quinta-feira, 21 de julho de 2011

Quem matou Juan?


Fonte: O Globo de 21 de julho de 2011






“Estou sendo condenado por crer em deuses em vez de crer em deuses.”




(Sócrates).






Respondida a pergunta pelo rápido apontamento dos autores e culpados em mais um “castigo-espetáculo”, para delírio dos abastados senhores feudais e aclamação pela plebe misérrima (como nos tempos remotos), dever-se-ia indagar em seguida: “Por que Juan morreu?”



A primeira resposta seria a de que ele nasceu em lugar errado: numa favela situada na periferia da “Cidade Maravilhosa”. A segunda poderia se prender ao tempo: os dias de hoje, da violência desbragada vitimizando sempre a base da pirâmide social, com os “de cima” esfregando as mãos em contentamento porque assim suas responsabilidades maiores serão engolfadas pelas menores, como sempre ocorreu e ocorrerá na História da Humanidade.



Tal situação lembra-me um rei comandando de um ponto seguro suas tropas em pleno corpo a corpo com o inimigo. Súbito, ele ordena o disparo dos arqueiros contra os contendores (amigos e inimigos) embolados em luta sanguinolenta. Atalhado por seu general de campo com a ponderação de que a chuva de flechas mataria concomitantemente seus próprios soldados, o rei singelamente lhe respondeu que não havia problema, pois os inimigos morreriam, e era só o que lhe interessava.



Muitas outras respostas se deveriam vincular ao motivo da morte do menino favelado, espécie de “castigo-espetáculo-social” da miséria total ainda acrescida de máxima violência, situação calamitosa, desesperadora, absurda, que não compete à polícia solucionar. Nem mesmo o tráfico de drogas instalado nas favelas escapa deste campo dos porquês destinado ao andar de cima da pirâmide social. Afinal, a droga vem de longe, cruzando fronteiras continentais, assim como as armas letais chegam às mãos dos rotos policiais com a mesma facilidade com que alcançam as mãos dos esfarrapados marginais.



Ah, tudo farinha do mesmo saco a pintar com tinta vermelha o cenário de violência urbana em que o menino Juan é apenas mais um dentre muitos que igualmente se foram e continuarão indo desta vida por conta do mesmo processo de vitimização: pela fome, pela deseducação, pelas doenças e por tiros de fuzil. Não importa se disparados por policiais atuando em tempo e lugar errados mediante ordem do sistema como aquelas flechas loucas do insensível rei...

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