quinta-feira, 16 de abril de 2015

RIO EM GUERRA LVII



“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

Do G1, no Rio

16/04/2015 14h08 - Atualizado em 16/04/2015 15h00

José Júnior diz que houve 'distorção' de postagem sobre morte de Eduardo

Mãe diz que vai processar Júnior por insinuar ligação do filho com o tráfico.

Líder da ONG diz que estão usando dor da mãe para ataques pessoais a ele.


O fundador da ONG Afroreggae, José Júnior, publicou no Facebook, no início da tarde desta quinta-feira (16), uma resposta às acusações de Terezinha Maria de Jesus, mãe do menino Eduardo de Jesus Ferreira, 10 anos, sobre declarações postadas por ele afirmando que o garoto, morto no Conjunto de Favelas do Alemão, Zona Norte do Rio, estava envolvido com o crime organizado. Segundo José Júnior, a dor da mãe do menino está sendo usada "para fazer ataques pessoais a mim, baseados na distorção do que escrevi", diz na postagem.



Na noite desta quarta, a doméstica Terezinha Maria de Jesus, 36 anos, mãe do menino Eduardo de Jesus Ferreira, afirmou que irá processar José Júnior. Ela disse ter ficado revoltada com declarações dele afirmando que o garoto estava envolvido com o crime. "Bandido é ele", afirmou.

Na postagem o fundador do Afroreggae, nega que tenha declarado que a criança merecia morrer. "Quem me conhece, sabe que eu nunca afirmaria que uma criança merece morrer. Assim como não acusaria, sem provas, que o menino estaria envolvido com o crime. Digo e repito: mesmo que ele estivesse ligado ao crime, não merecia ser vítima dessa violência!"

Terezinha deu está declaração na Divisão de Homicídios, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, para encerrar o depoimento sobre a morte do filho. Ela chegou à unidade policial, por volta das 20h30, acompanhada pelo marido e duas filhas, logo após voltarem do interior do Piauí, onde o garoto foi enterrado.

"Eu só vou falar com vocês uma coisa, que eu só quero mandar um recado para o José Junior, o líder do Afroreggae, que ele colocou na internet que o meu filho é bandido, que criança morta de 10 anos no Alemão é bandido. Eu quero dizer que bandido é ele. Meu filho não é bandido. Meu filho é uma criança que estudava, que tinha projeto na escola", disse Terezinha, destacando que irá processar José Júnior.

As declarações de Júnior foram postadas no Facebook, mas logo depois apagada após repercussão negativa. No texto ele começava dizendo que "Esse menino segundo informações era bandido. Provavelmente se fosse bandido poderia ter matado um policial se tivesse oportunidade".

Na mesma postagem, ele questiona o aumento da criminalidade no Rio. "A questão é quem está ganhando com essa guerra? Famílias inteiras sendo dilaceradas. Parte do efetivo do Complexo do Alemão e de outras favelas tem como mão de obra meninos e meninas".

No final ele diz que a morte do menino Eduardo é inaceitável. "Soube agora que ele tinha 10 anos de idade. Inaceitável essa e qualquer morte. Que a indignação atinja a todas as pessoas de bem".

Terezinha de Jesus questionou o conteúdo da postagem. "Como é que ele bota umas coisas dessas na internet sem saber quem somos nós? Meu filho é uma criança inocente que morreu inocentemente", enfatizou.

Na resposta publicada nesta quinta, José Júnior também afirma que existe um uso político das suas declarações. Ele ressalta o trabalho social que faz nas comunidades cariocas. "Como eu, uma pessoa que trabalha há mais de vinte anos com projetos e reintegração social, iria ser a favor da violência contra uma criança? Não me interessa se há um jogo político por trás dessa calúnia. Não entrarei nele. O que interessa nesse momento é respeitar a dor de uma mãe que acaba de perder seu filho".

Questionada se também irá processar o estado, Terezinha disse que, no momento, preferia não comentar a respeito. "Eu só quero mesmo mandar esse recado para o José Júnior."



MEU COMENTÁRIO

Não se é de estranhar a polêmica nem negar o fato de que o G1 publicou o que teria sido declaração do fundador do Afrorregae, José Júnior, ou seja, que o menor morto seria envolvido com o tráfico. Agora, porém, emerge outra versão, enviesada da primeira, que eu não li, apenas me baseei no que publicou o G1 num primeiro momento, dando conta ter saído da lavra de José Júnior a afirmação de que o menino morto seria envolvido com tráfico, o que causou indignada reação da mãe do menino. Em vista disso, José Júnior vem a tentar consertar a confusão, gerando no G1 a seguinte afirmação: Segundo José Júnior, a dor da mãe do menino está sendo usada ‘para fazer ataques pessoais a mim, baseados na distorção do que escrevi’, diz na postagem.

Fica no ar a indagação: quem estaria usando “a dor da mãe do menino”? A PM, que está cuidando do problema como manda a lei, sem comentar absolutamente nada? A imprensa, que apenas retrata o fato como ele se desenrola, anotando declarações e observando pronunciamentos escritos? Ou seria o tráfico?...

Cabe, nesta polêmica, sublinhar o seguinte: a) José Júnior anda afastado do Complexo do Alemão; b) mesmo assim, é indiscutível que ele é bem informado sobre o que ocorre naquele conturbado ambiente onde quem manda é o tráfico, a ponto de instituir restrições até mesmo para os PMs lotados nas UPPs de lá, como publicou o G1 e eu anotei em outro comentário; c) se ele decidiu se enfiar nesta polêmica, o fez por alguma razão, e tudo sugere que tenha falado com conhecimento de causa; d) agora ele alega que “há um jogo político”, afirmando ser tudo “calúnia”.

Mas o G1 reproduz as principais frases de José Júnior: "Esse menino segundo informações era bandido. Provavelmente se fosse bandido poderia ter matado um policial se tivesse oportunidade"; "A questão é quem está ganhando com essa guerra? Famílias inteiras sendo dilaceradas. Parte do efetivo do Complexo do Alemão e de outras favelas tem como mão de obra meninos e meninas".

Como se pode depreender, primeiro ele afirma baseado em informações. Depois estabelece a dúvida no complemento do raciocínio, mas a inicial de sua primeira afirmação é categórica e fundamentada em informações, às quais ele inegavelmente tem acesso pelo viés comunitário. Mais ainda, a segunda afirmação dele encerra uma verdade absoluta e complementa sobremodo o raciocínio da primeira. Mas agora as insinuações dele sobre “jogo político” e “calúnia” só se encaixam no G1, que se defende repisando o que ele publicou e retirou do ar. Decida o leitor...


Já eu entendo que José Júnior instituiu como reação à mãe do menino um discurso enviesado e oco de sentido. Apenas complicou a situação, que, no meu modo de ver, resume-se ao fato concreto de que os reais mandatários do Complexo do Alemão são os traficantes, e nenhum morador seria capaz de contrariá-los a ponto de deixar de atender a alguma ordem deles... Deste modo, a sorte está lançada e o assunto, mui longe do esclarecimento definitivo. Aguardemos então o próximo round...

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