terça-feira, 17 de novembro de 2015

RIO EM GUERRA – MAIS MORTES NAS ÁREAS COM UPPS



“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)


17 nov 2015 - O Globo - LUDMILLA LIMA DE) ludmilla.lima@oglobo.com.br) - MARIA ELISA ALVES (elisa@oglobo.com.br)

Mais mortes nas áreas com UPPs 

Total de casos sobe 55%, e estado culpa volta às favelas de traficantes que estavam presos

“As UPPs enfrentaram um grande desafio: o retorno de cidadãos presos durante a implantação da pacificação.” (Major Ivan Blaz - Porta- voz das UPPs)

Os números de letalidade violenta nas 38 áreas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio voltaram a subir no primeiro semestre deste ano. Estatísticas divulgadas ontem pelo Instituto de Segurança Pública ( ISP), do governo do estado, revelam um aumento de 55,3% no item, que engloba homicídio doloso, homicídio decorrente de intervenção policial, roubo seguido de morte e lesão corporal com morte (no entanto, não houve registro dos dois últimos crimes). Enquanto os primeiros seis meses de 2014 tiveram 47 casos (sendo 35 de homicídio doloso), no mesmo período deste ano foram 73 (56 homicídios dolosos). As regiões mais violentas foram as das UPPs do Alemão e do Morro de São Carlos, com oito mortes cada; da Coroa, do Fallet e Fogueteiro, com sete, e da Rocinha, com seis. 

Para o ISP, a explicação para o crescimento dos homicídios dolosos está na sangrenta guerra travada nas comunidades da Coroa, do Fallet, Fogueteiro e São Carlos em maio deste ano, quando 11 pessoas foram assassinadas. O porta-voz das UPPs, major Ivan Blaz, culpa o retorno ao tráfico de criminosos egressos do sistema prisional — beneficiados pela progressão de regime ou que não voltaram às prisões após conseguirem direito a visitas periódicas ao lar — pelo recrudescimento da violência nessas áreas. 

— A partir de meados de 2014 e até o primeiro semestre de 2015, as UPPs enfrentaram um grande desafio, que foi o retorno de cidadãos presos na implantação da pacificação e que, de alguma forma, conseguiram sair do sistema prisional. Tivemos a presença deles em diferentes locais, como no complexo da região do Estácio, com Fu da Mineira (Ricardo Chaves de Castro Lima) tentando retomar o território para o tráfico — afirma o major. 

Em 2013, Fu da Mineira fugiu do Presídio Estadual Edvan Mariano Rosendo, em Rondônia, depois de ser beneficiado pela Justiça Federal com regime semiaberto. Por trás dos conflitos que aterrorizaram Santa Teresa em maio, ele acabou preso em agosto deste ano junto com Cláudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira, seu primo. Com Fu, foi apreendido um fuzil americano Barret .50, usado por diferentes forças armadas e capaz de derrubar um helicóptero.
Para o coronel José Vicente da Silva Filho, ex- secretário nacional de Segurança Pública, o aumento da letalidade violenta em áreas com UPPs mostra que a política de pacificação passa por um momento delicado. Ele acredita que os criminosos, depois de um período de retração, voltaram a se organizar, não só para exercer o tráfico em comunidades pacificadas, mas também para atacar policiais. 

— A criminalidade passou a atacar policiais, que agora enfrentam limites na sua atuação. Eles vão até determinado muro e dali não avançam. Pensam que não vão arriscar a pele. Um fenômeno de que pouco se fala é que a polícia do Rio está com medo — diz José Vicente.
Segundo ele, outro fator que pode estar levando ao aumento de violência em áreas com UPPs é que a política de pacificação investiu muitas fichas na presença ostensiva de PMs, mas não tomou medidas que enfraqueçam a logística dos criminosos: — A UPP é um dos lados do combate, mas só o policiamento ostensivo não adianta. Precisaríamos ter um setor de inteligência mais forte, a presença de policiais civis investigando. 

SOCIÓLOGA CRITICA POLÍTICA DO CONFRONTO

Para a socióloga Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, o aumento da letalidade violenta em áreas com UPPs tem relação direta com a política de segurança do estado: 

— Esse resultado reflete a política de segurança que se elegeu como prioritária, que é a do confronto.
De acordo com os dados do ISP, esta é a segunda vez em que as estatísticas (referentes ao primeiro semestre) de letalidade violenta em áreas com UPPs apresentam crescimento. A primeira vez foi no ano passado, quando as mortes chegaram a 47, contra 34 nos primeiros seis meses de 2013 ( crescimento de 38,2%). Até então, o índice vinha apresentando quedas constantes. No primeiro semestre de 2008 ( época da implantação da primeira UPP, no Dona Marta), foram 179 vítimas no total. O ISP ressalta que, mesmo com o crescimento registrado agora, os casos ainda continuam abaixo ( 59,2% menor) dos verificados naquela época. 

Sobre os números do primeiro semestre deste ano, 17 das 73 mortes foram classificadas como homicídio decorrente de intervenção policial. As UPPs também enfrentaram seis mortes de policiais militares no período: dois tanto na Cidade de Deus quanto no São Carlos, um no Alemão e um na Fazendinha. Em 2014, foram cinco. 

