segunda-feira, 18 de maio de 2015

Matéria publicada no Jornal EXTRA




A violência no mapa do país

Por: Victor Poubel em 


Esta semana, uma pesquisa da UNESCO sobre a violência assustou o país ao revelar que muitos brasileiros estão morrendo por disparos de armas de fogo. Um dado pontual da pesquisa se mostrou horripilante. No período entre 1980 e 2012, morreram mais de 880 mil pessoas vítimas de disparo de algum tipo de arma de fogo. O número de vítimas saltou de 8.710 no ano de 1980, para 42.416 em 2012, numa elevação de 387%. O crescimento foi ainda maior entre jovens de 15 a 29 anos, passando de 4.415 vítimas em 1980, para 24.882 em 2012, ou seja, 463,6% de aumento em 33 anos.

Os mais românticos dizem as armas de fogo foram criadas, em princípio, para facilitar o homem na caça de seus alimentos ou para usar em sua própria defesa. Contudo, é fato que assumiram um status de ferramenta letal, capaz de brutalmente machucar e ceifar vidas. Foi o próprio homem quem descambou seus “nobres fins”, quando utilizou as armas de fogo para enfrentar, intimidar, e guerrear com outros de sua espécie.

Em tempos pretéritos, as batalhas eram disputadas em campos abertos com flechas, lanças e espadas, e por vezes, mediante luta corporal dos homens mais fortes de cada tribo. Com o avanço tecnológico, as batalhas passaram a ser à distância, sem confronto pessoal próximo, cujo vencedor é aquele que possui um maior poderio bélico. A sagacidade e os músculos do guerreiro foram rebaixados de posto.

O nosso Brasil se consolidou pela supremacia da ordem interna e internacional, bem como pela solução pacífica das controvérsias, adotando a postura de nação soberana e de amizade. Temos relações globais harmoniosas com todos os países, especialmente, os vizinhos. Entretanto, vivemos uma batalha diária dentro do território nacional movida pela violência. Em várias partes do país, a insegurança incomoda, existindo guetos infestados de bandidos que adquiriram seu próprio arsenal, de modo ilegal, seja para afrontar a quadrilha rival, facilitar suas ações criminosas, ou enfrentar as forças da lei.

Essas armas de fogo chegam às mãos dos bandidos de várias maneiras, podendo ser por terra, mar e ar, vez que, em sua maioria, procedem de fora do país. Somos um país de dimensões continentais, com extensas fronteiras, portanto, jamais existirão homens em números suficientes para tomar conta de tudo e 24h por dia. É obvio que, o policiamento das fronteiras deve existir e ser firme, assim como de suas estradas. Porém, as investigações já dentro dos estados são de suma importância para a prevenção e repressão, pois, se conseguirem penetrar no país, caberá descobrir como, com que fim, para onde, e para quem foram as armas.

Os poderes constituídos do país devem ser incansáveis na conjugação de esforços para reduzir os impactos da violência. Medidas desconexas, movidas pelo clamor público ou demagogas em nada contribuirão. Qualquer ação ou mudança inovadora deverá se basear em estudos, dados, e realizadas por pensadores do assunto, pois a população deseja bem-estar e paz social, estando impaciente com os erros ou explicações pouco convincentes para justificar insucessos.






MEU COMENTÁRIO

São aterradoras as informações trazidas pelo ilustre Delegado da Polícia Federal Victor Poubel, que eventualmente contribui com sua experiência publicando artigos no Jornal EXTRA.

Sob o impacto das estatísticas, creio que a tendência dos leitores será a de concordar com a tese do desarmamento, petisco mui explorado pelas esquerdas que se enroscam em escândalo no exercício do poder político e na gestão do erário público.

Pretende esta facção, insidiosamente, desarmar a população enquanto aparelha segmentos sociais de natureza nitidamente belicosa que se abraçam no Foro de São Paulo com as FARCs e outros grupos de países avessos à democracia.

Portanto, deve-se acrescentar ao importante argumento do ilustre articulista uma provocação que entendo pertinente: "Quem mata e quem morre no Brasil?"

Sabemos que os confrontos, como o próprio articulista demonstra, se dão mais entre bandidos disputando pontos de venda de drogas. Em meio a este caldo criminoso efervescente se destaca a polícia morrendo e matando, todos envolvidos na mesma "guerra".

Enfim, por mais que o problema pareça geral, ou seja, que a população brasileira esteja "se matando mutuamente", advindo daí o espantoso aumento do número de crimes de sangue, arrisco-me a insinuar que o problema está mais para específico. Não significa ignorar que a matança está disseminada na tessitura social pátria, mas é a mídia que grava a falsa impressão de que existe uma matança generalizada de cidadãos ordeiros. Claro que isto efetivamente ocorre, muita gente ordeira é vítima desta "guerra do tráfico", em especial o cidadão favelado, que já se submete ao terror dos traficantes e à hostilidade da polícia num ambiente em que todos desconfiam de tudo e todos.

Mas que há um foco, não me há dúvida! E também acrescento que o vertiginoso aumento populacional contribui sobremodo para o crescimento da criminalidade em geral e dos crimes de sangue em particular, sobrando ainda um largo espaço para os crimes episódicos e isolados, mas que em somatório se inserem nesta absurda violência contra a pessoa. Sim, apesar de tudo, há um foco, e este é o narcotráfico e suas multifacetadas vertentes criminosas, que estão longe de serem atalhadas pela justiça criminal como um sistema completo e harmonioso, este que, porém, inexiste no Brasil.

O ilustre articulista apresenta o problema de modo tão impactante que é impossível ao leitor ignorá-lo. Sim, o assunto merece máxima reflexão, dada a extensão e a profundidade do seu significado na vida do país. Mas nossa sociedade é clientelista, nosso Estado é interventivo e paternalista, tornando-se ambos (sociedade e estado) expectadores dos peixes que nadam num aquário e se matam entre si. Sim, sim, todos se acham protegidos, não admitem se enfiar no aquário, esquecem-se de que o vidro é fino e a movimentação vertiginosa dos peixes poderá explodir o aquário e inundar o ambiente, afogando-os .

Mas apresentar o problema já é um grande passo, pois, deste modo, ninguém o poderá ignorar. Assim espero, parabenizando o experimentado articulista.

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