Rômulo Bini Pereira* - O Estado de SÃO Paulo
07 Março 2015 | 02h 04
"Nos conflitos da humanidade, a
pior e mais sangrenta guerra é a entre irmãos. Ela deixa marcas indeléveis que
impactam a população dos países onde ocorre. A Guerra da Secessão, nos Estados
Unidos, e a Guerra Civil Espanhola bem demonstram os reflexos desses conflitos
até os nossos dias. Em nosso país as lutas fratricidas das décadas de 1960 e
1970 deixaram sequelas que impedem uma efetiva reconciliação e ainda perturbam
o atual cenário político.
Em manifestações sindicalistas na
cidade do Rio de Janeiro o brado de "vamos à guerra!" foi ouvido. Seu
autor foi o ex-presidente Lula - para muitos, um ato surpreendente e
irresponsável de quem conduziu os destinos deste país por oito anos. Em alto e
bom som o ex-presidente pregou a necessidade de uma posição agressiva para
salvar a nossa maior empresa, a Petrobrás, que estaria sendo predatoriamente
destruída por segmentos políticos oposicionistas. E acresceu os costumeiros e
preferidos chavões das esquerdas brasileiras quanto a um possível golpe
institucional em andamento, conduzido pela "zelite". Para se
equiparar ao seu irmão Nicolás Maduro, da Venezuela, só faltou criticar o
"Satã do Norte", os americanos.
Nessa sua defesa ele empenharia o
"exército do Stédile", os integrantes do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) que com manifestações em todo o País poderiam até
desestabilizar as instituições democráticas. As duas afirmativas do
ex-presidente mais parecem um conto interminável dos que nos governam há mais
de 12 anos, ou uma fábula surgida da fértil imaginação deles. O povo brasileiro
não quer a destruição da Petrobrás, um símbolo nacional. Ao contrário, quer
todos os corruptos que se apossaram da empresa no seu governo e no de sua
afilhada, a presidente Dilma Rousseff, julgados e condenados.
Não é compreensível que essas
duas lideranças políticas desconhecessem os graves problemas na empresa. Os
órgãos governamentais que as poderiam assessorar ou informar a respeito
falharam em sua missão ou não foram ouvidos. O "eu não sabia",
costumeira declaração desses mandatários, já se tornou um bordão e é motivo de
ironias e piadas nas redes sociais.
A segunda proposta do
ex-presidente - infeliz e semelhante às de agitadores de rua - é incendiar o
País com o "exército do Stédile" em defesa da Petrobrás e da democracia.
Não se sabe se é a democracia vigente ou a democracia totalitária preconizada
pelo Foro de São Paulo. É uma proposta, no mínimo, preocupante. O MST não é
apenas um movimento sindical que luta pela reforma agrária, sua permanente
fachada. Ao ler seus manuais doutrinários, confirmados pelas palavras de seus
líderes, se conclui que seu objetivo maior é a conquista do poder, se
necessário com o uso da força. A revolução e o regime cubanos são os exemplos a
ser seguidos por esse movimento.
A recente visita dos líderes dos
"campesinos venezuelanos", ligados ao governo de Maduro, bem
identifica a postura ideológica das duas organizações, com uma marcante
diferença. Os "campesinos" possuem armamentos e são considerados o
braço armado do governo venezuelano; o MST, até onde se sabe, não possui
armamentos letais.
Em todos os governos da Nova
República, as Forças Armadas, particularmente o Exército, foram empregadas em
missões de garantia da lei e da ordem. São missões que envolvem riscos
significativos, como as da força de pacificação nas favelas cariocas e greves
de policias militares. Elas se caracterizam como medidas adotadas para evitar o
descrédito e o aviltamento dos órgãos governamentais, principalmente dos
Estados. Ano a ano esse emprego vem crescendo, não só em número de ações, mas
também na sua vigência, caracterizando-se, como se diz no jargão militar, a
ultimaratioregis, expressão latina que evoca o derradeiro argumento dos
governantes.
Manifestações de movimentos
sociais - tais como as de cunho radical ocorridas em meados de 2013 e agora
essa convocação do "exército do Stédile" - são verdadeiros fomentos
para um real embate de forças, e não de ideias. Iniciada por essa nova visão
sectária do ex-presidente Lula, uma confrontação num ambiente conturbado e
acéfalo pelo qual passa o Brasil, sem dúvida, poderá conduzir-nos a situações
extremas. Novamente as Forças Armadas serão chamadas a intervir e não poderão
deixar de cumprir o que preconiza o artigo 142 da Constituição da República.
Os novos comandantes das Forças,
que gozam de alto conceito entre os seus pares e subordinados, certamente não
se calarão como seus antecessores que adotaram uma atitude de silêncio
obsequioso. Ela nos impingiu a ignominiosa acusação a chefes militares como
Castelo Branco, Eduardo Gomes, Maximiano e tantos outros, que tiveram sua vida
de integridade e honradez enxovalhada pela Comissão Nacional da Verdade. Não
houve sequer uma nota de repúdio desses antigos comandantes.
As Forças Armadas fazem parte da
sociedade brasileira, que lhes concedeu o maior índice de credibilidade entre
as nossas instituições, superior até ao das religiosas. Elas não podem ser
alijadas das grandes decisões nacionais. Suas análises, seus estudos e
pareceres deverão ser obrigatoriamente ouvidos e considerados. Quem quer o seu
silêncio são as instituições comprometidas com ideologias retrógradas e
objetivos nebulosos, como o Fórum de São Paulo. Essa participação não é um ato
de indisciplina nem de arroubos golpistas. É um ato democrático de quem preza sobremaneira
a paz e a ordem.
Entretanto, vale um alerta.
Riscos ao nosso sistema democrático vigente, mesmo os de caráter sub-reptício,
vindos de partidos políticos ou de quaisquer outras organizações, serão
combatidos. Com base em nossa experiência e sem sermos presunçosos, reafirmamos
que nossas Forças Armadas estarão à frente daqueles que enfrentarem as ameaças
sem pronunciar bravatas, como essa abominável "vamos à guerra!"."
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