“O mundo
está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por
causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)
Com destaque para a Região Metropolitana do Grande Rio
e mais ainda para a Capital, os conflitos bélicos no RJ situam-se entre os mais
violentos do planeta, talvez se lhes podendo comparar com as guerras tribais no
Continente Africano. Todavia, aqueles conflitos bélicos diferenciam-se das
guerras e revoluções africanas por suas motivações. Enquanto na África os
motivos são religiosos e étnicos, passando também por interesses econômicos, no
RJ a motivação é comum e resumida aos lucros do tráfico.
Não é caso aqui de esmiuçar a grave e histórica
questão africana, mas demonstrar que os efeitos colaterais da guerra do tráfico
são terríveis nos dias de hoje, e só não ocupam o interesse maior da sociedade
porque as vítimas são, em maioria, dos lugares periféricos e pauperizados.
Deste modo, não vemos nenhum grã-fino (ou grã-fina) atingido por bala perdida,
isto é fado de pobre e favelado.
Neste ambiente social apinhado de conflitos armados
situa-se entre os fogos a maior parcela da população, que, além de se ver
atingida por todos os raios (péssima saúde pública, péssimo sistema
educacional, enfim, serviços públicos de péssima qualidade), é também afetada
por balas perdidas sem saber quem aperta o gatilho e de onde o faz. E, se não
bastasse, a própria polícia cuida de aumentar o número de vítimas fatais em
virtude de ações desastradas, que, curiosamente, culminam trancafiando rotos
por terem inadvertidamente atingido esfarrapados. Ou intencionalmente, mesmo,
fato raro ou inexistente nas regiões mais abastadas do RJ. No fim de contas, a
polícia respeita e reverencia a elite...
Por sinal, são as praias situadas nestas regiões que
recebem maior atenção da mídia e, consequentemente, dos dirigentes políticos e
da polícia. Exemplos recentes de balas perdidas matando e ferindo crianças e
adultos abundam nas crônicas policiais, assim como chamam atenção os
arrastões em praias da Zona Sul da Capital, mobilizando a polícia em grandes
concentrações enquanto os tiroteios entre traficantes em disputas de
territórios produzem vítimas fatais em série, cabendo ao poder público recolher
os mortos e à polícia a sua presença indefectivelmente retardatária, nem
preventiva nem repressiva, apenas de postando para fotos e assim acusando sua
presença tardia.
O foco desta violência sem limites é, sem dúvida, o
lucrativo tráfico de drogas, cuja capacidade de reposição de seus “soldados”
está garantida pela imobilidade social, lacuna que o Estado brasileiro está
longe de preencher o progresso que é prometido em campanhas eleitorais e jamais
concretizado. Daí é que a enxurrada de usuários, proporcional ao aumento
populacional, garante a enxurrada de drogas no atacado e no varejo e produz uma
enxurrada de jovens traficantes adrede envolvidos pelo tráfico pela via do
vício. E não lhes faltam boas armas de guerra, fuzis de todas as marcas e
procedências, que também chegam à ponta da linha do tráfico tais como as
drogas: facilmente.
O desfecho diário deste cenário de guerra tem sido
genocida, mas parece que não afeta a mídia como deveria nem as camadas
pensantes da sociedade, que se limitam a discursar contra a polícia, em
especial contra a PM, em vista dos seus inúmeros desastres a também vitimar
inocentes, além de eliminar a tiros um punhado de traficantes, o que não afeta
em nada esta guerra insana, a reposição
de PMs é tão rápida quanto a do tráfico e o manancial é o mesmo: rotos e
esfarrapados nascidos e criados no mesmo ambiente e separados apenas por um
linha tênue, um nada, um detalhe, mas que não vem ao caso, todos são frutos da
árvore denominada imobilidade social, caídos ao chão para apodrecerem ao léu.
Em meio a esta aflitiva situação surgem as “teses”
enviesadas e pontuais tais como “enfrentamento direto”, “descriminalização do
uso de drogas”, “maior severidade punitiva”, “diminuição da maioridade penal”
etc. Mas não se vê ninguém defendendo um melhor sistema prisional, só como
exemplo, ou propondo um sistema nacional de segurança pública abrangendo
conceitos reais e congregando organismos públicos e particulares numa solução
estratégica que reflita nos demais níveis (tático e operacional) uma concretude
visível e compreensível em relação ao crime.
Em contrário, o Estado assume sua leniência
remunerando condenados, ou seja, estimulando indiretamente o crime por meio da
farta distribuição de dinheiro público. Deste modo, políticos e burocratas
garantem o voto da família dos milhares de apenados, formando-se uma espécie de
“gueto eleitoral” nesta sociedade historicamente partida entre ricos e pobres,
ou, respectivamente entre brancos e negros... E assim todos ganham tempo e
poder e nada efetivamente muda, o cenário da guerra se repete por décadas,
somente variando em quantidade pela óbvia razão do aumento populacional. E
assim também o Brasil se encaminha ao caos, enquanto esbanja cosméticos em
programas miraculosos de “pacificação”.
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