Em nota, a Secretaria de Segurança apresentou o mesmo argumento do ISP: “mesmo com o aumento, o número de letalidade violenta ainda é 59,2% menor do que o do primeiro semestre de 2008, ano da implantação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora”. 


 17 nov 2015 - Jornal Extra

Aumenta o número de mortes em áreas com UPP

Crescimento de 55% é o maior desde a criação do programa

Os seis primeiros meses deste ano registraram a maior elevação no número de mortes em áreas com UPP, desde a criação do programa, em 2008. Os casos chegaram a 73 em 2015, contra 47 no mesmo período do ano passado. Os números de letalidade violenta nas 38 áreas com UPPs tiveram, no primeiro semestre deste ano, o maior aumentodesde o início do programa de polícia pacificadora, em 2008. Comparando o índice — que engloba os casos de homicídio doloso, auto de resistência, roubo seguido de morte e lesão corporal com morte — com o mesmo período de 2014, o crescimento foi de 55,3%.

Enquanto nos primeiros seis meses de 2014 foram 47 casos (sendo 35 de homicídio doloso), este ano eles atingiram 73 (56 homicídios dolosos). As regiões mais violentas são as das UPPs do Alemão e do Morro de São Carlos, com oito mortes cada; da Coroa, Fallet e Fogueteiro, com sete, e da Rocinha, com seis. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).

Para o ISP, a explicação para o crescimento de homicídios dolosos está na guerra travada em maio deste ano nas comunidades da Coroa, Fallet, Fogueteiro e São Carlos, quando 11 pessoas foram mortas. Já o coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública, acredita que o aumento da letalidade violenta mostra que a política de pacificação passa por um momento delicado.



MEU COMENTÁRIO


O fracasso das UPPs é tragédia anunciada desde o seu início, no Morro Dona Marta, depois de ocupação rotineira por tropa do 2٥ BPM (Botafogo) em virtude de conflitos entre bandidos impedindo que os colégios que lá existem funcionassem. E o que era para durar apenas o tempo necessário à solução do específico problema se tornou eternizado numa impressionante jogada midiática em vista da Copa do Mundo.



Nada mais que remendo de retalho novo em pano velho, e depois apresentado como “tecido novo”, as UPPs seguiram freneticamente seu triste destino de natimortas. Porque de novidade o tal programa nada apresentou a não ser notícias otimistas devidamente plantadas na mente de pessoas desavisadas e assustadas com a pujança do crime, ressaltando-se o tráfico de drogas e seus crimes conexos, em especial o homicídio, meio extremo de convencimento largamente utilizado por impunes traficantes.


Portanto, a notícia não espanta. Como eu disse, é tragédia esperada por quem milita na segurança pública, excetuando-se os apologistas do falseamento da verdade, estes, efusivamente aplaudidos em restaurantes e sorridentes em capa de revistas contendo estimulantes entrevistas pondo as UPPs como grande descoberta do novo Cabral. Cá entre nós, o mesmo que vociferara tempos antes o “enfrentamento” como grande solução para conter uma incontida criminalidade, e depois surgiria como “pacificador” hodierno, o novo “Rondon”. Deus me valha!


Não estranho o realismo desta matéria. Confesso, porém, que estranho a conduta do Jornal O GLOBO, que não costuma dar guinada tão retumbante, a não ser que haja algo mais por trás, como, por exemplo, forçar desde já para entupir o RJ com as Forças Armadas (FFAA) e a anômala Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) durante as bilionárias Olimpíadas, nas quais o Brasil decerto protagonizará mais um fiasco. Mas isto não importa, porque não altera o perfil do lucro com o evento, que é definido à parte e independente da poluição e da violência armada contra o cidadão. Tudo isto faz parte do falso cenário de sucesso que angariará votos eleitorais e ajudas milionárias em campanhas que culminarão elegendo os mesmos especialistas em política que sabem ser o voto igual a dinheiro aplicado, nem tão incerto como nas Bolsas de Valores.


Eis o panorama dos próximos dois anos, ou menos, quando então, passada a onda de otimismo midiaticamente fabricado, a realidade se abaterá como adaga islâmica no pescoço do passivo povo brasileiro, que continuará vivendo de esperanças e frustrações, tal como o gado de corte vai ao matadouro já marcado para morrer em silêncio. E assim as favelas proliferarão em razão da extrema pobreza enganada com migalhas de programas sociais como o Programa Bolsa Família, o Rio Contra A Miséria, o Renda Melhor, o Minha Casa Minha Vida etc., tudo engodo, nada mais que comprimido de água para curar fratura exposta.


Mas junto com a miséria virão mais miseráveis atuando na ponta da linha de um tráfico que movimenta bilhões dentro do Brasil, tudo empresarialmente e sem condições mais de a polícia pátria conter. Porque o Estado trabalha como pescador de rede velha e arrombada, este, que pesca o peixe de um lado e ele escapa do outro. Isto se não estourar mais uma barragem de lixo tóxico a eliminar todos os peixes, único alimento de muitas gentes que nem sabem da existência dos tais programas clientelistas. Mas saberão, os políticos os inserirão neste contexto de “cidadania”, e os bilhões jorrarão além da conta para sustentar a corrupção e seus eternos corruptos. E em meio disso as UPPs afundarão num redemoinho inelutável...


Só não sei se a briosa mais uma vez conseguirá boiar, como um dejeto de superfície, livrando-se do vórtice final...

Nenhum comentário: