"Algo deve mudar para que tudo continue como está." (Giuseppe di Lampedusa); ou: “Tudo como dantes no quartel de Abrantes”
(Provérbio português)
G1 de 02/05/2017
'Não vamos recuar, podem fazer a pressão que for', diz major sobre torre blindada e UPP no Alemão
Em entrevista exclusiva ao G1, o comandante da UPP Nova Brasília, Leonardo Zuma, diz que lamenta as mortes nos confrontos e explica que ataques de traficantes são para retomar área em que funcionava boca de fumo lucrativa.
A principal via onde
a Polícia Militar instalou as bases da UPP Nova Brasília, no Complexo do Alemão,
tem apenas 700 metros de extensão. O suficiente para vitimar muitas pessoas na
guerra entre traficantes e PMs. No fim de abril, cinco pessoas morreram em seis
dias durante confrontos na operação para a implementação de uma torre blindada
no Largo do Samba – na
sexta-feira (28), a torre de vigilância começou a funcionar.
Era no largo que
funcionava uma das bocas de fumo mais lucrativas da comunidade, segundo o major
Leonardo Zuma, comandante da UPP Nova Brasília desde dezembro de 2014. Em
entrevista exclusiva ao G1, o oficial diz que a resistência
para não perder o terreno fez criminosos abrirem fogo com o intuito de obrigar
a polícia recuar.
"O tráfico viu que está perdendo terreno e já previu os próximos passos, as próximas bases que vamos instalar. Essa guerra que os criminosos estão movendo nisso tudo é o prenúncio da morte deles. Morte deles como instituição ali dentro e, por isso, estão reagindo dessa forma", explica Zuma.
Desde que iniciou a obra para a construção da torre blindada, em fevereiro, a equipe de Zuma foi alvejada diariamente. A solução foi desistir da obra e mandar colocar uma já pronta que estava sem utilização na Linha Amarela. Isso minimizou os prejuízos, não somente os financeiros, mas também de vidas.
"A
ordem dos traficantes era: 'Chegou o pedreiro, manda bala nele!'. Tive um PM
baleado lá dentro do Largo do Samba e mais três agentes do Bope feridos no dia
da instalação da torre", conta o comandante.
Zuma afirma que não
previu que a resistência seria tão sangrenta.
"Comecei a perceber que aquele ponto era realmente muito importante para o tráfico de drogas. No início, os policiais ficaram receosos, me pediam pra não instalar essa base, mas depois perceberam que essa era uma jogada dos traficantes pra gente voltar atrás. Eles estão numa ação desesperada, que não tem a mínima chance de dar certo."
Largo do Samba e o lucro da boca de fumo
O local é estratégico
tanto para polícia quanto para os traficantes. O Largo do Samba fica
posicionado na metade de uma das vias principais da favela Nova Brasília, a Rua
Sete de Setembro. Tem duas entradas e mais acessos a três becos que dão em
distintas regiões na comunidade.
Qualquer morador
chega rapidamente ali. Mototaxistas também podem subir com facilidade pela
Estrada do Itararé. O ponto comercial de venda de entorpecentes, que ali
funcionava, era favorável geograficamente para os clientes. Agora, a polícia
acredita que comandará a região, com visão privilegiada da favela.
"Pra gente ocupar o Largo do Samba eu levava seis horas, no meio da troca de tiros. Hoje, eu entro em 30 segundos porque a torre está lá dentro. Para entrar ali, tivemos que ir pulando de laje em laje para que os bandidos não vissem."
Atualmente, 340 policiais trabalham para
garantir a segurança dentro da comunidade.
"Há pouco tempo, tinham trilhos fincados no chão e muros de concreto, para evitar o tráfego das viaturas. Limpamos toda a área. Caso os policiais sejam atacados, temos condições de entrar ali para socorrê-los. Existe a possibilidade de atacarem a torre? Existe. Já possibilidade de sucesso eu acho que é nula."
