados no entorno da torre para auxiliar na vigilância. Existe também a possibilidade de novas torres blindadas serem implementadas em outras áreas da comunidade. Já existem quatro bases no local: base da UPP Nova Brasília, base blindada no Largo da Vivi, torre blindada no Largo do Samba e base blindada na Alvorada.

"A tomada do terreno vai ser progressiva. O Alemão vai ser reocupado pelos policiais em segurança, permitindo patrulhamento a pé e sem risco para a comunidade, e sem tiroteios a todo momento, impedindo que os bandidos trafeguem pelas principais vias."


Mais de três muros foram derrubados pelos policiais. Eles serviam de escudo para os criminosos (Foto: Divulgação) 



Policiais tiveram que retirar trilhos fincados por traficantes nas vias, que evitavam o tráfego de viaturas (Foto: Divulgação)

Retirada da torre e saída da UPP do Alemão

Apesar da pressão contra a torre e para que a UPP seja retirada da Nova Brasília, não existe a mínima possibilidade de isso acontecer, segundo o oficial. Semanalmente, comandantes e a cúpula da Polícia Militar se reúnem para discutir sobre um processo de restruturação das unidades pacificadoras na cidade. 


Torre blindada da UPP Nova Brasília no Complexo do Alemão começou a funcionar na sexta-feira (28) (Foto: Divulgação) 

"Não vamos recuar, podem fazer a pressão que for. Isso só está mostrando que estamos indo pelo caminho certo, porque se estivesse errado, não estaria dando problema nenhum. Pressão popular pra UPP sair dali ainda não vi nenhuma. O que vejo é um grupo com seus interesses próprios. Moradores de bem não atiram na polícia, não depredam ônibus, não invadem UPAs." 

Na visão de Zuma, "recuar seria um regresso no processo de pacificação e significaria a volta do quartel general do tráfico no local". 

"Com essas pseudo-manifestações, estão querendo causar instabilidade que convença alguma autoridade de que é melhor retirar a UPP dali. Eu acho isso uma burrice. As autoridades podem estar sendo levadas a enxergar o problema de forma unilateral e acabam prestando um desserviço para a comunidade de bem, essa é a verdade." 


Manifestantes fizeram protesto no Alemão após morte de jovem (Foto: Suelen Bastos/G1)

Balanço desfavorável x sucesso a longo prazo

Foram cinco mortes de moradores e quatro policiais baleados no Alemão desde que as obras para a instalação das bases começaram. Um custo que abala, mas que Zuma assume como inerente ao cargo que ocupa. 

"Já teve dia em que não consegui dormir. Fico pensando qual o tamanho da minha responsabilidade nisso tudo. E se meu policial baleado morresse? Mas eu sou um comandante, penso de forma estratégica. Sei que aquilo está tendo um custo para mim, custo de vidas, mas sei que vai trazer pacificação para o local." 

O major, no entanto, diz que ainda acredita no êxito de sua UPP.

"Li um texto que diz que o período de maior treva durante a noite é exatamente o que precede a alvorada. Então acredito que esteja passando por essa madrugada sombria, mas estou buscando a alvorada."

Zuma também lamenta pelos familiares dos jovens mortos durante as trocas de tiro.

"Meu coração fica pesado, mas em nenhum momento vou recuar daquela que é a minha missão institucional e como ser humano. Minha estratégica junto com a minha equipe pode dar errado? Pode. Mas a gente vai tentar outra. Se depender de mim, não vou desistir nunca, vou cumprir minha missão, custe o que custar", avalia. 

O objetivo, daqui para frente, é estreitar a comunicação com os moradores de Nova Brasília e fazer com que a sociedade se posicione na discussão. 

"Nesse momento crítico, a comunidade tem que se posicionar a favor da polícia. No fim das contas, os moradores podem ir na corregedoria nos denunciar, a promotoria de justiça pode nos controlar, a defensoria pública pode defender os interesses de quem se sente violado. Mas quem vai controlar o tráfico de drogas? Aonde reclama? Tem um pensador que diz que quando os sinos dobram, eles se dobram também por você. Quando alguém morre, você também está morrendo um pouco. Então chegou a hora da sociedade se posicionar."

Crivella promete retomar projetos

O prefeito Marcelo Crivella esteve nesta segunda-feira (1º) na Vila Olímpica Carlos Castilho, no Complexo do Alemão, em um encontro com cerca de 300 moradores e líderes comunitários. Segundo a assessoria de imprensa, ele foi ouvir ideias sobre futuros projetos para a região e disse que elegeu como prioridade que a prefeitura retome os projetos sociais.
O prefeito disse ainda que irá retornar ao Alemão, no próximo dia 20, para uma nova reunião, para apresentar o que será feito pela prefeitura.

"Vamos verificar o que é gasto com cada um deles [projetos] e qual o alcance que tem. No próximo dia 20, estaremos de volta aqui para mostrar, dentro das possibilidades econômicas da Prefeitura, o que nós poderemos fazer.

MEU COMENTÁRIO

Sobre a torre de aço instalada em improviso no Complexo do Alemão, não posso deixar de viajar ao passado para trazer à lide algumas experiências históricas de fracasso porque não houve planejamento estratégico nem tático e a PMERJ, como centro das atenções em vista dos maus resultados operacionais das UPPs, tão inegável e amplamente divulgado pela mídia, surge a inovar na ponta da linha com mais um “Ovo de Colombo”. Insiste assim em ignorar a estratégia como componente mais valioso de combate e se enfia numa improvisada medida, talvez tática e operacional ao mesmo tempo, para tentar matar muitos coelhos com uma só cajadada.


Não significa esta minha posição crítica nenhuma intenção de desmerecer o esforço dos companheiros PMs da linha de frente do grave problema operacional, que não se alicerçou em planejamentos estratégicos e táticos mais profundos e se perde em mais uma tentativa operacional fadada à inutilidade no cotidiano “combate ao tráfico”, como se tal problema demandasse apenas ações operacionais e algumas incursões até “operativas” a partir de tropas normais e especiais, com um preço incrível: muitas mortes de PMs e de civis e várias acusações de “homicídio”, por parte da mídia, quando bandidos são abatidos, numa espécie de “bandidolatria” midiática, neologismo muito bem aplicado pelo Juiz de Direito Alexandre Abraão, titular do 3º Tribunal do Júri da Capital.


Mas é inegável que o cenário é de derrota, e as fraturas já expostas vêm sendo tratadas com esparadrapo, como sugere ser essa torre instalada num complexo favelado de difícil controle em se tratando de criminalidade, aliado ao fato de que, por ser ainda inexpugnável (mesmo depois da ação operativa das Forças Armadas que deu início ao tormento), o Complexo do Alemão representa hoje, emblematicamente, a sede da cúpula do Comando Vermelho, e talvez homizie o maior efetivo concentrado de traficantes armados para a guerra com fuzis de última geração.


Nem me vou aprofundar no assunto porque abundam provas documentais (incluindo vídeos de televisão inglesa e centenas de reportagens locais) do poderio numérico e bélico dos narcotraficantes deste específico complexo favelado, sem desmerecer os demais com semelhantes características, como: Complexo da Maré, Complexo do Jacarezinho, Rocinha e outros não menos inexpugnáveis, malgrado o esforço da PMERJ em enxugar a geleira, em engarrafar a fumaça, e em tampar o sol e recolher a água com peneira.


Daí é que, diante do emblema criado pela corporação, - a “torre salvadora da pátria”, - cabe-nos apenas resgatar da história algumas situações e cenários para comparação pura e simples, enquanto torcemos pelo sucesso da nova empreitada, pois outra alternativa não há para quem já vestiu a farda da PM e permanece fiel ao juramento como qualquer um do serviço ativo. Vejam então os destaques, e que cada um tire suas próprias conclusões.

A Linha Maginot, a 2ª Guerra Mundial e o egocentrismo francês.

Gustavo Magnani -



Com a partilha do Império Otomano, o tratado de Versalhes e com a Alemanha fechada para comércio, a intenção era de que a paz reinasse entre o povos da terra, certo? Errado! Imagine o medo instalado na Europa após a Primeira Grande Guerra (1914-1918). O que a galera pensa? “Ah, em mim de novo não!”. Beleza, não era tão simples, os vários países estavam destruídos – principalmente a Alemanha, assim o medo de mais “estragos” eram iminentes.

Sendo assim, a França – que fazia parte da Tríplice Entente na primeira guerra – manteve-se, digamos que, com um pé atrás perante a Alemanha. A partir daí (1928) o estado Frances deu início ao conjunto de complexos e estratégias defensivas contra um ataque surpresa alemão ao seu território. Chamava-se LINHA MAGINOT, e foi construída entre 1928 e 1935. Feita de aço, concreto e especificamente protegia a França nas fronteiras com a Alemanha numa área de aproximadamente 700 quilômetros. Veja bem 700 QUILÔMETROS. E não só isso, quase maior parte dela era de sistema subterrâneo, ou seja: UMA CIDADE EMBAIXO DA TERRA.

