quarta-feira, 18 de março de 2015

SOBRE AS MANIFESTAÇÕES (RUIDOSAS E NÃO RUIDOSAS)

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)



Inicio sugerindo a leitura da Revista ISTO É (capa reproduzida), que traz excelentes abordagens sobre os últimos acontecimentos. Lembro também que sempre busco associar minhas opiniões a algum ensinamento endereçado aos novatos da PMERJ. Daí é que quando se fala em manifestações, na apreciação policial significa que elas partem de multidões organizadas com um fim comum, como torcer pelo time do coração num estádio de futebol. Se não, seriam apenas aglomerações, como as que vemos diariamente em muitos locais em que pessoas se põem como coletividade apenas para cumprir horário com fins multivariados de labor ou lazer. Por exemplo, as diversas aglomerações na Estação das Barcas, na Central do Brasil etc. Contudo, para uma aglomeração se tornar multidão, e depois descambar num átimo para a turbamulta, basta uma faísca...

Sobre as manifestações ocorridas nesta primeira quinzena de março (13 e 15), é fácil constatar nas primeiras, organizadas por militantes do PT, o objetivo comum de defender o atual governo e demonstrar a força da base petista, comprovando nada mais que o sabido aparelhamento que vem de longe e ao preço de muitas roubalheiras. Nessas passeatas e concentrações do dia 13 (sexta-feira, dia de labor) vimos o vermelho predominando em flâmulas, vestes e bonés de milhares desocupados que se identificavam claramente com a ideologia petista. Mas essas multidões, para espanto geral, e diferente de suas corriqueiras badernas, desta feita se comportaram ordeiramente.

Nas segundas manifestações, do dia 15, domingo, houve o predomínio das cores verde e amarela do Pavilhão Nacional. Já essas multidões, maiores que as anteriores, não conseguiram fixar um foco comum além do repisado “combate à corrupção”. Em momentos raros, porém, alguns desgarrados apelavam para o slogan “Fora Dilma!”, sugerindo seu impedimento ou golpe militar. Mas eram grupos minoritários identificados no contexto geral dessas ordeiras manifestações, próprias da natural índole dos manifestantes.

Em ambos os casos, entretanto, não houve transformação de multidões em turbamultas, embora alguns grupos radicais, tais como os inexpressivos “Carecas do Subúrbio”, carregassem bombas caseiras e rojões com o intento de tumultuar o pacífico ambiente, mas foram hostilizados pela imensa maioria que não queria saber de confrontos com a polícia, esta que agiu rápido e prendeu os radicais, em número de aproximadamente vinte almas desgarradas.

Daí eu concluo que no embate das manifestações, em termos de objetividade, aparentemente ganharam as artificiosas multidões solidárias com o PT e com a governante, prevalecendo esta forte identidade ideológica, não importando aqui se justa ou injusta. Digo artificiosas porque até encenaram alguns protestos a dissimular inverossímil isenção... Já as outras manifestações (verdes e amarelas), verdadeiras, malgrado seu expressivo volume em todo o Brasil (segundo a mídia, dois milhões de pessoas), bem maior que o contingente vermelho, elas não definiram bem seus propósitos, tornando-se algaravia generalizada em “panelaços” e “buzinaços” contra... quê?...

Não sei bem... Porque o mote do “combate à corrupção” bem serviu de alicerce aos ministros que depois discursaram em entrevista coletiva, representando a ausente presidenta, com suas vozes afinadas mais que coral de igreja: a “culpa é do passado, os manifestantes eram todos eleitores do Aécio Neves, eram gentes de direita, eram da classe média, eram burgueses, eram da elite”...

De tal modo que a culpa dos desmandos petistas, segundo seus representantes, poderia até ser de Joaquim José da Silva Xavier, ou da Princesa Isabel, ou do “Rei-Sol” Luis XIV, só faltando aos ministros caraduras retrogradarem aos tempos de Cristo para jogarem Nele mais esta “culpa”. Porque é certo que os eloquentes petistas não fazem e jamais farão nenhuma “mea culpa”, sabem direitinho o que fizeram, e como o fizeram, e como o fazem até hoje, e o farão amanhã, pois conhecem de sobejo seus ignominiosos fins bolivarianos. Daí o discurso afinado ao resumo: “Quem radicaliza a ideia do afastamento da presidenta Dilma é “golpista”!...

A verdade é que ela, desgraçadamente, ganhou no voto a eleição contra um candidato mais preocupado em enlaçar sua gravata de seda para se apresentar como “bom-moço-de- esquerda-a-serviço-da-democracia”. Ademais, ele fez questão de abominar os eleitores mais à direita, que, ao fim e ao cabo, não votaram em ninguém. Portanto, foi perdedor no voto porque não quis ser pragmático, e, claro, não pode agora liderar nenhuma chiadeira, o que afirmo em tristeza por ter sido um dos que votaram nele certos da vitória que não veio por exclusiva culpa dele.

Peço desculpas pela guinada, mas o faço porque muitos baluartes com espaço na mídia já disseram tudo, com destaque para Rodrigo Constantino e Gil Castello Branco (Jornal O GLOBO de 17/03/2015), dentre outros. Mas insisto, enfim, não ter sido boa hora de o povo ir às ruas demonstrar civilidade e pedir “combate à corrupção”, grave situação, porém ainda em curso e que se deve pautar pelos ditames da boa lei neste nosso deformado Estado Democrático de Direito. Afinal, sabemos que as ideologias e os interesses pelo poder e por dinheiro misturam-se perigosamente e afetam todos os poderes do Estado neste grave momento da história pátria. Enfim, muita civilidade a ganhar ênfase na mídia contrária ao PT, mas, na realidade, as manifestações estavam mais para festivas, ou mornas, quase que sem assertividade, ou seja, “politicamente corretas”, imitando Aécio Neves durante sua campanha perdedora que levou meu humilde voto. Terá sido medo do Stédile e de seus “exércitos” cujo Marechal de Campo é o intocável Luiz Inácio Lula da Silva?...


Entendo, portanto, que a verdade do que houve e do que há nos bastidores do poder está ainda longe de ser vista pelo cidadão comum que assiste a um candidato a presidente ser condenado por exercer o seu direito à livre opinião durante campanha, ao mesmo tempo em que assiste a um impune ex-presidente vociferando que possui para “guerrear” contra seus desafetos o “exército do Stédile”, em franca apologia ao crime, porém ignorado pelas autoridades ministeriais e judiciais. Porque, por mais que o candidato a presidente, multado em um milhão de reais por usar vocabulário técnico, tenha sido infeliz em outras palavras postas à prova sob intensa pressão, não se justifica a celeridade da justiça contra ele e a descarada inércia dela no caso mais grave. Ora, o ex-presidente Lula fez pior e não foi oficialmente questionado em lugar nenhum. Como ele mesmo costuma dizer, ele agora não é mais “cidadão comum”, mas “cidadão especial”, tal como se referiu a outro ex-presidente, seu aliado de forno e fogão. Eta cambada de lesa-pátria!...

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