terça-feira, 19 de maio de 2015

RIO EM GUERRA LXXI

O sentimento do PM diante das adversidades profissionais

Qual seria, afinal, a real emoção do PM combatente?...





Ora bem, penso nele como ser humano capaz de introjetar sentimentos vários, agradáveis e desagradáveis. Os desagradáveis, claro, decorrem de ofensas morais, diretas ou indiretas, que podem afetar o ser humano e concomitantemente não afetar seu semelhante, tudo é questão de foro íntimo. Exemplo: uma notícia desabonadora de apenas um PM, posta na mídia como se fora de todos. Afeta ou não afeta a coletividade fardada?...

Julgar o PM como se o seu sentimento não fosse parte do problema não me parece justo. Sei, porém, que o julgador é mero expectador, tal como quem aprecia um aquário com peixes coloridos e prateados, admirando-os, mas sem qualquer ideia de que o aquário possa ser uma prisão. Vale também o argumento para os demais bichos que nasceram livres e são engaiolados, para deleite dos que os mantêm presos. Também o PM é facilmente engaiolado...

Não pretendo apelar para o positivismo de Augusto Comte, que defendia “a primazia da emoção sobre o intelecto, do sentimento sobre a racionalidade” no seu “Discurso Preliminar Sobre o espírito Positivo”. Nem quero estabelecer diferenças entre o sentimento masculino e o feminino, lembrando, todavia, que hoje na PMERJ há ambos os sexos fardados. Mas a verdade é que os homens também choram, e amam, tais como as mulheres choram e amam. Portanto, ignorar a prevalência da emoção sobre a razão é se postar alienado da realidade.

O PM trabalha sujeito a muitos danos ao sentimento que a razão tende a não alcançar. E não há medição de suas emoções a não ser nas reações orgânicas que elas causam. O PM, ou o companheiro ao seu lado, ou o distante, seja como for, sente e se ressente de comentários desairosos contra si e contra seus colegas. Também o azar de algum companheiro o afeta porque ele sabe que poderá ser o próximo azarado.

Reflito sobre o tema porque me preocupa qualquer reação da corporação em lugar onde antes algum PM morreu baleado. Geralmente a emoção interfere na ação dos colegas do morto e existe sempre a probabilidade de exageros, assim como os bandidos se preparam para reações mais iradas. Sabem que no peito dos PMs há a ira pela morte do companheiro, prevalecendo esta emoção muitas vezes sobre a razão. E o confronto costuma ser mortal!...

Tudo bem, mas há os civis em meio às emoções exacerbadas e muitas vezes os confrontos culminam com inocentes mortos, inclusive crianças. Por conseguinte, é imperioso ao comandante travar a emoção da tropa nessas ocasiões, o que não é simples, às vezes o comandante é o que mais se emociona por ver um subordinado abatido. E o que deveria ser ação racional se torna emoção desenfreada, formando-se um perigoso círculo vicioso estimulado ainda mais por uma imprensa que sempre cobra com veemência as falhas corporativas, dando espaço ao aspecto mais danoso da azarada reação: “Os PMs foram afastados do serviço, as armas foram recolhidas para exame balístico, o delegado anunciou rigorosa investigação etc.”

Não pretendo discutir esses aspectos. Importa aqui focalizar a emoção da tropa e como evitar que ela suplante a racionalidade. Difícil, muito difícil, o PM emocionado quer combate, seu comandante quer combate, a tropa toda quer combate, e a resposta vem com o azar traduzido por uma criança ferida ou morta, por exemplo. E, passada a emoção, resta o processo-crime, a punição administrativa, a exclusão disciplinar, resposta simples às pressões sem atentar para seus efeitos sobre o acusado e sobre seus companheiros que estavam juntos, mas não tiveram balística positiva. Recai então a culpa de tudo em alguns ou somente em um PM, que logo é sacrificado em benefício dos demais, e se torna mais um ex-PM nas ruas.

Quantos serão ex-PMs porque se emocionaram e perderam a razão?...

Não sei se a corporação se debruça sobre esta questão. Sei, porém, que esses eventos desastrosos se repetem quase que diariamente, em especial na Região Metropolitana do Grande Rio, já que cuido da PMERJ. E o que se observa é a imprudência do contra-ataque quando há PMs feridos ou mortos. E a essas baixas se acrescentam outras, ou por ferimento, ou por morte, ou por encarceramento, ou por exclusão dos quadros da corporação, sendo possível aventar o somatório das duas últimas hipóteses.

Insisto que não sei se a corporação consegue aprofundar o labor de psicólogos para travar a emoção da tropa com o predomínio da razão em situações extremas. Não sei se a PMERJ possui quadro de psicólogos preparados para exercitar uma ação permanente, de natureza preventiva, para evitar o descontrole emocional da tropa. Bem, isto eu não sei, mas leio nos jornais as notícias que me sugerem a vitória da emoção em detrimento da razão. E quanto mais emoção, mais azares...




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