O sentimento do PM diante das
adversidades profissionais
Qual seria,
afinal, a real emoção do PM combatente?...
Ora bem, penso
nele como ser humano capaz de introjetar sentimentos vários, agradáveis e
desagradáveis. Os desagradáveis, claro, decorrem de ofensas morais, diretas ou
indiretas, que podem afetar o ser humano e concomitantemente não afetar seu
semelhante, tudo é questão de foro íntimo. Exemplo: uma notícia desabonadora de
apenas um PM, posta na mídia como se fora de todos. Afeta ou não afeta a coletividade fardada?...
Julgar o PM
como se o seu sentimento não fosse parte do problema não me parece justo. Sei,
porém, que o julgador é mero expectador, tal como quem aprecia um aquário com
peixes coloridos e prateados, admirando-os, mas sem qualquer ideia de que o
aquário possa ser uma prisão. Vale também o argumento para os demais bichos que
nasceram livres e são engaiolados, para deleite dos que os mantêm presos.
Também o PM é facilmente engaiolado...
Não pretendo
apelar para o positivismo de Augusto Comte, que defendia “a primazia da emoção
sobre o intelecto, do sentimento sobre a racionalidade” no seu “Discurso
Preliminar Sobre o espírito Positivo”. Nem quero estabelecer diferenças entre o
sentimento masculino e o feminino, lembrando, todavia, que hoje na PMERJ há
ambos os sexos fardados. Mas a verdade é que os homens também choram, e amam, tais
como as mulheres choram e amam. Portanto, ignorar a prevalência da emoção sobre
a razão é se postar alienado da realidade.
O PM
trabalha sujeito a muitos danos ao sentimento que a razão tende a não alcançar.
E não há medição de suas emoções a não ser nas reações orgânicas que elas
causam. O PM, ou o companheiro ao seu lado, ou o distante, seja como for, sente
e se ressente de comentários desairosos contra si e contra seus colegas. Também
o azar de algum companheiro o afeta porque ele sabe que poderá ser o próximo
azarado.
Reflito
sobre o tema porque me preocupa qualquer reação da corporação em lugar onde
antes algum PM morreu baleado. Geralmente a emoção interfere na ação dos
colegas do morto e existe sempre a probabilidade de exageros, assim como os
bandidos se preparam para reações mais iradas. Sabem que no peito dos PMs há a
ira pela morte do companheiro, prevalecendo esta emoção muitas vezes sobre a
razão. E o confronto costuma ser mortal!...
Tudo bem,
mas há os civis em meio às emoções exacerbadas e muitas vezes os confrontos
culminam com inocentes mortos, inclusive crianças. Por conseguinte, é imperioso
ao comandante travar a emoção da tropa nessas ocasiões, o que não é simples, às
vezes o comandante é o que mais se emociona por ver um subordinado abatido. E o
que deveria ser ação racional se torna emoção desenfreada, formando-se um
perigoso círculo vicioso estimulado ainda mais por uma imprensa que sempre
cobra com veemência as falhas corporativas, dando espaço ao aspecto mais danoso
da azarada reação: “Os PMs foram afastados do serviço, as armas foram
recolhidas para exame balístico, o delegado anunciou rigorosa investigação
etc.”
Não pretendo
discutir esses aspectos. Importa aqui focalizar a emoção da tropa e como evitar
que ela suplante a racionalidade. Difícil, muito difícil, o PM emocionado quer
combate, seu comandante quer combate, a tropa toda quer combate, e a resposta
vem com o azar traduzido por uma criança ferida ou morta, por exemplo. E,
passada a emoção, resta o processo-crime, a punição administrativa, a exclusão
disciplinar, resposta simples às pressões sem atentar para seus efeitos sobre o
acusado e sobre seus companheiros que estavam juntos, mas não tiveram balística
positiva. Recai então a culpa de tudo em alguns ou somente em um PM, que logo é
sacrificado em benefício dos demais, e se torna mais um ex-PM nas ruas.
Quantos
serão ex-PMs porque se emocionaram e perderam a razão?...
Não sei se a
corporação se debruça sobre esta questão. Sei, porém, que esses eventos
desastrosos se repetem quase que diariamente, em especial na Região
Metropolitana do Grande Rio, já que cuido da PMERJ. E o que se observa é a
imprudência do contra-ataque quando há PMs feridos ou mortos. E a essas baixas
se acrescentam outras, ou por ferimento, ou por morte, ou por encarceramento,
ou por exclusão dos quadros da corporação, sendo possível aventar o somatório
das duas últimas hipóteses.
Insisto que
não sei se a corporação consegue aprofundar o labor de psicólogos para travar a
emoção da tropa com o predomínio da razão em situações extremas. Não sei se a
PMERJ possui quadro de psicólogos preparados para exercitar uma ação
permanente, de natureza preventiva, para evitar o descontrole emocional da
tropa. Bem, isto eu não sei, mas leio nos jornais as notícias que me sugerem a
vitória da emoção em detrimento da razão. E quanto mais emoção, mais azares...
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