Agora por que este nome MAGINOT?  Porque leva o nome do idealizador da ideia; o ministro da Guerra Francês André Maginot. A obra durou 7 anos e empregou mais de 40 mil pessoas. A Linha Maginot contava com túneis de trem que facilitavam o acesso entre interior e exterior do complexo. Nesses túneis também passavam fios de telefone e eletricidade e era a principal rota de entrada e saída do exército.  Também se configuravam de linhas de defesa com baterias antiaéreas e ninchos com metralhadoras, trincheiras, artilharias, um quartel para oficiais e soldados e um paiol para munições. No contexto civil, ao final da obra ela contava com: hospital, ginásio de esportes, salão de jogos, estoque de remédios, cinema, 112 fortes, 406 casas de infantaria, 90 abrigos e 135 postos de observação. Em casa um desses 112 fortes existia um gerador elétrico para a manutenção de energia.


OK, ai se pensa o seguinte: “se a França estava com medo, tinha uma linha de defesa que cobria exatamente todo o território de fronteira contra a Alemanha, porque se preocupar a partir de agora?” Porque os franceses achavam que estavam seguros. Na verdade se eles estavam alguma coisa, seriam errados. Em Maio de 1940 o exército nazista simplesmente deu a volta na fronteira onde não existia a Linha Maginot, entrou pela Bélgica, escondendo-se pela Floresta de Ardenas e atacou o exercito francês pelas costas.  A ideia principal francesa é que apenas a Alemanha seria capaz de atacar a França, assim as fronteiras com os outros países – e infelizmente com a Bélgica, né – não foram fechadas.

Não que a ideia de defesa da Linha Maginot tenha sido um fracasso, de fato foi algo a se parabenizar, principalmente por sua estrutura. Mas o que ocorre é que o egocentrismo Francês tomou conta da posição de que “AGORA ESTAMOS SEGUROS”, por coincidência o complexo ficou pronto junto com um dos marcos que futuramente ocasionariam o pontapé da 2º Guerra, que foi a retomada do Sarre – era um território alemão com jazidas de pedras preciosas que era explorado pela França – e reincorporação desse território ao Reich; um anos depois do começo da guerra (1939) esse complexo foi invadido. No qual, é claro, a França já fazia parte da Guerra ao lado dos Aliados.

Voltando à Linha Maginot. Basicamente podemos resumi-la em: um enorme esforço de engenharia militar e civil que foi jogado no lixo por um erro de estratégia militar que não levou em conta outros sujeitos e outros contextos. Assim, contribuindo para que a França fosse tomada por Hitler 4 meses depois da invasão do complexo de defesa Francês, em setembro de 1940.

Bem, é isso ai pessoal. Espero que vocês tenham gostado da postagem. E fico imaginando se a “Linha Maginot” existe e nós sabemos. Quantas coisas devem existir que sequer chegam perto do nosso conhecimento. Deixem o seu comentário e se vocês gostaram, não esqueçam de curtir. Obrigado!”

Pan-óptico


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Pan-óptico é um termo utilizado para designar uma penitenciária ideal, concebida pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham em 1785, que permite a um único vigilante observar todos os prisioneiros, sem que estes possam saber se estão ou não sendo observados. O medo e o receio de não saberem se estão a ser observados leva-os a adotar o comportamento desejado pelo vigilante.

Por requerer menor número de vigilantes, o sistema pan-óptico teria, segundo Bentham, a vantagem de ser mais barato do que o adotado nas prisões de sua época, sendo aplicável não só às prisões, mas a qualquer outro tipo de estabelecimento baseado na disciplina e no controle.

História


Bentham estudou "racionalmente", em suas próprias palavras, o sistema penitenciário. Criou então um projeto de prisão circular, onde um observador central poderia ver todos os locais onde houvesse presos. Era o sistema pan-óptico. O sistema seria aplicável, segundo o autor, a prisões, escolas, hospitais ou fábricas, para tornar mais eficiente o controle daqueles estabelecimentos. Assim, aquele que estivesse sobre uma torre ou estrutura circular central, poderia observar todos os presos (ou os funcionários, pacientes, estudantes etc), tendo-os sob seu controle.[1]

O desenho original de Bentham incorpora uma galeria ou estrutura circular no centro de um edifício, também circular, dividido em celas - tendo cada uma delas uma janela para o exterior, para permitir a entrada de luz, e uma porta gradeada voltada para o vasto pátio interior e voltada para a torre de vigilância. Os ocupantes das celas se encontrariam isolados uns de outros por paredes e sujeitos ao escrutínio coletivo e individual de um vigilante, postado na torre e que permaneceria oculto. Para isso, Bentham não só imaginou persianas ou venezianas nas janelas da torre de observação, mas também conexões labirínticas entre as salas da torre, a fim de evitar sombras ou ruídos que pudessem delatar a posição e o olhar do observador.[2]

Mas o sistema inventado por Bentham era na realidade complexo e exigia edifícios dispendiosos e com vasta área de construção, de modo que, até hoje, nenhum edifício pan-óptico seguiu exatamente o sistema desenhado por ele. Em todo o mundo existe um número muito reduzido de edifícios que se podem considerar pan-ópticos, isto é, de implantação circular e com uma simplificada torre de vigilância situada no centro de um espaço aberto, coberto ou não.

O sistema pan-óptico não deve ser confundido com o sistema radial, em que vários pavilhões com celas irradiam a partir de uma zona central, onde, por vezes, existe uma torre, mas onde o vigilante só pode visualizar os corredores dos vários pavilhões, e não o interior das celas. O sistema radial, aplicado em penitenciárias, expandiu-se especialmente na Europa e na América Latina, correspondendo ao regime de clausura solitária, em que cada prisioneiro só podia sair da cela durante meia ou uma hora por dia, e encapuçado, de modo que os prisioneiros não se conhecessem mutuamente. Um exemplo de prisão radial é o da monumental Penitenciária de Lisboa (1874-1885), com 565 celas distribuídas por seis edificações unidas em estrela, - um projeto do engenheiro Ricardo Júlio Ferraz.[3]

Dispositivos disciplinares e sociedade de controle


Segundo o filósofo Michel Foucault, é no século XVIII que se inicia um processo de disseminação sistemática de dispositivos disciplinares, que, a exemplo do pan-óptico, permitiam vigilância e controle social cada vez mais eficientes, embora não necessariamente com os mesmos objetivos "racionais" de Bentham e seus contemporâneos.

Foucault utilizaria o termo "pan-óptico" em sua obra Vigiar e Punir (1975), para tratar da sociedade disciplinar. Desde então e até o início do século XXI, novas tecnologias de comunicação e informação permitiriam novas formas de vigilância, por vezes dissimuladas, a ponto de não serem facilmente percebidas pelos indivíduos, ou naturalizadas. [4] Teóricos das novas tecnologias, como Pierre Lévy e Dwight Howard Rheingold, também utilizam o termo "pan-óptico" para designar o controle exercido pelos controladores dos novos meios de informação sobre os utilizadores.

O sistema pan-óptico está na base do que Gilles Deleuze chama sociedade de controle.[5][6] Em seus últimos textos, Deleuze evoca a "instalação progressiva e dispersa de um sistema de dominação" de indivíduos e populações, dando origem à "sociedade de controle". O filósofo toma emprestado o termo "controle" do escritor William Burroughs, mas, para formular sua ideia, apoia-se nos trabalhos de Foucault sobre as "sociedades disciplinares".[7] Nessas sociedades, que Foucault situa nos séculos XVIII e XIX, e cujo apogeu ele situa no início do século XX, o indivíduo continua a mover-se de um "meio de confinamento" para outro: a família, a escola, o exército, a fábrica, o hospital, a prisão ... Todas essas instituições, das quais a prisão e a fábrica seriam modelos privilegiados, são igualmente dispositivos propícios à vigilância, ao esquadrinhamento, ao controle dos indivíduos constituídos como corpos dóceis, inseridos em "moldes". [8]

Em Portugal


Em Portugal existe um dos raríssimos edifícios pan-ópticos existentes no mundo (e o único com pátio a descoberto), o Pavilhão de Segurança do Hospital Miguel Bombarda, (projetado em 1892-1894 e inaugurado em 1896), dado a conhecer pela aprofundada investigação de Vítor Albuquerque Freire publicada em 2009, revelando finalidades, plantas, peças e justificação do projeto original, o autor arquitecto José Maria Nepomuceno, fotografia da torre panóptica, etc, além de demonstrar o vanguardismo funcional e formal dos sistemáticos e amplos arredondamentos de arestas, notável linguagem arquitectónica precursora do modernismo dos anos 1920 e 1930 a nível internacional.[3]

Além do Pavilhão de Segurança, de Lisboa, conhecem-se os seguinte outros edifícios panópticos circulares: a penitenciária de Autun (1856), em França, de André Berthier; as penitenciárias de Breda e Arnhem (ambas de 1884), na Holanda, do arquitecto Johan Frederik Metzelaar; a penitenciária de Haarlem (1901), Holanda; a penitenciária de Statesville (1919), Illinois, EUA, da autoria de C. Harrick Hammond; e a penitenciária da Ilha dos Pinheiros (1932), em Cuba.

Bentham, Jeremy (1995). The Panoptic Writings. [S.l.: s.n.]


Definições da Web



Pan-óptico é um termo utilizado para designar um centro penitenciário ideal desenhado pelo filósofo Jeremy Bentham em 1785. O conceito do desenho permite a um vigilante observar todos os prisioneiros sem que estes possam saber se estão ou não sendo observados...

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