quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sobre o respeito ao “Outro”


"Ser-Outro é mandamento, é apelo à responsabilidade. É minha responsabilidade perante a face que me olha.” (Monsenhor Juvenal Arduini)

Aos 65 anos de idade, habituado a caminhar entre ideologias multivariadas exercitando o mesmo poder estatal, pude concluir que muitas situações lhe são comuns. Por exemplo, um tirano só se eterniza em sua tirania se dispuser de força subserviente a sustentá-la. Sem os apegados ao poder o tirano jamais existiria. Mas, infelizmente, o poder é piramidal por natureza e ditatorial por vocação, não importando sua ideologia. E pior, tende a se escudar na subalternidade dos seus agentes, sejam públicos ou privados. E quanto mais servil é o povo, mais tirano é o Estado e seus burocratas. Não importa se eleitos democraticamente, pois aqui o prefixo “demo” tem o sentido predominante de demoníaco e não de demografia ou povo livre. Porque, alçado ao poder pelo voto majoritário ou proporcional, os políticos tendem a não respeitar nada e ninguém, apoiados no servilismo dos servidores públicos a venderem a alma em troca duma lasquinha de poder. E os servidores públicos, em vez de servirem ao Outro, tornam-se igualmente despóticos e se servem a si mesmos...
Este sistema de pressão de cima para baixo, ou de opressão, que melhor fica, tornou-se moda no RJ em razão do atual governante. Acresce ao seu linguajar imoderado, ofensivo e indefectivelmente chulo a gravitação de abominável subalternidade no seu entorno, tal como um sistema planetário em que ele é o “Rei-sol”... Por sua vez, esses servis agentes públicos, arraigados ao poder que temporariamente exercem e querem eternizar, tornam-se tiranos ainda piores. Usam e abusam da força bruta, apelam para o muque contido na subjetividade das leis tacanhas para silenciar a maioria e fazê-la sofrer como o boi na fila do matadouro, demonstrando assim total desrespeito ao Outro.
Impressionante a insensibilidade desses servidores de si próprios e não do Outro; incrível a caradura deles, a ponto de entenderem que o resto do mundo é covarde e submisso. E com este ignominioso pensamento eles seguem atropelando virtudes em favor de suas vaidades e de outros interesses menos nobres. E, nesse torvelinho de arrogância, não se preocupam nem mesmo com o destino de jovens e crianças (o “Outro”). Estão, sim, mais preocupados em rapinar tudo e todos em nome duma impudente subserviência a qualquer maníaco porventura vencedor de eleição “democrática”, entre aspas porque o “demo” do vocábulo, reitero, só pode ser parte do demônio.
Onde esses subservientes pensam que estão? Pensam que manterão encostados na parede todos os afligidos por seus deslizes e desmandos? Acham que todos os rabos se enfiarão por entre as pernas diante da arrogância deles, sempre e sempre?... Não! Não será assim! Alguma coisa há de acontecer para despertar a imensa maioria massacrada por decisões absurdas e/ou intimidadas por armas apontadas ao peito.
Às vezes a morte é preferível a aceitar passivamente o absurdo, especialmente se decretado contra crianças. Ora, crianças têm refúgio na ética, têm escudo na lei, na moral e nos costumes! Não podem ser menoscabadas por adultos irresponsáveis ao máximo despudor. Não! Desta vez não! Os subservientes que se preparem, pois nenhuma ameaça nem arma calará a voz daqueles que são livres e almejam o melhor para as crianças! Sim, sim! Eles existem, não morreram, amam a liberdade e estão prontos para defender o “Outro-indefeso” (as crianças). Porque eles, embora alquebrados fisicamente, estão fortes em espírito e muito ainda percorrerão em altivez a trilha da esperança:
“Caminhar é assumir a vida, e crescer historicamente. [...] Enquanto o homem estiver caminhando, há sempre esperança. Pois, a grandeza do homem não está em partir ou chegar, mas em manter-se na estrada.” (Arduini, Juvenal, 1977, p. 177)

2 comentários:

Paulo Xavier disse...

Há horas que dá vontade de gritar, de botar "a boca no trombone" como diz uma gíria antiga, mas outro ditado antigo diz que "seguro morreu de velho" e na dúvida é melhor ir com cautela, pois não sabemos até onde vai a audácia e a covardia dessa gente.
As denúncias de corrupção partem e chegam de tudo que é lado e parece que há uma tendência ao conformismo por parte do povo, que uns chamam de "boiada" outros de "rebanho".
Esta semana vimos uma senhora pobre, moradora da periferia, dar à luz um bebê no meio da rua. No mesmo jornal mostrava dezenas de ambulâncias seminovas paradas, quebradas, aguardando conserto. Percebe-se que tem muita coisa errada, mas parece que o pior delas, ou o mais difícil é o conserto de caráter.
Creio em Deus e também na sua justiça, que se fará no seu devido tempo; creio também que muita gente vai pagar alto preço, cada tostão tirado, meu, seu, do povo.
A história nos conta que determinados Faraós mandavam construir cofres nos seus sarcófagos, onde depositavam todas as riquezas e tesouros para usufruirem na eternidade.
Pelo que se ouve falar por aí, para muita gente vai faltar espaço para esconder aquilo que foi surrupiado do povo.

Débora Nascimento disse...

" Trouxeram-lhe, então ,algumas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse; mas os discípulos os repreendiam.
Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus.
E tendo-lhes imposto as mãos,retirou-se dali".
( Mateus 19.13-15 )

Não é de hoje que os direitos das crianças são violados. Parece que para alguns o "impor as mãos" é literal.
Parabéns pela indignação!