“O
mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas
por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert
Einstein)
“Os mortos ficam bem
onde caem.”
(M. Assis – Memorial de
Aires)
Corpo de Diego foi
enterrado em Botafogo (Foto: Marcelo Elizardo / G1)
Extraída do G1 em 16/05/2015, a foto do enterramento de mais um
favelado (do Rapper Diego Luniére, de 22 anos, morto com um tiro no pescoço
quando tentava visitar o pai) bem retrata a tragédia que abala o Rio de
Janeiro, mormente a Região Metropolitana do Grande Rio.
Mas
poderia ser sepultamento de PM, pois nesta luta entre rotos e esfarrapados há
vítimas constantes de ambos os lados, não importa que sejam ou não traficantes,
cidadãos de bem ou policiais, a bala não escolhe cara nem coração, segue o seu
curso mortal com a indiferença de sempre...
“os
mortos ficam bem onde caem”...
A
frase machadiana vence o tempo e nos alcança como severa ironia. Pois, se
analisarmos os discursos de gestores e governantes, eles se limitam aos clichês
de sempre: “Vamos apurar!”; “A PM reforçou o policiamento!”; “As armas dos
policiais foram recolhidas para exame balístico!”; “Os PMs foram retirados das
ruas!” etc.
Tudo
com muita ênfase para se ajustar aos leitores situados longe da tragédia, e que
se contentam em ler e reler os clichês sem se darem conta de que a data da
notícia é outra, que os jornais não são os mesmos, que as vítimas não são as
anteriores, enfim, “os mortos ficam bem onde caem”, desde que não sejam eles ou
suas parentelas.
Tudo
repetitivo... Até mesmo meus comentários parecem refletir uma só imagem num
jogo de espelhos, já que o assunto é o mesmo, já que não há nada de novo sob o
sol, o círculo da criminalidade é vicioso e não há virtuosidade capaz de
reverter esta situação de guerra que assola o RJ como um todo, mas reverbera
com intensidade nas favelas da capital, instituindo uma falsa ideia de que
todas as favelas se concentram na Cidade Maravilhosa, se é que é ainda
maravilhosa além dos seus cemitérios a mais e mais apinhados de miseráveis
mortos a tiros.
Porque
há uma grave perturbação da ordem pública nos moldes que lemos em decretos
federais ainda em vigor e nos regulamentos da PMERJ que a eles se reportam.
Como, por exemplo, o Decreto nº 88777, de 30 de setembro de 1983 (R-200):
“14) Grave
Perturbação ou Subversão da Ordem – Corresponde a todos os tipos de ação,
inclusive as decorrentes de calamidade pública, que por sua, natureza, origem,
amplitude, potencial e vulto:
a) superem a capacidade de condução das medidas preventivas e repressivas
tomadas pelos Governos Estaduais;
b) sejam de natureza tal que, a critério do Governo Federal, possam vir a
comprometer a integridade nacional, o livre funcionamento de poderes
constituídos, a lei, a ordem e a prática das instituições;
c) impliquem na realização de operações militares.”
Ou nas
Bases Doutrinárias da PMERJ (1983):
“Medidas
operativas – Medidas de caráter militar adotadas pelo Governo Federal, que
visam a neutralizar as ações do inimigo interno, já identificado na fase de
Grave Perturbação da Ordem. A situação a enfrentar é a luta interna.”
Mas,
apesar da legislação, não mais vale o que está escrito, nenhum governante federal
ou estadual jamais admitirá ter perdido a batalha contra a criminalidade, embora
isto seja evidente aos olhos de todos. Fica então o Estado-membro fingindo que
vence, com a mídia local, bem remunerada, reforçando o otimismo por meio da
generalização de sucessos pontuais, como é caso das UPPs no seu início e que
agora parece não suportar o peso que lhe impuseram. E quem vence, ao fim e ao
cabo, é o Poder Marginal, bastando observar mais atentamente o ambiente social,
não apenas o encenado na mídia, mas o real, que é somatório de todos os
fragmentos de notícia a minimizarem a cruel realidade da grave perturbação da
ordem pública a demandar operações militares como as que funcionam como reais
forças de pacificação em confrontos bélicos reconhecidos pela ONU mundo afora.
Mas
nem pensar a União admitir que há um confronto bélico em território pátrio, até
porque parece ter interesse na manutenção do caos e na submissão da população
ao medo constante, medo de tudo, inclusive medo de reagir em contraposição a
este Poder Marginal que brada aos ares como bradou o narcotraficante Fernandinho
Beira-Mar, em Bangu I, depois de massacrar seus oponentes: “Tá tudo dominado!”
E veio ele, com pompas de estrela midiática, a rir do promotor, do juiz e dos
jurados no seu último julgamento em que saiu condenado a mais um século de
prisão, o que para ele pareceu nada significar, demonstrou que tem vida boa na
cadeia e sabe que possui uma legião de viciados aplaudindo-o bem mais do que
seriam aplaudidas as pessoas que acertadamente o acusaram, julgaram e
condenaram...
Compreende-se...
Afinal, nos dias de hoje quem é mais bandido no Brasil?... Ele ou os
empresários, burocratas e políticos envolvidos na roubalheira de bilhões dos
cofres públicos? Quem é mais nefasto à sociedade?... Ah, onde fica o povo nesta
história de sangria bilionária?... Fácil, muito fácil: pagando a conta com
maiores juros, recebendo no peito os ajustes fiscais, atordoando-se com o aumento
exponencial das tarifas de serviços essenciais, enquanto amarga uma péssima
saúde pública, uma educação falida e demais serviços estatais arruinados. E
assim o são para facilitar a sangria dos bilhões, decerto tornados trilhões se
aqui se somar a ladroagem nos três patamares do Poder Público (União,
Estados-membros e Municípios)... Cruzes!
O
povo condenado!... Sim, sim, o maior condenado de todos é o povo, cujos olhos
não veem a floresta que se oculta atrás do arbusto, só enxergam deste as
ramagens. Estão todos cegos e empurrados pela miséria controlada, que chamam
“bolsa-família”... Ah, apenas um dos muitos artifícios usados pela facção
política para manter o povo afastado do discernimento enquanto enterra seus
mortos com direito a no máximo uma semana de mídia para as inúteis choradeiras
pedindo “justiça”. E é para isto tão-somente que serve sua desgraça, pois a
locomotiva capitalista não diminui velocidade a não ser para descarregar seus
vagões lotados de impiedades nas mãos calejadas deste povo demasiadamente sofrido.
Como
mudar isto?... Impossível! Não acontece aqui uma calamidade tão ruim para o
povo que faça melhorar a sua vida em sociedade. O povo, afinal, é orgânico, é
comunidade solidária na tristeza da posse de nada. A sociedade é formal,
distante, indiferente, individualizada na alegria da posse de tudo. E é desta
sociedade que emerge a “Esquerda Caviar” prometendo alegrias ao povo sofrido,
que, no entanto, permanece sofrido e vendo na telinha de sua tevê de rabo
quente, ou na dos botequins, os ladrões sendo soltos e outros passeando,
chiques e impunes. Por isso o herói do povo das favelas não pode ser um
socialite, deve ser quem efetivamente os domina, o amigo das FARCs, que são
amigas do PT no Foro de São Paulo. Sim, refiro-me àquele que bradou no presídio
depois do massacre: “Tá tudo dominado!” E, diante do juiz, do promotor, e de
sete jurados “representando o povo”, imitou o político ao dizer: “Não vi nada,
não sei de nada!”...
Mas
tudo isto é ficção, é irrealidade, não está acontecendo, estou sonhando!...
Não! Não estou sonhando! mais um corpo caiu em São Gonçalo no dia de hoje, está
no G1 em letras garrafais, e a história que ora conto já nasce requentada:
“G1 Rio
16/05/2015 12h33 -
Atualizado em 16/05/2015 16h19
Testemunhas acusam PM de
matar jovem em São Gonçalo, no RJ
Família
diz que arma foi plantada perto de jovem para justificar
Polícia afirma que jovem estava sob custódia por porte de arma.
Testemunhas acusam
policiais militares de terem matado o ajudante de cozinha Wagner dos Santos
Silva, de 19 anos, com um tiro durante uma operação contra o tráfico de drogas
na quarta-feira, em São Gonçalo. Segundo o pai, Ricardo Santos, Wagner voltava
do trabalho por volta das 17h quando foi atingido por um tiro de fuzil nas
costas, no morro da Dita, que fica no bairro do Jockey. No velório, no
cemitério São Miguel, parentes e amigos se emocionaram. As informações são do
RJTV. (...)”
Ah, é tudo
como disse em fina ironia o mestre Machado de Assis se antecipando ao futuro do
RJ:
“Os mortos
ficam bem onde caem.”
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