(Texto recebido, pela internet, do companheiro TCel Paulo Fontes, da PMERJ, e reproduzido por minha vontade)
Por ARNALDO JABOR
"O
que aconteceu com esse governo foi mais um equívoco na história das
trapalhadas que a esquerda leninista comete sempre, agora dentro do PT. O
fracasso é o grande orgulho dos revolucionários masoquistas. Pelo
fracasso constrói-se uma espécie de 'martírio enobrecedor', já que
socialismo hoje é impossível. Erraram com tanta obviedade (no mensalão
por exemplo ou no escândalo dos 'aloprados'), com tanto desprezo pelas
evidências de perigo, tanta subestimação do inimigo, que a única
explicação é o desejo de serem flagrados. Sem contar o sentimento de
superioridade que se arrogaram sobre nós, os 'alien
ados burgueses neoliberais'.
Conheço a turminha que está no poder hoje, desde os idos de 1963, e adivinhava o que estava por vir. Conheci muitos, de perto.
Nos
meus 20 anos, era impossível não ser 'de esquerda'. Nós queríamos ser
como os homens heroicos que conquistaram Cuba, os longos cabelos de
Camilo Cienfuegos, o charuto do Guevara, a 'pachanga' dançada na chuva
linda do dia em que entraram em Havana, exaustos, barbados, com fuzis na
mão e embriagados de vitória.
A
genialidade de Marx me fascinava. Um companheiro me disse uma vez:
"Marx estudou economia, história e filosofia e, um dia, sentou na mesa e
escreveu um programa racional para reorganizar a humanidade". Era a
invencível beleza da Razão, o poder das ideias 'justas', que me
estimulava a largar qualquer profissão 'burguesa'. Meu avô dizia:
"Cuidado, Arnaldinho, os comunistas se acham médiuns, aquilo parece
tenda espírita...". Eu não liguei e fui para os 'aparelhos', as reuniões
de 'base' e, para meu desespero, me decepcionei.
Em
vez do charme infinito dos cubanos, comecei a ver o erro, plantado em
duas raízes: ou o erro de uma patética organização estratégica que nunca
se completava e, a 'margarida que apareceu' agora com todo esplendor: a
Incompetência (com 'i' maiúsculo), a mais granítica, imaculada
incompetência que vi na vida. Por quê? Porque a incompetência do comuna
típico é o despreparo sem dúvidas, é a burrice alçada à condição de
certeza absoluta. É um ridículo silogismo: "Eu sou a favor do bem, logo
não posso errar e, logo, não preciso estudar nem pesquisar". Por que
essa incompetência larvar, no DNA do comuna? Porque eles nã
o lutam pelo 'governo' de algo; lutam pelo poder de um futuro que não
conhecem. O paradoxo é que odeiam o que têm de governar: um país
capitalista. Como pode um comuna administrar o capitalismo? O velho
stalinista Marcos Stokol confessou outro dia no jornal: "O PT entrou no
governo porque queremos mudar o Estado". Todos os erros e burrices que
eu via na UNE e nas reuniões do PC eram de arrepiar os cabelos. Eu
pensei horrorizado quando vi o PT no poder: vão fornicar tudo.
Fornicaram.
E
olhem que estou me referindo apenas ao 'rationale' básico, psicológico,
de uma 'boa consciência' incompetente que professam. Sem mencionar a
roubalheira justificada pela ideologia - "desapropriar os bens da
burguesia para nossos fins". A fome de uma porcada magra invadindo o
batatal - isso eu não esperava.
Como
era fácil viver segundo os escassos 'sentimentos' catalogados pelos
comunas: ou o companheiro estava sendo 'aventureiro' ou 'provocador' ou
então era 'oportunista, hesitante, pequeno-burguês' ou sectário ou
'obreirista' ou sei lá o quê. Era fácil viver; ignorávamos os
ignorantes, os neuróticos, os paranoicos, os psicopatas, os burros e os
sempre presentes filhos da p... Nas reuniões e assembleias, surgia
sempre a voz rombuda da burrice. Aliás, burrice tem sido muito
subestimada nas análises históricas. No entanto, ela é presença
obrigatória, a convidada de honra: a burrice sólida, marmórea. Vivíamos
assediados por
lugares-comuns. O imperialismo era a 'contradição principal' de tudo
(vejam o ardor com que condenaram a 'invasão americana' de nossos
segredos de Estado há pouco. Quais? Quanto a Delta levou, onde está o
Lula?). As discussões intermináveis, os diagnósticos mal lidos da
Academia da URSS sempre despencavam, esfarinhavam-se diante do enigma
eterno: "O que fazer?". E ninguém sabia.
E veio a sucessão de derrotas. Derrota em 64, derrota em 68, derrota na luta armada, derrotas sem-fim.
Até
que surgiu, nos anos 70, uma homem novo: Lula, diante de um mar de
metalúrgicos no ABC. Aí, começou a romaria em volta da súbita aparição
do messias operário, o ungido. Lula foi envolvido num novelo de
ideologias e dogmas dos comunas desempregados, desfigurando de saída o
que seria o PT.
Quando
comecei a criticar o PT e o Lula, 'petralhas' me acusaram de ser de
direita, udenista contra operários. Não era nada disso; era o pavor, o
medo de que a velha incompetência administrativa e política do
'janguismo' se repetisse no Brasil, que tinha sido saneado pelo governo
de FHC. Não deu outra. O retrocesso foi terrível porque estava tudo
pronto para a modernização do País; mas o avião foi detido na hora da
decolagem. Hoje, vemos mais uma 'revolução' fracassada; não uma
revolução com armas ou com o povo, mas uma revolução feita de malas
pretas, de dinheiro subtraído de estatais, da desmoralização das
instituiç
ões republicanas. Hoje, vemos o final dessa epopeia burra, vemos que a
estratégia de Dirceu e seus comparsas era a tomada do poder pelo
apodrecimento das instituições burguesas, uma espécie de 'gramscianismo
pela corrupção' ou talvez um 'stalinismo de resultados'.
O
perigo é que os intelectuais catequizados ainda pensam: "O PT
desmoralizado ainda é um mal menor que o inimigo principal - os tucanos
neoliberais".
Como
escreveu minha filha Juliana Jabor, mestra em antropologia, "ajudado
por intelectuais fiéis, Lula poderá se apropriar da situação com seu
carisma inabalável, para ocupar a 'função paterna' que está vaga desde o
fim do seu governo. Pode ser eleito de novo e a multidão se
transformará, aí sim, em 'massa'. O 'movimento' perderá o seu caráter de
produção de subjetividades e se transformará numa massa guiada por um
líder populista"."
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