terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A guerra do tráfico no RJ




 “O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

Com destaque para a Região Metropolitana do Grande Rio e mais ainda para a Capital, os conflitos bélicos no RJ situam-se entre os mais violentos do planeta, talvez se lhes podendo comparar com as guerras tribais no Continente Africano. Todavia, aqueles conflitos bélicos diferenciam-se das guerras e revoluções africanas por suas motivações. Enquanto na África os motivos são religiosos e étnicos, passando também por interesses econômicos, no RJ a motivação é comum e resumida aos lucros do tráfico.

Não é caso aqui de esmiuçar a grave e histórica questão africana, mas demonstrar que os efeitos colaterais da guerra do tráfico são terríveis nos dias de hoje, e só não ocupam o interesse maior da sociedade porque as vítimas são, em maioria, dos lugares periféricos e pauperizados. Deste modo, não vemos nenhum grã-fino (ou grã-fina) atingido por bala perdida, isto é fado de pobre e favelado.

Neste ambiente social apinhado de conflitos armados situa-se entre os fogos a maior parcela da população, que, além de se ver atingida por todos os raios (péssima saúde pública, péssimo sistema educacional, enfim, serviços públicos de péssima qualidade), é também afetada por balas perdidas sem saber quem aperta o gatilho e de onde o faz. E, se não bastasse, a própria polícia cuida de aumentar o número de vítimas fatais em virtude de ações desastradas, que, curiosamente, culminam trancafiando rotos por terem inadvertidamente atingido esfarrapados. Ou intencionalmente, mesmo, fato raro ou inexistente nas regiões mais abastadas do RJ. No fim de contas, a polícia respeita e reverencia a elite...

Por sinal, são as praias situadas nestas regiões que recebem maior atenção da mídia e, consequentemente, dos dirigentes políticos e da polícia. Exemplos recentes de balas perdidas matando e ferindo crianças e adultos abundam nas crônicas policiais, assim como chamam atenção os arrastões em praias da Zona Sul da Capital, mobilizando a polícia em grandes concentrações enquanto os tiroteios entre traficantes em disputas de territórios produzem vítimas fatais em série, cabendo ao poder público recolher os mortos e à polícia a sua presença indefectivelmente retardatária, nem preventiva nem repressiva, apenas de postando para fotos e assim acusando sua presença tardia.

O foco desta violência sem limites é, sem dúvida, o lucrativo tráfico de drogas, cuja capacidade de reposição de seus “soldados” está garantida pela imobilidade social, lacuna que o Estado brasileiro está longe de preencher o progresso que é prometido em campanhas eleitorais e jamais concretizado. Daí é que a enxurrada de usuários, proporcional ao aumento populacional, garante a enxurrada de drogas no atacado e no varejo e produz uma enxurrada de jovens traficantes adrede envolvidos pelo tráfico pela via do vício. E não lhes faltam boas armas de guerra, fuzis de todas as marcas e procedências, que também chegam à ponta da linha do tráfico tais como as drogas: facilmente.

O desfecho diário deste cenário de guerra tem sido genocida, mas parece que não afeta a mídia como deveria nem as camadas pensantes da sociedade, que se limitam a discursar contra a polícia, em especial contra a PM, em vista dos seus inúmeros desastres a também vitimar inocentes, além de eliminar a tiros um punhado de traficantes, o que não afeta em nada  esta guerra insana, a reposição de PMs é tão rápida quanto a do tráfico e o manancial é o mesmo: rotos e esfarrapados nascidos e criados no mesmo ambiente e separados apenas por um linha tênue, um nada, um detalhe, mas que não vem ao caso, todos são frutos da árvore denominada imobilidade social, caídos ao chão para apodrecerem ao léu.

Em meio a esta aflitiva situação surgem as “teses” enviesadas e pontuais tais como “enfrentamento direto”, “descriminalização do uso de drogas”, “maior severidade punitiva”, “diminuição da maioridade penal” etc. Mas não se vê ninguém defendendo um melhor sistema prisional, só como exemplo, ou propondo um sistema nacional de segurança pública abrangendo conceitos reais e congregando organismos públicos e particulares numa solução estratégica que reflita nos demais níveis (tático e operacional) uma concretude visível e compreensível em relação ao crime.

Em contrário, o Estado assume sua leniência remunerando condenados, ou seja, estimulando indiretamente o crime por meio da farta distribuição de dinheiro público. Deste modo, políticos e burocratas garantem o voto da família dos milhares de apenados, formando-se uma espécie de “gueto eleitoral” nesta sociedade historicamente partida entre ricos e pobres, ou, respectivamente entre brancos e negros... E assim todos ganham tempo e poder e nada efetivamente muda, o cenário da guerra se repete por décadas, somente variando em quantidade pela óbvia razão do aumento populacional. E assim também o Brasil se encaminha ao caos, enquanto esbanja cosméticos em programas miraculosos de “pacificação”.


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