Para o oficial, a
localidade é triplamente estratégica: "Primeiro, porque funcionava uma
grande boca de fumo lucrativa, depois, porque os bandidos conseguiam atacar a
polícia em dois pontos de um único local de disparos, outra porque dali do
largo eles protegem três acessos da comunidade".
Estrutura blindada
Visão 360°, mais de
dez pontos de disparos, dois andares, ar-condicionado, banheiro, além de
paredes e janelas blindadas. É dentro da estrutura de seis metros de altura que
os policiais da UPP Nova Brasília vão monitorar toda a região.
"Acho uma visão equivocada quando dizem que a torre vai contra o conceito da UPP. Na verdade, a torre está permitindo o acesso do policiamento ali dentro, que não acontecia antes. Tiramos uma boca de fumo da porta dos moradores, tiramos um monte de pessoas fortemente armadas circulando ali. Não vejo pelo ponto de que a torre está isolando a polícia dos moradores, muito pelo contrário. Agora, vão poder levar suas vidas de forma pacífica, voltar a fazer festas."
Holofotes e câmeras
de segurança estão sendo espalhados no entorno da torre para auxiliar na
vigilância. Existe também a possibilidade de novas torres blindadas serem
implementadas em outras áreas da comunidade. Já existem quatro bases no local:
base da UPP Nova Brasília, base blindada no Largo da Vivi, torre blindada no
Largo do Samba e base blindada na Alvorada.
"A tomada do terreno vai ser progressiva. O Alemão vai ser reocupado pelos policiais em segurança, permitindo patrulhamento a pé e sem risco para a comunidade, e sem tiroteios a todo momento, impedindo que os bandidos trafeguem pelas principais vias."
Retirada da torre e saída da UPP do Alemão
Apesar da pressão
contra a torre e para que a UPP seja retirada da Nova Brasília, não existe a
mínima possibilidade de isso acontecer, segundo o oficial. Semanalmente,
comandantes e a cúpula da Polícia Militar se reúnem para discutir sobre um
processo de restruturação das unidades pacificadoras na cidade.
"Não vamos
recuar, podem fazer a pressão que for. Isso só está mostrando que estamos indo
pelo caminho certo, porque se estivesse errado, não estaria dando problema
nenhum. Pressão popular pra UPP sair dali ainda não vi nenhuma. O que vejo é um
grupo com seus interesses próprios. Moradores de bem não atiram na polícia, não
depredam ônibus, não invadem UPAs."
Na visão de Zuma,
"recuar seria um regresso no processo de pacificação e significaria a
volta do quartel general do tráfico no local".
"Com essas
pseudo-manifestações, estão querendo causar instabilidade que convença alguma
autoridade de que é melhor retirar a UPP dali. Eu acho isso uma burrice. As
autoridades podem estar sendo levadas a enxergar o problema de forma unilateral
e acabam prestando um desserviço para a comunidade de bem, essa é a
verdade."
Balanço desfavorável x sucesso a longo prazo
Foram cinco mortes de
moradores e quatro policiais baleados no Alemão desde que as obras para a
instalação das bases começaram. Um custo que abala, mas que Zuma assume como
inerente ao cargo que ocupa.
"Já teve dia em
que não consegui dormir. Fico pensando qual o tamanho da minha responsabilidade
nisso tudo. E se meu policial baleado morresse? Mas eu sou um comandante, penso
de forma estratégica. Sei que aquilo está tendo um custo para mim, custo de
vidas, mas sei que vai trazer pacificação para o local."
O major, no entanto,
diz que ainda acredita no êxito de sua UPP.
"Li
um texto que diz que o período de maior treva durante a noite é exatamente o
que precede a alvorada. Então acredito que esteja passando por essa madrugada
sombria, mas estou buscando a alvorada."
Zuma também lamenta
pelos familiares dos jovens mortos durante as trocas de tiro.
"Meu coração
fica pesado, mas em nenhum momento vou recuar daquela que é a minha missão
institucional e como ser humano. Minha estratégica junto com a minha equipe
pode dar errado? Pode. Mas a gente vai tentar outra. Se depender de mim, não
vou desistir nunca, vou cumprir minha missão, custe o que custar", avalia.
O objetivo, daqui
para frente, é estreitar a comunicação com os moradores de Nova Brasília e
fazer com que a sociedade se posicione na discussão.
"Nesse momento
crítico, a comunidade tem que se posicionar a favor da polícia. No fim das
contas, os moradores podem ir na corregedoria nos denunciar, a promotoria de
justiça pode nos controlar, a defensoria pública pode defender os interesses de
quem se sente violado. Mas quem vai controlar o tráfico de drogas? Aonde
reclama? Tem um pensador que diz que quando os sinos dobram, eles se dobram
também por você. Quando alguém morre, você também está morrendo um pouco. Então
chegou a hora da sociedade se posicionar."
Crivella promete retomar projetos
O prefeito Marcelo
Crivella esteve nesta segunda-feira (1º) na Vila Olímpica Carlos Castilho, no
Complexo do Alemão, em um encontro com cerca de 300 moradores e líderes
comunitários. Segundo a assessoria de imprensa, ele foi ouvir ideias sobre
futuros projetos para a região e disse que elegeu como prioridade que a
prefeitura retome os projetos sociais.
O prefeito disse
ainda que irá retornar ao Alemão, no próximo dia 20, para uma nova reunião,
para apresentar o que será feito pela prefeitura.
"Vamos verificar
o que é gasto com cada um deles [projetos] e qual o alcance que tem. No próximo
dia 20, estaremos de volta aqui para mostrar, dentro das possibilidades
econômicas da Prefeitura, o que nós poderemos fazer.
MEU
COMENTÁRIO
Sobre
a torre de aço instalada em improviso no Complexo do Alemão, não posso deixar
de viajar ao passado para trazer à lide algumas experiências históricas de
fracasso porque não houve planejamento estratégico nem tático e a PMERJ, como
centro das atenções em vista dos maus resultados operacionais das UPPs, tão
inegável e amplamente divulgado pela mídia, surge a inovar na ponta da linha
com mais um “Ovo de Colombo”. Insiste assim em ignorar a estratégia como componente
mais valioso de combate e se enfia numa improvisada medida, talvez tática e
operacional ao mesmo tempo, para tentar matar muitos coelhos com uma só
cajadada.
Não
significa esta minha posição crítica nenhuma intenção de desmerecer o esforço
dos companheiros PMs da linha de frente do grave problema operacional, que não
se alicerçou em planejamentos estratégicos e táticos mais profundos e se perde
em mais uma tentativa operacional fadada à inutilidade no cotidiano “combate ao
tráfico”, como se tal problema demandasse apenas ações operacionais e algumas incursões
até “operativas” a partir de tropas normais e especiais, com um preço incrível:
muitas mortes de PMs e de civis e várias acusações de “homicídio”, por parte da
mídia, quando bandidos são abatidos, numa espécie de “bandidolatria” midiática,
neologismo muito bem aplicado pelo Juiz de Direito Alexandre Abraão, titular do
3º Tribunal do Júri da Capital.
Mas é
inegável que o cenário é de derrota, e as fraturas já expostas vêm sendo
tratadas com esparadrapo, como sugere ser essa torre instalada num complexo
favelado de difícil controle em se tratando de criminalidade, aliado ao fato de
que, por ser ainda inexpugnável (mesmo depois da ação operativa das Forças
Armadas que deu início ao tormento), o Complexo do Alemão representa hoje,
emblematicamente, a sede da cúpula do Comando Vermelho, e talvez homizie o
maior efetivo concentrado de traficantes armados para a guerra com fuzis de
última geração.
Nem me
vou aprofundar no assunto porque abundam provas documentais (incluindo vídeos
de televisão inglesa e centenas de reportagens locais) do poderio numérico e
bélico dos narcotraficantes deste específico complexo favelado, sem desmerecer
os demais com semelhantes características, como: Complexo da Maré, Complexo do
Jacarezinho, Rocinha e outros não menos inexpugnáveis, malgrado o esforço da
PMERJ em enxugar a geleira, em engarrafar a fumaça, e em tampar o sol e
recolher a água com peneira.
