"A ordem pública periga onde não se castiga." (Marquês de Maricá)
CASOS DE
POLÍCIA - EXTRA
Publicado
em 18/11/15 06:00 Atualizado em 18/11/15 07:30
Quase um terço do efetivo
de UPPs tem distúrbios psicológicos
RIO — Encurralado por traficantes, o policial
militar X. pensou que ia morrer. Foi em dezembro do ano passado, durante um
confronto numa das 38 favelas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do
Rio. Até hoje, ele, que viu três colegas serem baleados, sofre por causa do
episódio. Depois de seis meses afastado, X. voltou ao trabalho, mas só
desempenha tarefas administrativas, pois segue em tratamento psicológico e não
pode portar uma arma. É uma situação comum na corporação: com base em uma
pesquisa que constatou distúrbios psicológicos em 29% da tropa da UPP Nova
Brasília, no Complexo do Alemão, o comando geral da PM estima que o problema
atinja a mesma proporção — quase um terço — do efetivo que atua nas áreas em
processo de pacificação.
— Estamos preocupados com os nossos policiais.
Precisamos detectar o que está causando esse estresse pós-traumático e,
principalmente, tratá-los — afirma o comandante-geral da PM, coronel Alberto
Pinheiro Neto.
O GLOBO teve acesso à pesquisa um dia depois de o
Instituto de Segurança Pública divulgar que, numa comparação entre os primeiros
semestres deste ano e de 2014, houve um aumento de 55% no índice de mortes
violentas em áreas com UPPs. Nas entrevistas com os policiais, foram feitas 20 perguntas
elaboradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os sintomas mais comuns
relatados no questionário foram “sensação de nervoso”, “tensão” e
“preocupação”, além de dificuldade para dormir e realizar as atividades diárias
com satisfação.
A pesquisa também foi feita em três batalhões: o 7º
BPM (São Gonçalo), o 9º BPM (Rocha Miranda) e o 41º BPM (Irajá). Na área de
Rocha Miranda, o percentual de policiais com “sofrimento mental” (que inclui
sete ou mais sintomas de distúrbios psicológicos) foi maior do que na UPP —
chegou a 32%. Mas, nos outros dois batalhões, ficou abaixo do registrado na
unidade de Nova Brasília: 21% em São Gonçalo e 27% na região de Irajá.
As entrevistas estão sendo realizadas em outras
regiões consideradas críticas, chamadas de “áreas vermelhas”, como o Morro do
Alemão e o Parque Proletário, no Complexo da Penha.
— O policial pode ser vítima dele mesmo por estar
fragilizado, passando por algum problema psicológico. Seu erro pode atingir a
família e a sociedade. A corporação quer dividir a responsabilidade com ele.
Por isso, estamos fazendo essa pesquisa, para conhecer as condições dos nossos
policiais.
Outra notícia:
19 nov 2015 - EXTRA
MP recusa inquérito da Divisão de Homicídios
Para promotor, investigação que inocentou PMs por morte de menor está cheia de falhas.
O promotor Homero das Neves contestou o resultado de um
inquérito da Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil e, contrariando um
parecer do diretor da especializada, delegado Rivaldo Barbosa, denunciou um PM
pela morte do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, ocorrida no dia 2 de abril
no Complexo do Alemão. Em entrevista exibida ontem pelo “Jornal Nacional”, da
Rede Globo, o representante do Ministério Público estadual disse que há várias
contradições na investigação policial e afirmou que o caso precisa ser levado a
júri popular.
REPRODUÇÃO Foto
da reprodução simulada mostra onde Eduardo (B) estava
No chamado Relatório de Local de Homicídio (RLH), feito no dia do crime, a
polícia afirma que não foram apreendidos estojos, cápsulas de bala, ou qualquer
outro material que indicasse a ocorrência de um confronto segundo Barbosa,
Eduardo foi baleado por um PM que reagiu a um ataque de traficantes. Mas um laudo
entregue seis dias depois diz que foram encontrados próximos ao local três
estojos de calibre .40. O perito que assina o laudo faz parte da equipe que
elaborou o RLH.
