domingo, 30 de abril de 2017

RIO VIOLENTO - O FRACASSO DAS UPPs



“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)
 





MEU COMENTÁRIO



Quem quiser conferir sobre o tema encontrará neste meu Blog minha projeção futura desfavorável ao programa de UPPs desde quando ele se iniciou no Morro Dona Marta. Porém, não inovei ao me posicionar na contramão da euforia estatal e midiática com as UPPs. Nem fui oráculo ou adivinho. Parti apenas da lógica mais corriqueira do policiamento ostensivo voltado para a prevenção como regra e para a repressão como exceção. Sabemos nós, integrantes da PMERJ, que a missão precípua da polícia administrativa de manutenção da ordem pública é a prevenção do crime e da contravenção pela inibição da oportunidade de o delinquente, que sempre existe, praticar seus delitos. Cabe à polícia judiciária (Polícia Civil), dentro desta ótica, e pela investigação dos delitos cometidos, a inibição da vontade de o delinquente praticá-los por temor de ser preso com provas suficientes para condená-lo. Ou seja, tudo se resume a uma equação muito simples, mas que somente funciona se as tarefas de uma e outra polícia forem bem feitas. Como dizia Henry Ford: “Tudo que deve ser feito deve ser bem feito.”

Há uma máxima arquitetural, atribuída a Louis Sullivan, que bem serve ao nosso propósito crítico. Grosso modo, ela seria: “O formato deve seguir a função.” Ou seja, as estruturas (“formato”) devem ser criadas e adaptadas em vista de objetivos claros e precisos (“função”). Nesta linha de raciocínio, é fácil deduzir que a estrutura da PMERJ, embora defasada, atende aos princípios básicos do formato seguindo a função. Por isso seu efetivo, posto em frações espalhadas por todo RJ (Regimento, Batalhões, Companhias, Pelotões, Destacamentos, Unidades Especiais etc.) tem como função precípua a prevenção pela máxima frequência do patrulhamento nas ruas e logradouros que representam os ambientes a serem policiados (ambientes geral, intermediário e de tarefa).

Na ponta da linha (ambiente de tarefa), a prevenção só funciona pela fragmentação máxima do efetivo e por sua dinâmica, que recebe estruturas móveis a lhes dar mais eficiência e eficácia (homens, mulheres, viaturas, motocicletas, lanchas, helicópteros, cavalos etc.). Esses efetivos e os meios materiais, por sua vez, devem ser elásticos, concentrando-se e expandindo-se conforme a necessidade do ambiente considerado. Se for, por exemplo, o policiamento de um jogo de futebol, o ambiente será restrito aos meios de transporte que levam ao estádio e ao policiamento interno e externo do estádio antes, durante e depois do evento, devendo ser imediata a dissolução desta estrutura para dar lugar à de rotina, que prima pelo fracionamento máximo possível do efetivo e sua distribuição no terreno com vistas sempre à prevenção. Ressalve-se que as unidades repressivas da corporação podem também sair de quartéis para prevenir delitos, recolhendo-se após a missão cumprida.

Digamos que a missão precípua da PMERJ, sem discussões colaterais enganadoras, deva ser de natureza geral e a atender a todos os cidadãos concomitantemente. Não se justifica, pois, concentrar efetivos em ambientes específicos (de tarefa) permanentemente. Pois é certo que em assim fazendo faltará efetivo para garantir a ordem pública como rotina em outros ambientes de tarefa. Por isso a PMERJ atua em situações extraordinárias da tropa, e são extraordinárias porque exigem a concentração de efetivos para atender a determinados objetivos que podem ser previstos e aos que surgem do imprevisto, embora situados num cenário em que se sabe previsíveis na maioria dos casos, como os decorrentes de calamidade pública e manifestações de protesto do povo.

Mas uma coisa é certa: não há como instituir policiamento permanente em ambientes específicos, como é caso de milhares de favelas, pois não há efetivo para suprir com eficiência e eficácia lacunas de tamanha envergadura. Daí é que a concentração em UPPs de aproximadamente 30% do efetivo pronto da PMERJ (40 favelas), incluindo os complexos favelados, chega às raias do absurdo. Mas é o que ocorreu e ainda ocorre nesses últimos dez anos em que assistimos ao atual presidiário Sérgio Cabral Filho, na condição de governante, bradar em frente do Complexo do Alemão após uma ação coercitiva da Polícia Civil que culminou com a morte de 19 meliantes, estes, que a mídia deformada por ideologias socialistas denominaram como “suspeitos”: “É enfrentamento mesmo!”

Quem não se lembra desta cena?...

Ora bem, depois de um tempo de “enfrentamento” esse governante agora cliente de presídio por malversações do erário público, tendo de inaugurar uma creche no Morro Dona Marta, e estando aquele ambiente contaminado por uma disputa armada de traficantes para ver quem comandaria ali o comércio de drogas, deu então a ordem de atuação repressiva do 2º BPM para tornar possível a inauguração. E assim foi feito, a PMERJ agiu repressivamente, e as quadrilhas bateram asas. Mas a demora em inaugurar a creche produziu a necessidade de permanência da PMERJ por mais de uma semana, período em que o Morro Dona Marta experimentou a paz. E foi esta paz inusitada que inspirou Beltrame a manter o morro policiado, como ele próprio confessa num livro sobre a sua vida. Ou seja, as UPPs não foram planejadas, o que houve foi a expansão demagógica de um modelo de policiamento bastante conhecido pela PMERJ, mas com outro nome: Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO).

Nome cansativo, carcomido pelo tempo, não poderia servir de símbolo ao sistema preventivo-repressivo que animou as autoridades a guinar do “enfrentamento” para a “pacificação”, o que espertamente foi feito e assim nasceu a teratogenia estrutural denominada UPP. E em apenas 40 ambientes de tarefa, em aviltante discriminação do ambientes geral, que é todo o RJ, que acolhe mais de mil favelas em todo o seu território e não há uma só que não seja dominada por traficantes em número bem maior que os efetivos da PMERJ e da PCERJ juntos; traficantes, aliás, muito mais bem armados com fuzis de última geração do que as duas polícias.

Esta inferioridade da força estatal ante o banditismo foi ainda ampliada pela concentração de 1/3 do seu efetivo pronto para o serviço. Daí ser fácil concluir que os bandidos vencem a batalha urbana que no RJ mata mais policiais, bandidos e cidadãos do que muitas guerras cruentas. Porém, só agora é que os estudiosos assumem isto abertamente, assim como a mídia vem mudando sua postura de apoio incondicional às UPPs. O que há hoje é, sim, o inelutável fracasso de um projeto demagogo e nada mais. Sim, inelutável e indefensável sob a ótica operacional da PMERJ, e pelas razões aqui resumidas, como ainda confirma a matéria do Jornal O GLOBO de hoje, 30 de abril de 2017. E se indaga, para encerrar, lembrando Carlos Drummond de Andrade: “E agora, José?”

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