terça-feira, 2 de agosto de 2011

UPPs: um mito que se desfaz?




Fonte: Jornal O Dia de 02 de agosto de 2011




A sucessão de acontecimentos criminosos em localidades guarnecidas por UPP, ou com elas relacionados, têm jorrado uma espécie de luz de alerta sobre o secretário de segurança pública, que, por sua vez, não está se esquivando. Ao contrário, ele vem inclusive alertando para as dificuldades, de modo que outros organismos estatais acordem para a tão propalada e até agora protelada “invasão social”. Ao admitir as falhas do sistema UPP, o secretário não as desmerece, apenas aceita-as e busca soluções com o emprego de outros meios, como no caso do assalto em Santa Tereza, local ocupado por UPP que não evitou um assalto em hotel.
Quem conhece a missão da PMERJ sabe que ela não inibe vontade (resultante de investigação criminal mais afeta à PCERJ), mas se limita à inibição da oportunidade de os delinquentes contumazes agirem ante a presença ostensiva do policiamento. É óbvio que os bandidos têm mais chance de avistar a PM do que o inverso, o que limita a eficácia o policiamento ostensivo. Por outro lado, em sendo a PMERJ comunicada a tempo, é-lhe possível atalhar criminosos em flagrante, sendo deveras importante, neste caso, a proximidade do policiamento e, principalmente, o apoio da população ligando para o telefone 190.
Os olhos dos cidadãos e seu interesse em acionar a polícia são indispensáveis à excelência do patrulhamento ostensivo, assim como as câmeras instaladas no ambiente policiado, monitorando a movimentação das pessoas, complementam sobremodo o sistema de vigilância no sentido de prevenir o crime ou atalhá-lo imediatamente. Falhando esse sistema de colaboração (hoje ainda mais prejudicado pelo absurdo modo de atendimento do telefone 190, como se os operadores, terceirizados, lidassem com clientes de cartão de crédito, assim retardando as providências policiais), resta à Polícia Civil investigar o fato criminoso, recolher provas de autoria e culpa, culminado por singularizar os autores e culpados para a devida punição pela Justiça. Não havendo esta sequência, não devemos esperar por nada além de milagres.
Tenta o editorial em comento “tapar o sol com a peneira”, incorrendo, porém, no mais gritante “ato falho” que denuncio faz tempo: o interesse maior do Sistema Globo com as Olimpíadas e a Copa do Mundo. Há, portanto, certa dúvida quanto à natureza objetiva das UPPs. Que são bem-sucedidas, não há dúvida!... Por enquanto... Mas que atendem prioritariamente a interesses financeiros também não se há de negar. Daí, talvez, a opinião do Sistema Globo a tentar convencer os leitores societários da alta roda das finanças pátrias e alienígenas de que tudo vai bem. Ora, é claro que a repercussão de uma opinião como a destacada é maior que um punhado de notícias apontando fatos criminosos graves em localidades com UPPs...
Tornarei a abordar o assunto em outro texto para demonstrar que o crime é mais poderoso que o marketing a desmerecer sua extensão e sua gravidade no atual momento. Assim o farei para alertar, sem, entretanto, me prender a um pensamento derrotista. No fim de contas, penso que a PMERJ não pode arcar com um futuro insucesso ou com a responsabilidade de isoladamente explicar as razões de escolha dos locais onde as UPPs foram instaladas, com a ressalva de que o Complexo do Alemão representa por inteiro a complexidade do crime a que me refiro. Porque não é fácil sua manutenção em níveis toleráveis nas favelas fluminenses (não apenas cariocas) há muito tempo dominadas por traficantes fortemente armados e com elevada mobilidade no ambiente social, demais de acobertados pelo anonimato e pela impunidade neste país com excesso de leis inúteis e de cascatas a ludibriar o contribuinte.

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