— Arrolei o perito como testemunha justamente para que ele possa dizer por
que, numa primeira vez, ele não acha cápsula alguma e, numa segunda, acha três
— disse Homero.
O inquérito da DH, assinado pelo delegado Alexandre Herdy
Barros, recomendou o arquivamento do caso, sem indiciamento de nenhum dos 10
policiais — dois da UPP do Alemão e oito do Batalhão de Choque — pela morte do
menino.
MEU COMENTÁRIO
A matéria deveria ser lida pelo promotor de justiça
que não aceitou o parecer da PCERJ e resolveu denunciar o PM que matou uma
criança no Complexo do Alemão. Não que a decisão do membro do MP não possua
lógica, tal como a conclusão do delgado de polícia também a possui – toda moeda
tem dois lados...
A questão deve, por conseguinte, ser deslocada para
aqueles que detêm a responsabilidade de manusear a tropa. Sim, manuseio é palavra
coerente com a realidade da PMERJ, tão antiga que lembra a barragem mineira,
carcomida pelo tempo e entregue ao descaso humano, que destruiu num só golpe o
rio Doce.
Digo manuseio, sim, porque a tropa é efetivamente
manuseada como gado ao dispor dos tropeiros, estes que, por sua vez, são
manuseados pelos latifundiários, de modo que juntos (tropa e tropeiros) formam
uma manada de “pés duros” em pasto de capim nativo ou simplesmente seco. Ou
seja, mesmo que parte da boiama morra, o latifundiário (Estado e Elite Social)
lucra. Daí não lhe interessar a saúde da manada nem dos tropeiros, a reposição
é fácil e barata. Que morram, então, tropeiros e tropas!
Claro que é fácil arguir de um gabinete refrigerado
a realidade de quem caminha numa favela que já matou oficiais e praças,
curiosamente depois de “conquistada e pacificada”. Tudo muito recente. É
realmente simples julgar papeladas, seus pontos e vírgulas, o sentido enviesado
de uma frase aqui, a má colocação pronominal acolá etc. É muito fácil fugir da
realidade tal como sugere o provérbio alemão: “A árvore impede de ver a
floresta."
Ou seja, é fácil fugir do contexto e se fixar no
nefasto resultado (morte do menino), como se o desgraçado do PM, que não queria
morrer, estivesse ali disposto a matar quem pela frente encontrasse, sem
considerar minimamente a ideia de que ele não estava psicologicamente preparado
para atuar numa área de alto risco, autêntica zona de conflito que deveria
estar sendo pacificada pela ONU, pois resume todos os ingredientes que a
caracterizam.
Cá entre nós, o delegado, - que come o pó do perigo
bem mais que o promotor de justiça, - o delegado decerto viu a “floresta”,
enquanto o outro, - mui poderoso e capaz de menoscabar e rasgar a papelada num
átimo, - o outro preferiu ver somente a “árvore”, em decisão agora duplamente
trágica, pois somou a tragédia do menino, que deu o azar de nascer e viver na perigosa
favela, com a do PM, que talvez tenha a mesma origem de nascença, mas conseguiu
sair da miséria para voltar como PM, portando um fuzil de guerra (desculpe-me
pela redundância, mas é necessária), e matar erradamente o seu par no
infortúnio. Porque é certo que ele ali estava com a mente fixa na ideia de viver
e não pensava matar nenhuma criança. Mas será encaminhado aos azares do júri
popular e posto a ferros, que é o mesmo que ser mandado ao matadouro e à fila
do abate, que não retrocede jamais desde os tempos imemoriais. E o PM se
tornará mais um pedaço de carne de boi magro a ser consumido exatamente por
favelados e seus vizinhos periféricos. Carne barata!...
Não vou mais longe, o leitor é sábio e saberá
comparar as duas matérias para concluir pela “árvore” ou pela “floresta”...
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