domingo, 22 de março de 2015

RIO EM GUERRA XXX

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

G1 Rio

21/03/2015 19h58 - Atualizado em 21/03/2015 20h07
Avanço de UPPs no RJ ajudaram na queda de homicídios, diz especialista

Aumento de registros de mortes em operações policiais ainda preocupam.

Fevereiro tem o menor índice de homicídios dolosos em 24 anos no RJ.

Especialistas em segurança pública atribuem a queda de mais de 30% nos registros de assassinatos no Estado, divulgado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), nesta sexta-feira (20), como resultado da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), nas comunidades. Eles alertam que, apesar dos dados serem os mais baixos dos últimos 24 anos, houve um aumento nas mortes em operações policiais, conforme mostrou o RJTV neste sábado (21).

Levantamento divulgado pelo ISP mostra que em fevereiro de 1991 foram registrados 732 homicídios dolosos. Ainda de acordo com o estudo, no mesmo mês de 1985, foram 814. O panorama começou a mudar a partir de 2008, quando começam a ser instaladas as UPPs. Neste ano, foram registrados 505 homicídios no mês de fevereiro. A queda se acentuou no ano passado com o registro de 482 casos. E em fevereiro deste ano, o total de homicídios foi de 324, que corresponde 55% a menos do que em 1991.

Um dos exemplos positivos na cidade do Rio é a comunidade Dona Marta, em Botafogo, na Zona Sul. Há sete anos, a favela que era dominada pelo tráfico de drogas, não registra um só caso de homicídio doloso, aquele em que existe a intenção de matar.

Para o pesquisador do Instituto Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Glaúcio Soares, o resultado é positivo. Segundo Soares, o avanço da política de pacificação foi fundamental para a queda nos índices." É para comemorar o número mais baixo em 24 anos, claro. Não há falsificação de dados. Os dados são reais", disse.

No entanto, ele faz um alerta o número elevado de registros de autos de resistência, quando há mortes em operações policiais. De acordo com dados do instituto, em fevereiro foram registradas 83 mortes. No ano passado, foram 56, um aumento de 48%. "Nós não podemos ter oitenta mortes feitas por policias por mês. Seriam mil mortos aproximadamente, mantido este patamar por ano. Inaceitável", explicou.

Segundo a secretaria de Segurança, a maior parte dos registros de morte decorrente de intervenção policial está concentrada em regiões onde, infelizmente, ainda há guerra contra o tráfico. Com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora, aliada ao Sistema de Metas e Acompanhamento de Resultados, esse cenário começou a mudar.

Do G1 Rio

21/03/2015 16h37 - Atualizado em 21/03/2015 16h37
Policial militar é baleado no rosto durante operação em Bangu, Rio

Ação policial terminou em confronto na comunidade do Sandá.

Na Rocinha, outro PM foi ferido durante confronto com criminosos.
Um policial militar ficou ferido na manhã deste sábado (21) durante um operação na comunidade do Sandá, em Bangu na Zona Oeste do Rio. De acordo com a corporação, ele foi atingido no rosto. Também pela PM, outro PM foi baleado durante confronto na Rocinha, na Zona Sul.

De acordo com a Polícia Militar, o policial ferido no Sandá foi socorrido no Hospital Estadual Albert Schweitzer. Sua identidade e estado de saúde não foram informados. Ele é lotado no 14º BPM (Bangu).

Policiais do mesmo batalhão realizaram outra operação pela manhã na Vila Aliança. Um homem que portava um fuzil e  rádios transmissores foi detido e levado para a 34ª DP (Bangu).

Baleado na Rocinha

Um policial militar da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Rocinha foi baleado durante uma troca de tiros na comunidade no início da manhã deste sábado (21). De acordo com a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, os agentes patrulhavam a localidade do "199" quando entraram em confronto com criminosos.

O policial atingido foi socorrido para o Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea. O policiamento foi reforçado na região.

Outro confronto

Também na manhã deste sábado, um intenso tiroteio assustou os moradores do Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. Segundo informações da 45ª DP (Alemão), os tiros foram ouvidos por volta das 5h30 em alguma das comunidades no entorno.

A UPP informou que agentes da Nova Brasília e criminosos entraram em confronto no interior da comunidade. O policiamento também estava reforçado na região e não havia informações sobre feridos.


MEU COMENTÁRIO

Honestamente, não consigo identificar o porquê do título “especialista” endereçado pela mídia a quem estuda o fenômeno da criminalidade no meio acadêmico das ciências sociais, o que deve ser considerado normal. Afinal, o crime é fenômeno sociopolítico desde que o mundo é mundo. Portanto, faz parte do polissistema social como um dos seus sistemas desdobrados em vários subsistemas que interagem entre si e com o ambiente.

