quinta-feira, 16 de abril de 2015

RIO EM GUERRA LVI


“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

Do G1 Rio

15/04/2015 18h23 - Atualizado em 15/04/2015 20h35

PM é morto em São Gonçalo, no RJ

Militar foi baleado no Morro da Cabrita, em São Gonçalo.

Outro policial morreu na manhã desta quarta em Campo Grande.





PM Mike Cruz deixa mulher e uma filha (Foto: Reprodução / Facebook)


Mais um policial militar foi baleado e morreu nesta quarta-feira (15), no Morro da Cabrita, no bairro do Tribobó, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. Segundo o comando do 7° BPM (São Gonçalo), Mike Cruz fazia um patrulhamento de rotina e a viatura foi alvejada por criminosos. Segundo amigos da família, o policial deixa mulher e uma filha pequena.

Na manhã desta quarta, outro policial militar, lotado no 40º BPM (Campo Grande),morreu após ser baleado numa tentativa de assalto na Rua Combota, também em Campo Grande. De acordo com a PM, Cleber Sebastião da Silva levou um tiro nas costas e foi socorrido ao Hospital Rocha Faria. Segundo a unidade, a vítima estava em estado gravíssimo, passou por uma cirurgia, mas não resistiu ao ferimento.

Mais assaltos e mortes

Outro homem, identificado como Pedro de Souza, morreu após ser baleado na Estrada do Monteiro, também em Campo Grande, por volta das 14h. Segundo informações do 40º BPM (Campo Grande), Pedro foi socorrido pelos bombeiros e levado para o Hospital Rocha Faria com parada cardiorrespiratória, foram realizadas as manobras de ressuscitação, mas ele não reagiu e foi a óbito. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios.

Na Tijuca, Zona Norte, uma mulher foi baleada na perna durante um assalto nas proximidades do Morro da Formiga, também nesta quarta. Dois criminosos abordaram a vítima em uma moto e levaram a bolsa dela. A mulher foi encaminhada ao Hospital da Ordem 3ª, no mesmo bairro, mas não corria risco de morrer.

Na Taquara, um homem foi encontrado morto no interior de um carro na Rua Jonas Arruda, em frente a Praça da Playboy, na tarde desta quarta, segundo informações do 18° BPM (Jacarepaguá).


MEU COMENTÁRIO

Além da matéria que comento, com meus pêsames à família do Mike Cruz, o G1 de hoje também estampa que o fundador da ONG Afrorregae, José Júnior, teria postado no Facebook que o menino Eduardo, de dez anos, morto durante troca de tiros entre PMs de UPP e traficantes no Complexo do Alemão, era “envolvido com o tráfico”.

Não há por que exagerar no clamor ou na dúvida, a utilização de crianças por traficantes e a concomitante submissão de sua família representam apenas mais uma faceta da crueldade que permeia o tráfico, e o número de crianças nele envolvidas é inegável realidade desde muito tempo, eu até retrato o problema, que muito vivenciei, num romance publicado no ano 2000: “Profissão Traficante”. O texto está disponível no meu site (www.emirlarangeira.com.br). Confiram.

A declaração de José Junior tem ainda mais peso devido à sua vivência na favela e seu trabalho exatamente com crianças e adolescentes, que, por razões óbvias, se comunicam com ele. E muitas delas resgatadas no limiar do desvio de conduta...

Verdade ou não, a família do menino deve estar no momento de saia justa diante do novo fato que pode mudar o rumo das investigações. Sem deixar de considerar que o menino morto, de qualquer modo, é vítima do sistema estatal e da sociedade, ambos hipócritas desde sua origem histórica, sendo o tiro supostamente disparado pelo PM apenas o desfecho, trágico, porém esperado, dada as circunstâncias que envolvem o combate ao tráfico em favelas. Sim, combate, pois, afinal, são grupos inimigos atirando de fuzil e produzindo vítimas entre si e no seu entorno onde habitam crianças e adultos.

Já sobre a insistente notícia do G1 de que os índices de homicídio diminuíram pelo terceiro mês no RJ, quantificando os dados sem qualificá-los, parece-me ilação pura. Pois cada fato é um fato, e os homicídios, mesmo produzindo vítimas com o mesmo destino (morte), possuem peculiaridades que os tornam diferentes entre si.

Temos no noticiário dos últimos quinze dias alguns casos bem diferentes: a morte de uma mulher no Complexo da Maré, decorrente de troca de tiros entre as Forças de Pacificação e traficantes, e o assassinato de três PMs, dois deles vítimas de assalto, na Zona Norte e na Zona Oeste, com ambos fora do serviço e tentando fugir sem reagir aos bandidos, e um em pleno serviço de patrulhamento motorizado, em São Gonçalo. Além destes últimos casos, há a morte da dona de casa e do menino Eduardo, de dez anos, no Complexo do Alemão. E muitas outras mortas (48) por balas perdidas só neste ano de 2015, como noticiado por canal televisivo.

Portanto, cada homicídio deve ser sopesado para se constatar suas causas, estas sim, importantes como elementos de diagnóstico para ações policiais preventivas e repressivas futuras. Citar aleatoriamente que os índices de homicídios diminuíram nos últimos três meses, sem indicar outras variáveis, é o mesmo que varrer o pó para baixo do tapete. Cheira a desvio de atenção por demais forçado e irreal. A análise do crime não deveria ser tão reducionista, como sói acontecer quando se lida com cálculos numéricos, em típica frieza de quem é afeito a simplórias estatísticas, mui distantes dos testes de significância tratando dados numéricos completos e complexos, todos, porém, adrede enunciados.

Por exemplo, é diferente um indivíduo matar seu desafeto, por vingança, e outro matar uma vítima sua, de assalto, e assim sucessivamente, tendo como resultado sempre a morte de alguém. Mas assim deve ser feita a avaliação para desdobramento em ações preventivas e repressivas de polícia. Não basta, portanto, juntar todas as pedras na peneira e que entre elas existam diamantes. Ora, interessam apenas os diamantes, mesmo que confundidos com as pedras. Interessa separá-los, estudá-los, avaliá-los, reavaliá-los, para que fique mais fácil distingui-los das pedras na próxima peneirada...


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