Daí é
que, diante do emblema criado pela corporação, - a “torre salvadora da pátria”,
- cabe-nos apenas resgatar da história algumas situações e cenários para
comparação pura e simples, enquanto torcemos pelo sucesso da nova empreitada,
pois outra alternativa não há para quem já vestiu a farda da PM e permanece
fiel ao juramento como qualquer um do serviço ativo. Vejam então os destaques,
e que cada um tire suas próprias conclusões.
“A Linha Maginot, a 2ª Guerra Mundial e o egocentrismo francês.
Com a partilha do Império Otomano, o tratado de
Versalhes e com a Alemanha fechada para comércio, a intenção era de que a paz
reinasse entre o povos da terra, certo? Errado! Imagine o medo instalado na
Europa após a Primeira Grande Guerra (1914-1918). O que a galera pensa? “Ah, em
mim de novo não!”. Beleza, não era tão simples, os vários países estavam
destruídos – principalmente a Alemanha, assim o medo de mais “estragos” eram
iminentes.
Sendo assim, a França – que fazia parte da
Tríplice Entente na primeira guerra – manteve-se, digamos que, com um pé atrás
perante a Alemanha. A partir daí (1928) o estado Frances deu início ao conjunto
de complexos e estratégias defensivas contra um ataque surpresa alemão ao seu
território. Chamava-se LINHA MAGINOT, e foi construída entre
1928 e 1935. Feita de aço, concreto e especificamente protegia a França nas
fronteiras com a Alemanha numa área de aproximadamente 700 quilômetros. Veja
bem 700 QUILÔMETROS. E não só isso, quase maior parte dela era de sistema
subterrâneo, ou seja: UMA CIDADE EMBAIXO DA TERRA.
Agora por que este nome MAGINOT? Porque
leva o nome do idealizador da ideia; o ministro da Guerra Francês André
Maginot. A obra durou 7 anos e empregou mais de 40 mil pessoas. A Linha Maginot
contava com túneis de trem que facilitavam o acesso entre interior e exterior
do complexo. Nesses túneis também passavam fios de telefone e eletricidade e
era a principal rota de entrada e saída do exército. Também se
configuravam de linhas de defesa com baterias antiaéreas e ninchos com
metralhadoras, trincheiras, artilharias, um quartel para oficiais e soldados e
um paiol para munições. No contexto civil, ao final da obra ela contava com:
hospital, ginásio de esportes, salão de jogos, estoque de remédios, cinema, 112
fortes, 406 casas de infantaria, 90 abrigos e 135 postos de observação. Em casa
um desses 112 fortes existia um gerador elétrico para a manutenção de energia.
OK, ai se pensa o seguinte: “se a França
estava com medo, tinha uma linha de defesa que cobria exatamente todo o
território de fronteira contra a Alemanha, porque se preocupar a partir de
agora?” Porque os franceses achavam que estavam seguros. Na verdade se
eles estavam alguma coisa, seriam errados. Em Maio de 1940 o exército nazista
simplesmente deu a volta na fronteira onde não existia a Linha Maginot, entrou
pela Bélgica, escondendo-se pela Floresta de Ardenas e atacou o exercito
francês pelas costas. A ideia principal francesa é que apenas a Alemanha
seria capaz de atacar a França, assim as fronteiras com os outros países – e
infelizmente com a Bélgica, né – não foram fechadas.
Não que a ideia de defesa da Linha Maginot tenha
sido um fracasso, de fato foi algo a se parabenizar, principalmente por sua
estrutura. Mas o que ocorre é que o egocentrismo Francês tomou conta da posição
de que “AGORA ESTAMOS SEGUROS”, por coincidência o complexo
ficou pronto junto com um dos marcos que futuramente ocasionariam o pontapé da
2º Guerra, que foi a retomada do Sarre – era um território alemão com jazidas
de pedras preciosas que era explorado pela França – e reincorporação desse
território ao Reich; um anos depois do começo da guerra (1939) esse complexo
foi invadido. No qual, é claro, a França já fazia parte da Guerra ao lado dos
Aliados.
Voltando à Linha Maginot. Basicamente podemos
resumi-la em: um enorme esforço de engenharia militar e civil que foi jogado no
lixo por um erro de estratégia militar que não levou em conta outros sujeitos e
outros contextos. Assim, contribuindo para que a França fosse tomada por Hitler
4 meses depois da invasão do complexo de defesa Francês, em setembro de 1940.
Bem, é isso ai pessoal. Espero que vocês tenham
gostado da postagem. E fico imaginando se a “Linha Maginot” existe e nós
sabemos. Quantas coisas devem existir que sequer chegam perto do nosso
conhecimento. Deixem o seu comentário e se vocês gostaram, não esqueçam de
curtir. Obrigado!”
Pan-óptico
Origem: Wikipédia, a
enciclopédia livre.
Pan-óptico é um termo utilizado para
designar uma penitenciária
ideal, concebida pelo filósofo e jurista inglês Jeremy
Bentham em 1785,
que permite a um único vigilante observar todos os prisioneiros, sem que estes
possam saber se estão ou não sendo observados. O medo e o receio de não saberem
se estão a ser observados leva-os a adotar o comportamento desejado pelo
vigilante.
Por requerer menor número de vigilantes, o
sistema pan-óptico teria, segundo Bentham, a vantagem de ser mais barato do que
o adotado nas prisões de sua época, sendo aplicável não só às prisões, mas a
qualquer outro tipo de estabelecimento baseado na disciplina e no controle.
História
Bentham estudou "racionalmente", em
suas próprias palavras, o sistema penitenciário. Criou então um projeto de
prisão circular, onde um observador central poderia ver todos os locais onde
houvesse presos. Era o sistema pan-óptico. O sistema seria aplicável, segundo o
autor, a prisões, escolas,
hospitais
ou fábricas,
para tornar mais eficiente o controle daqueles estabelecimentos. Assim, aquele
que estivesse sobre uma torre ou estrutura circular central, poderia observar
todos os presos (ou os funcionários, pacientes, estudantes etc), tendo-os sob
seu controle.[1]
O desenho original de Bentham incorpora uma
galeria ou estrutura circular no centro de um edifício,
também circular, dividido em celas - tendo cada uma delas uma janela para o
exterior, para permitir a entrada de luz, e uma porta gradeada voltada para o
vasto pátio interior e voltada para a torre de vigilância. Os
ocupantes das celas se encontrariam isolados uns de outros por paredes e
sujeitos ao escrutínio coletivo e individual de um vigilante, postado na torre
e que permaneceria oculto. Para isso, Bentham não só imaginou persianas ou
venezianas nas janelas da torre de observação, mas também conexões labirínticas
entre as salas da torre, a fim de evitar sombras ou ruídos que pudessem delatar
a posição e o olhar do observador.[2]
Mas o sistema inventado por Bentham era na
realidade complexo e exigia edifícios dispendiosos e com vasta área de
construção, de modo que, até hoje, nenhum edifício pan-óptico seguiu exatamente
o sistema desenhado por ele. Em todo o mundo existe um número muito reduzido de
edifícios que se podem considerar pan-ópticos, isto é, de implantação circular
e com uma simplificada torre de vigilância situada no centro de um espaço
aberto, coberto ou não.
