sábado, 21 de novembro de 2015

RIO EM GUERRA – A REALIDADE ATUAL DAS UPPs



 O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

20 nov 2015 - O Globo - LUIZ ERNESTO MAGALHÃES - luiz.magalhaes@oglobo.com.br

Não haverá expansão de UPPs antes dos Jogos, diz Beltrame

Conclusão de projeto na Maré está garantida, mas Chapadão, Costa Barros e Pedreira vão ter de esperar

Em uma entrevista coletiva para correspondentes estrangeiros, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou ontem que o programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não chegará às comunidades do Chapadão, da Pedreira e de Costa Barros antes das Olimpíadas de agosto do ano que vem. Por outro lado, ele disse que, “até fevereiro ou março”, estará concluída a implantação do projeto no Complexo da Maré, que terá quatro UPPs.

— Seria uma leviandade da minha parte dizer que a falta de recursos no Rio e no Brasil não atingirá a Secretaria de Segurança. Ampliar o programa das UPPs na atual conjuntura é muito difícil — disse o secretário.

Beltrame ressaltou que não há previsão de ampliação de recursos do estado para a segurança pública em 2016. No entanto, ele espera que a União libere verbas para sua pasta por conta da realização dos Jogos. Sobre um eventual aumento de risco de ações terroristas após os atentados de Paris, o secretário destacou que, até agora, não houve qualquer orientação do governo federal para alteração do esquema planejado para as Olimpíadas.

De acordo com Beltrame, a Polícia Rodoviária Federal vai assumir o patrulhamento das vias expressas da Região Metropolitana — Avenida Brasil e linhas Vermelha e Amarela. Ainda segundo ele, está sendo negociado um acordo de cooperação com autoridades do Japão: policiais daquele país poderão ajudar PMs a vigiar algumas áreas turísticas do Rio.

PROBLEMA É MINIMIZADO

Beltrame minimizou o recrudescimento da violência em áreas de UPPs. Esta semana, o Instituto de Segurança Pública divulgou que, nessas regiões, os casos de letalidade violenta aumentaram 55,3% no primeiro semestre de 2015, em comparação com o mesmo período de 2014.

— Temos UPPs, como as da Tijuca, do Vidigal e da Cidade de Deus, que estão muito bem. O programa enfrenta problemas em áreas muito densas, que cresceram de forma desordenadas. Mesmo assim, muita coisa mudou. Antes, não se entrava nessas comunidades sem pedir autorização ao tráfico — disse Beltrame.


OUTRA MATÉRIA:

20 nov 2015 – Extra - Paolla Serra paolla.serra@extra.inf.br

 

PM DO RIO NÃO MATA TANTO DESDE 2010

 

Número de mortes em confrontos dispara e chega a 569 só este ano. Comandante Pinheiro Neto diz que havia desequilíbrio no processo de pacificação quando assumiu, em janeiro.

 

Os policiais do Estado do Rio mataram em confrontos, este ano, quase duas pessoas por dia, em média. De janeiro a outubro, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) divulgados ontem, foram 569 homicídios decorrentes de intervenção policial (os antigos autos de resistência) — o maior número desde 2010, quando foram registrados 698 casos. O índice é 18% maior do que o de 2014, e 66% acima do índice de 2013.


FABIANO ROCHA Pinheiro Neto (à direita) e Robson Silva, durante a audiência da CPI dos Autos de Resistência

Ouvido na manhã desta quinta-feira na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), durante a CPI dos Autos de Resistência, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Alberto Pinheiro Neto, alegou que errar é humano e, como humanos que são, os PMs são passíveis de erro. De acordo com o oficial, é preciso, entretanto, identificar o erro para, assim, evitá-lo e melhorar a gestão.

Pinheiro Neto também afirmou ter encontrado uma situação crítica nas UPPs ao assumir o cargo, em janeiro deste ano:

— Nós encontramos, em 2015, um sistema (de UPP) quase em colapso e havia possibilidade de perdê-lo. Havia desequilíbrio no processo de pacificação e nas operações policiais. Tivemos que reorganizar tudo e já deu resultado.

O coronel alegou que a corporação tem dificuldade em mapear os autos de resistência envolvendo os PMs devido à restrição que há na Lei Estadual 5.061, que proíbe o acesso da PM aos registros de ocorrência feitos pela Polícia Civil, e também pela falta de tecnologia.



Segundo Pinheiro Neto, há desde 2010 uma estimativa de gasto para implantar uma rede de tecnologia pelo valor de R$ 262 milhões, mais R$ 50 milhões por ano para manutenção. A verba depende de investimentos a serem feitos pela Secretaria de Segurança.

MEU COMENTÁRIO

Há um preocupante descompasso entre o discurso do comandante da PMERJ, que demonstra claramente necessitar de oxigênio, e o do SSP Beltrame, que insiste em tornar o ar ainda mais rarefeito antes de sua completa restauração. O primeiro disse na CPI dos Autos de Resistência que encontrou as UPPs quase que em colapso, e que estaria enfrentando o inesperado problema exatamente neste período em que comanda a PMERJ, situação contraditória, embora seu discurso aponte para o otimismo. Honestamente, não sei como... Mas, enfim, o Cel Pinheiro Neto empurrou para trás a inegável entropia do sistema de UPPs que ora tenta salvar, enquanto Beltrame insiste em avançar com sua tropa na Maré, como os exércitos de Napoleão na Rússia, apenas adiando outros projetos de implantação de UPPs em lugares por sinal bastante conturbados. Aliás, como todos os lugares favelados do RJ, com o sem UPPs...

Ao lado de tão tamanhão problema de falta de recursos no âmbito do Estado, até mesmo para honrar compromissos salariais dos servidores públicos, fica difícil sustentar um discurso otimista, quanto mais pô-lo em prática. A par disso, falta pouco mais de um mês para a política ocupar o cenário principal, sendo a CPI dos Autos de Resistência uma prova de que as esquerdas não perderão nenhuma chance eleitoral. Do outro lado, porém, está uma suposta esquerda claudicante e envolvida até o pescoço em denúncias nacionais e locais de corrupção, incluindo os escândalos internos da PMERJ estranhamente silenciados.

Bem, não podemos encerrar o ano em pessimismo. Pelo menos o atual governante não esconde o jogo e fala claro sobre as dificuldades financeiras e orçamentárias que enfrenta garbosamente, estas que, tais como as do Comandante Pinheiro Neto e as do SSP Beltrame, não são de agora e se prendem à falta de dinheiro. Nada demais, é assim num sistema que é tocado a dinheiro, e é aqui que o povo deveria saber que a briosa não desiste de proteger a sociedade ordeira e combater os facínoras mesmo sem dinheiro no bolso, com pouca gasolina nas viaturas, poucas munições nas armas, como sempre, aliás...

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