Malgrado o respeito e a atenção que esses estudiosos merecem, eles estudam a segurança pública generalizando o fragmento. E geram altas inferências a partir de fenômenos isolados, sem maior preocupação com o contexto, que é bastante complexo e abrange conhecimentos trancados a sete chaves em seu meio ambiente. Ademais, quartéis policiais-militares e prédios policiais civis costumam engavetar inconfessáveis situações que interferem direta e indiretamente no comportamento individual e coletivo dos integrantes da segurança pública, esta que, no andar de cima, e conjunturalmente, sempre aposta na PMERJ como principal petisco da bandeja destinada a abastecer os esfomeados por informações que jamais conhecerão além das comunicadas em ludíbrio por esses herméticos órgãos estatais.

Creio ser de estonteante ingenuidade acolher como “reais” informações estatísticas geradas no bucho de um sistema movido por interesses que vão além daqueles exclusivamente afetos à segurança pública, em especial os de natureza política, sempre na pauta dos gestores dependentes de votos para lhes garantir sobrevivência futura. Ora, os dados divulgados e restritamente vinculados às UPPs, que só existem em algumas localidades da capital, não podem ser estendidos à maior parte do RJ, que não é nem em sonho atendida por UPPs.

A queda dos índices de homicídio, se real, não decorre, mesmo, da existência de UPPs. Claro que onde elas estão funcionando com “flâmulas verdes” (excetuando-se, portanto, as UPPs marcadas com flâmulas vermelhas ou amarelas) é racional indicá-las como uma das prováveis causas da queda dos índices de homicídio, desde que considerado o ambiente de tarefa que lhes corresponde e seja realizada uma pesquisa científica para que tudo não se resuma à mera opinião de “especialista”. Sim, porque há de haver para cada localidade com UPP uma fronteira nítida e amplamente difundida, de modo que não torne a informação estatística uma singela sugestão que lembre a imagem do homem com os pés dentro da fogueira e uma pedra de gelo na cabeça, de modo que na média do calor subindo e do frio descendo tudo esteja bem...

Por conseguinte, não vejo como embarcar nesta nau do otimismo midiático apoiado por empolgados “especialistas”, com todo o respeito que eles me merecem. E não creio que estejam enganados. São cultos e inteligentes, o que me leva a ponderar que a vaidade muitas vezes move-os no sentido que interessa aos midiáticos. Só que o custo disso é a desinformação, é a irrealidade a serviço de interesses enganosos, o que não cabe na segurança pública de um Estado-membro que não pode evitar a divulgação de notícias que indicam o inverso da paz tão cortejada por todos, porém jamais alcançada. É só ler o próprio G1 para constatarmos a morte estúpida de um digno e honrado vereador de Niterói/RJ, por conta de assalto a mão armada. Tratava-se de pessoa pacífica, sem inimigos, que não merecia morrer tão gratuitamente numa cidade sem UPP, é bom que se destaque. Também não se pode evitar a leitura de mais PMs vitimados em locais com UPP, no caso a Rocinha e Complexo do Alemão, sendo certo que muitos PMs foram baleados nesta semana que se finda, alguns deles com gravidade.

Como dizia o mestre machado de Assis numa de suas obras, “de contrastes vivem os homens”. Com efeito, neste ambiente incerto e turbulento do infelicitado RJ os contrastes são marcantes em se tratando de segurança pública. Pois é inegável a insegurança pública, muitas vezes ignorada por quem não se vê por ela afetado subjetiva ou objetivamente. Sim o RJ até possui “oásis” (locais em que a incidência de crimes pode ser nula, em especial pela inexistência dos crimes de sangue, o que não significa que nesses locais não ocorram delitos menores, em especial os conexos com o uso e o tráfico de drogas).


Por conseguinte, ufanias à parte, – e cá entre nós, – “nem ao mar nem à montanha”, a queda dos índices de homicídio deve ser também atribuída a outros fatores alheios à existência ou à inexistência de UPPs. No fim de contas, o raio de ação das Unidades de Polícia Pacificadora não é infinito. Na verdade, deve ser delimitado até para se evitar desinformações, tais como as eufóricas publicadas no G1 Rio e corroboradas por respeitável estudioso, mas nem tanto “especialista” a ponto de aleatoriamente afirmar que é alto o número de mortes “feitas por PMs”, ignorando que o foram geralmente em pesados confrontos contra bandos paramilitares. Com efeito, o referido estudioso não se preocupou em simultaneamente consignar quantos PMs foram mortos ou feridos por armas de fogo no mesmo período, o que torna a opinião dele não apenas fragmentada, mas, sobretudo, facciosa.

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