O sistema pan-óptico não deve ser confundido com
o sistema radial, em que vários pavilhões com celas irradiam a partir de uma
zona central, onde, por vezes, existe uma torre, mas onde o vigilante só pode
visualizar os corredores dos vários pavilhões, e não o interior das celas. O
sistema radial, aplicado em penitenciárias, expandiu-se especialmente na Europa
e na América Latina, correspondendo ao regime de clausura solitária,
em que cada prisioneiro só podia sair da cela durante meia ou uma hora por dia,
e encapuçado, de modo que os prisioneiros não se conhecessem mutuamente. Um
exemplo de prisão radial é o da monumental Penitenciária de Lisboa (1874-1885), com
565 celas distribuídas por seis edificações unidas em estrela, - um projeto do
engenheiro Ricardo Júlio Ferraz.[3]
Dispositivos disciplinares e sociedade de controle
Segundo o filósofo Michel
Foucault, é no século XVIII que se inicia um processo de disseminação
sistemática de dispositivos
disciplinares, que, a exemplo do pan-óptico, permitiam vigilância
e controle social cada vez mais eficientes, embora
não necessariamente com os mesmos objetivos "racionais" de Bentham e
seus contemporâneos.
Foucault utilizaria o termo
"pan-óptico" em sua obra Vigiar
e Punir (1975), para tratar da sociedade disciplinar. Desde então e até
o início do século XXI, novas tecnologias de
comunicação e informação permitiriam novas formas de vigilância, por vezes
dissimuladas, a ponto de não serem facilmente percebidas pelos indivíduos, ou
naturalizadas. [4]
Teóricos das novas tecnologias, como Pierre
Lévy e Dwight Howard Rheingold,
também utilizam o termo "pan-óptico" para designar o controle
exercido pelos controladores dos novos meios de informação sobre os
utilizadores.
O sistema pan-óptico está na base do que Gilles
Deleuze chama sociedade de controle.[5][6]
Em seus últimos textos, Deleuze evoca a "instalação progressiva e dispersa
de um sistema de dominação" de indivíduos e populações, dando origem à
"sociedade de controle". O filósofo toma emprestado o termo
"controle" do escritor William
Burroughs, mas, para formular sua ideia, apoia-se nos trabalhos de Foucault
sobre as "sociedades disciplinares".[7]
Nessas sociedades, que Foucault situa nos séculos XVIII e XIX, e cujo apogeu
ele situa no início do século XX, o indivíduo continua a mover-se de um
"meio de confinamento" para outro: a família, a escola, o exército, a
fábrica, o hospital, a prisão ... Todas essas instituições, das quais a prisão
e a fábrica seriam modelos privilegiados, são igualmente dispositivos propícios
à vigilância, ao esquadrinhamento, ao controle dos indivíduos constituídos como
corpos dóceis, inseridos em "moldes". [8]
Em Portugal
Em Portugal existe um dos raríssimos edifícios
pan-ópticos existentes no mundo (e o único com pátio a descoberto), o Pavilhão
de Segurança do Hospital Miguel Bombarda, (projetado em 1892-1894 e inaugurado
em 1896), dado a conhecer pela aprofundada investigação de Vítor Albuquerque
Freire publicada em 2009, revelando finalidades, plantas, peças e justificação
do projeto original, o autor arquitecto José Maria Nepomuceno, fotografia da
torre panóptica, etc, além de demonstrar o vanguardismo funcional e formal dos
sistemáticos e amplos arredondamentos de arestas, notável linguagem
arquitectónica precursora do modernismo dos anos 1920 e 1930 a nível
internacional.[3]
Além do Pavilhão de Segurança, de Lisboa,
conhecem-se os seguinte outros edifícios panópticos circulares: a penitenciária
de Autun (1856), em França, de André Berthier; as penitenciárias de Breda e
Arnhem (ambas de 1884), na Holanda, do arquitecto Johan Frederik Metzelaar; a
penitenciária de Haarlem (1901), Holanda; a penitenciária de Statesville
(1919), Illinois, EUA, da autoria de C. Harrick Hammond; e a penitenciária da
Ilha dos Pinheiros (1932), em Cuba.
Bentham,
Jeremy (1995). The Panoptic Writings. [S.l.: s.n.]
Definições
da Web
Pan-óptico é um termo utilizado para designar um
centro penitenciário ideal desenhado pelo filósofo Jeremy Bentham em 1785. O
conceito do desenho permite a um vigilante observar todos os prisioneiros sem
que estes possam saber se estão ou não sendo observados...
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