“O
mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas
por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert
Einstein)
"O DIA ONLINE
19/05/2015
15:21:10 - Atualizada às 19/05/2015 15:34:24
Pesquisa revela que 7% dos policiais militares do Rio pensam em suicídio
Cerca de
20% do efetivo foi ouvido. 'O policial do Rio de Janeiro é estressado, trabalha
longas horas e não dorme', pontuou o sociólogo Ignácio Cano
ATHOS MOURA
Rio - Uma pesquisa que será divulgada pelo
Laboratório de Análises de Violência da Uerj, em parceria com o Universidade de
Stanford, nos Estados Unidos, revela que pelo menos 7% dos policiais militares
do Rio de Janeiro já pensaram em suicídio.
A pesquisa foi baseada em dados de 2014 e ouviu 5
mil PMs de todas as unidades policiais da região Metropolitana do Rio. Ou seja,
cerca de 20% do efetivo. A divulgação preliminar dos dados aconteceu nesta
terça-feira, na Alerj, durante uma audiência pública sobre as violência e
condições de trabalho de policiais do Rio de Janeiro.
Outros dados da pesquisa dão conta de que 57% dos
PMs tiveram disparos feitos em sua direção, 35% dos agentes atiraram em serviço
e 8% foram feridos. Quando se referem a satisfação, 29% dos policiais alegaram
que estão insatisfeitos com a profissão. Já 24% se sentem desrespeitados pela
corporação e 1/3 disse que é desrespeitado pela sociedade.
Segundo o coordenador do estudo, o sociólogo
Ignácio Cano, as causa desses problemas podem ser elencadas através da escala
de trabalho, baixa remuneração, diferença de salários entre praças e oficiais,
baixo status social, alta exposição a confrontos armados, além, da
impossibilidade de sindicalização. De acordo com Cano, os policiais não possuem
uma forma de reivindicação e acabam sendo alvos de punições que estão previstas
no estatuto da PM.
"O policial do Rio de Janeiro é um policial
estressado, que trabalha longas horas, que não dorme o suficiente, que tem
angústia, ansiedade e que muitas vezes faz o uso excessivo da força, em muitas
vezes, em razão disso. Então a gente tem que conseguir melhorar as condições de
trabalho do policial para que ele faça o uso moderado da força", disse.
O sociólogo apontou o regulamento da corporação
como "antidemocrático e autoritário, que priva os policiais de muitos
direitos básicos de expressão". De acordo com Cano, mudanças podem ser
feitas, sem que pra isso haja aumento no orçamento da PM. "Há várias
demandas que são urgentes e não tem custo para o estado. O estado não pode mais
adiar a mudança nas escalas, por exemplo, que são ruins para os policiais e
para a sociedade".
A audiência pública foi convocada pelas comissões
de Direitos Humanos e de Segurança da Alerj. Participaram representantes do
estado, das corporações e familiares de policiais vitimados em serviço. De
acordo com o deputado estadual Marcelo Freixo, presidente da Comissão de
Direitos Humanos, a reunião serviu para ouvir as demandas e encaminhar os
pedidos para os setores competentes.
"Hoje é o dia da escuta, da gente ser capaz de
ouvi-los sobre como estão suas vidas, suas perspectivas e também a sociedade
civil. Queremos tratar da qualidade da segurança pública ouvindo os profissionais
de segurança", contou."
MEU
COMENTÁRIO
Ainda ontem escrevi sobre o sentimento do PM diante
das adversidades profissionais. Hoje deparo com este artigo publicado no Jornal
O DIA ONLINE confirmando minhas impressões nada otimistas.
Não me surpreende!
Passei quase 30 anos na PMERJ, fui soldado e terminei
comandante de unidade operacional. Enfim, convivi com a tropa na base e no topo
da hierarquia. Mais que isto, publiquei romance (O Espião) que descortina esta
grave situação, tentando demonstrar seus porquês.
Não sei mais que falar a não ser lamentar por saber
que nada mudará na PMERJ, ela se encaminha à autodestruição a passos largos,
pior que servindo de referência ruim para o resto do país, já que descortina as
demais PMs, muitas delas em situação igual ou pior que a do Rio de Janeiro.
Creio que me basta citar uma pesquisa feita pelo IBOPE
junto ao Público Interno da PMERJ, em 1983, encomendada pelo então comandante-geral,
Cel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira, em reação a outra pesquisa, encomendada
pelo Sistema Globo, conhecida pelo nome “Rio Contra o Crime”, na qual a
população afirmou em maioria absoluta não confiar na PM. Contudo, o que mais me
espantou foi a pesquisa encomendada ao IBOPE pela corporação, esta, que estava
engavetada na PM.5 (Quinta Seção do EM), onde eu militei como major e
eventualmente a chefiei.
Analisei pergunta por pergunta e suas respostas e me
fixei numa que apresentava resultado espantoso. Indagava do PM, em amostragem significativa,
proporcional aos postos e graduações, o que naturalmente fez predominar o
soldado e o cabo: “Qual a qualidade que você mais admira em seu superior?”
Claro que um segmento entre os pesquisados era feito
de “superiores”, dado suficiente para entender algumas escolhas positivas. Mas
entre muitos adjetivos qualificadores (honestidade, competência, sabedoria,
bondade etc.) havia um que enfeixava as respostas: “Nenhuma”. Sim, nenhuma
qualidade, que alcançou 70% dos entrevistados, ou mais, não me lembro
exatamente.
Com a permissão do comandante-geral, fiz uma inferência
de toda a pesquisa, produzindo comentários relativos a cada indagação e sua
respectiva resposta. O contexto era bastante negativo no que se refere ao
entrosamento entre superiores e subordinados, sublinhando-se a espantosa
proporção de subordinados que negaram aos seus superiores quais quer
qualidades, mesmo que mínimas. Havia nas entrelinhas uma grave doença do espírito
de corpo...
Apresentei o resultado da inferência ao
comandante-geral e lhe pedi permissão para divulgar a todos os comandantes,
chefes e diretores da corporação. Ele permitiu, porém exigindo-me que assinasse
o relatório, deste modo fixando a responsabilidade da inferência tão-somente a
mim. Assinei e enviei. Creio que deve ainda hoje haver exemplares arquivados
nas P.5 (Estados-Maiores das OPM) para confirmação do que ora descortino a
reforçar a matéria, de fonte respeitável, publicada no Jornal O DIA.
Deste modo, encerro o comentário, deixando aos
leitores espaço para reflexão, e quem sabe não seria interessante repetir a
pesquisa, que deve ter cópia no IBOPE, já que foi inédita?... Seria útil
comparar a percepção de 1983 com a de agora. Creio que explicaria bastante a
espantosa conclusão da pesquisa acadêmica que emerge em importante momento
corporativo.
Mas deixo o alerta: ouvir a tropa sobre seus problemas
é perigo à vista para seus recentes gestores. Há, portanto, de se ter muita
coragem para rasgar os atuais tumores institucionais, que são muitos e quiçá
malignos.
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