segunda-feira, 24 de agosto de 2015

RIO EM GUERRA CXXVI

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

Matéria do Jornal EXTRA Digital  de 44 ago 2015


24 ago 2015 Extra Ricardo Rigel Ricardo.rigel@extra.inf.br
UPPs sofrem ataques no Lins e em Copacabana
Quatro carros de PMs foram incendiados na Camarista Méier, na madrugada de ontem. Na Tabajaras, uma viatura foi metralhada.
Policiais de duas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) foram atacados por criminosos, na madrugada de ontem. No primeiro atentado, quatro carros particulares de PMs lotados na UPP Camarista Méier, no Complexo do Lins, foram incendiados. De acordo com moradores, a ação aconteceu após a morte de um traficante durante uma troca de tiros com os agentes da UPP, na madrugada de sexta-feira. Os três veículos ficaram completamente destruídos, e um quarto ficou parcialmente queimado. Na UPP Tabajaras, em Copacabana, uma viatura foi metralhada durante o patrulhamento pela comunidade.


Três dos carros particulares de policiais da UPP Camarista Méier que foram incendiados

Um policial militar que estava de plantão na UPP Camarista Méier, na manhã de ontem, disse ao EXTRA que os carros eram de outros companheiros de farda que estavam dentro da base da unidade no momento do ataque.
De acordo com um morador, que preferiu não se identificar, um grupo de criminosos chegou até os carros por um matagal e conseguiu atear fogo aos veículos sem serem vistos pelos PMs.
— Isso aqui está muito violento. Não temos paz. Estamos perdidos mesmo. Se até os PMs que estão aqui para nos defender estão sendo atacados, imagina o que pode acontecer com a gente. É muito triste tudo isso. Essa UPP não traz segurança nenhuma para quem vive aqui — desabafou.
Em nota, a assessoria de imprensa das UPPs confirmou o ataque e informou que policiais e criminosos entraram em confronto próximo à base, por volta da 1h30m de domingo. O policiamento foi reforçado, e buscas estão sendo realizadas à procura dos suspeitos. O caso foi registrado na 25ª DP (Engenho Novo).

OUTRO ATAQUE

No dia 27 do mês passado, um grupo de traficantes armados arremessou um coquetel molotov na lateral do contêiner que abriga os policiais da UPP Camarista Méier. Houve um princípio de incêndio, que foi logo controlado pelos PMs.


MEU COMENTÁRIO

Se isto não é guerrilha urbana, não sei mais o que poderia ser. Pois a verdade é que a figura do PM atalhando criminosos em ação ou demovendo-os de agir pela presença ostensiva são fatores que compõem a atividade de polícia administrativa de manutenção da ordem pública. Agora, ataque frontal endereçado a PMs aquartelados (sede de UPP é quartel), com uma desenvoltura espantosa, isto é guerrilha urbana a demandar ações operativas. Para tanto, porém, haveria de haver a decretação do Estado de Defesa nessas localidades onde quem deveria manter ou restaurar a ordem, num sistema de normalidade, vem sendo insistentemente atacado, isto é grave perturbação da ordem pública.

A PMERJ é uma instituição que atua segundo princípios constitucionais, legais e doutrinários claros e precisos. Ela é predominantemente preventiva e excepcionalmente repressiva. Mas ela pode ir além desta condição mínima de ação, exatamente quando a situação de paz não está sendo experimentada pela população nem pela instituição que deveria garantir esta paz violada. Esta é uma situação de grave perturbação da ordem pública configurada num quadro de Defesa Interna e não mais de Defesa Pública. Porém, para atuar em missões operativas é indispensável a decretação do Estado de Defesa, isto minimamente. No Brasil, é competência exclusiva da União...

Não é de hoje que a reação do banditismo do tráfico às ocupações de favelas por UPPs está além da normalidade. A começar pelo alto índice de ferimentos e mortes de oficiais e praças, durante os patrulhamentos normais nesses lugares, ou fora deles e do serviço, mas como consequência de os PMs vitimados se integrarem a alguma UPP.

Claro que nada dispensa a ação investigativa da PCERJ. Mas ocorre que estão se avolumando os crimes sem identificação de autoria, o que mais uma vez nos impele a concluir que somente ações operativas poderão alcançar indivíduos a partir da coletividade criminosa a que se integram consciente e ostensivamente. É como se duas forças antagônicas se enfrentassem, cada qual identificada por suas características coletivas, eis que geralmente seus integrantes atuam em grupos maiores ou menores. Portanto, pensar numa resposta apenas de investigação de polícia judiciária depois do mal já perpetrado é enxugar gelo.

É o que a polícia estadual no RJ, representada pela PMERJ e pela PCERJ, mais faz atualmente: enxuga gelo, engarrafa fumaça e recolhe água com peneira...



Nenhum comentário: