Nem sei se
vale o esforço escrever sobre o empenho hercúleo da presidenta para evitar que
um traficante internacional de drogas fosse fuzilado na República da Indonésia. Mas não é esforço supor que o traficante deva
ter logrado êxito muitas vezes em sua prática criminosa usando o artifício de
ser atleta, ou seja, pessoa saudável e do bem. Só que desta vez seu sórdido
comportamento, aliado à incomum audácia de ingressar num país onde o tráfico de
drogas é punido com a morte, deu no que deu: prisão em flagrante, devido
processo legal, condenação, fuzilamento, cremação, pó.
Mas, quem
sabe, a insistência da presidenta baseie-se numa lógica razoável? Afinal, ela governa
uma nação a mais e mais contaminada pelas drogas ilícitas, com uma demanda a
garantir a venda de bilhões de dólares por ano de maconha e cocaína. Porque é
corrente o desenfreado uso de drogas no Brasil, eis que aliado às facilidades
de venda no varejo, o que não precisa detalhar. Mas sobreleva considerar que o
tráfico em si, que é crime hediondo, faz proliferar uma gama de crimes conexos,
com destaque para os crimes de sangue.
Por conta do
comércio ilegal de drogas e do seu inútil combate, – que só faz aumentar o
preço no atacado e no varejo, – são muitos os policiais mortos, assim como são
incontáveis os traficantes e usuários que se autodestroem antes mesmo de serem
alcançados pela repressão policial. Enfim, nada nos permite defender
traficantes, principais responsáveis pela degradação de enorme parcela da
sociedade, desde a ralé que usa crack
aos abastados que consomem as tais “drogas limpas” (cocaína, heroína
etc.). Mas a nossa presidenta, sem mais nada de importante para fazer, dedicou-se
com afinco para evitar a execução dum traficante contumaz. Por quê?...
Bem, talvez ela, – do sopé de sua
reduzidíssima cultura, – tenha imaginado que a República da Indonésia não passe
duma ilhota perdida em meio a um oceano qualquer. Talvez ela não saiba que se
trata de país que ocupa o 18º lugar na economia mundial e que sofreu muitos horrores
no passado, inclusive o pior deles: a colonização holandesa (não por acaso os
indonésios fuzilaram e torraram também um holandês). Talvez a presidenta
desconheça que a República da Indonésia conquistou sua independência ao custo
de muitas perdas, e se hoje é um país equilibrado é porque possui leis
rigorosas contra a corrupção, que lá é também punida com a pena de morte. E
como aqui é o contrário, como aqui se vivencia um momento em que “bandido bom é
bandido vivo e policial bom é policial morto”, talvez por isso ela tenha
encenado sua opereta para agradar malfeitores. Talvez ainda ela tenha tomado
esta atitude porque expressivo percentual da mídia pátria gosta de defender bandidos e execrar
policiais.
Ah, são
muitas as motivações da presidenta que poderíamos aqui especular, já que seu
comportamento foi insólito. Melhor seria se ela focalizasse a mãe da menininha
que saía do restaurante em Bangu e foi ao solo com um tiro fatal na cabeça, com
a mãe pensando que sua filha apenas tropeçara. Não! Não tropeçara, não! Ela
fora abatida por um balaço que decerto tem relação com o tráfico de drogas e
com a criminalidade que grassa como peste o Rio de Janeiro e o Brasil. Mas,
nesse andar da carruagem, imaginar que a presidenta vá derramar lágrimas pela
criança brasileira que teve a sua vida interrompida pela violência do tráfico,
é pura veleidade. Bom mesmo para ela é defender o traficante e ocupar o cenário
internacional como “boazinha”. Ou então é mais uma prova de ignorância mesmo!
Ou seria uma espécie de apologia ao tráfico de drogas dissimulada em gesto
humanitário?... Não! Não deve ser! Ela não tentou salvar o traficante, é tudo
sonho meu!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário