quarta-feira, 31 de julho de 2013

O apelo do governante... Apelo ou “apelo”?

Título dum clássico da MPB, o apelo serve às pessoas de várias formas. Pode ser apelo ao respeito, mas também pode ser apelo à ignorância (ad ignorantiam). Ou pode ter o sentido de pura “apelação”... Você aí, do outro lado, enquadraria o apelo do governante Sérgio Cabral em que categoria?... Quanto a mim, não sei... Mas antes creio que o apelo dele foi demonstração de exaustão ante os últimos acontecimentos; e também em vista do bombardeio que se avizinha ameaçadoramente, curioso que vindo de São Paulo... Ora isto me parece conspiração petista contra o governante do RJ, que não aceitou apoiar a candidatura própria do PT aqui no seu curral. Porque não se há de imaginar mera coincidência a manifestação paulista de repúdio a um político que não mantém relações com os eleitores de São Paulo. Pensar em acaso, neste caso, me parece uma espécie de “apelo à ignorância”... Mas, por outro lado, aceitar que o apelo do governante tenha brotado de algum sentimento nobre é também me enfiar em mim uma carapuça de burro, na medida em que o foco nos menores, filhos dele, sugere também o direito dele a uma reação mais personalizada e, conseguintemente, mais violenta, de modo que inclua até o bloqueio de alguns quarteirões do Leblon como fizeram na Argélia... Ou seja, um rígido controle do direito de ir e vir das pessoas, incluindo moradores desses quarteirões. Mas isto também não deixa de ser apelação minha, espécie talvez de vingança por ver a minha corporação destruída em suas bases físicas e espirituais, tal como vi em Niterói um amado aquartelamento ser derrubado por uma empresa particular que o comprou não se sabe por quanto. Nem se sabe para onde foi o dinheiro... Ah, para o Hospital da PMERJ em Niterói é que não foi! Pois lá, por carência de recursos, teve sua emergência simplesmente fechada, um absurdo! Porque o aquartelamento de Niterói não era um prédio qualquer: era a antiga Escola de Formação de Oficiais, e antes abrigava o Curso Profissional. Ali muitos estudaram para se formar oficial desde antes de eu mesmo nascer (conto 67 anos de idade). Eu também vivi ali, em regime de internato, durante três anos. Depois lá servi como comandante do Corpo de Alunos, e por lá muitas vezes passei e mostrei aos meus filhos como aquele aquartelamento me era importante. Mas nada disto sensibilizou o governante, que agora vem de público, com cara de arrependido, apelar para não ser devidamente cobrado, como se tudo fosse uma brincadeirinha de mau gosto contra ele. Ora!... Cá entre nós, a violência das cobranças que lhe são direcionadas sob a forma de manifestação popular não é mais gravosa que a violenta decisão dele de destruir a história de muitos como se não lhe importasse nada além de dinheiro. Portanto, e mesmo com “respeito” (pode ter sido este o apelo), não vejo no governante nenhuma legitimidade para apelar como fez. Digo-o como um cidadão que optou pela farda e muito se sacrificou para defender a sociedade a partir do lugar que ele destruiu num peteleco, assim como deve ter destruído a esperança daqueles que hoje se postam diante do seu luxuoso domicílio. Na verdade, sinto-me lá, junto com aqueles manifestantes, a demonstrar minha particular indignação com o acúmulo de maus-tratos por ele destinados aos PMs e BMs, vociferados muitas vezes, ao longo dos últimos anos, em palavrório impublicável. Mas como houve o “apelo”, que entendo como “apelação”, sugiro ao governante, na contramão da canção, que ele vá embora para bem longe, talvez Paris, onde decerto não será incomodado. Pelo menos por mim, que não tenho como ir a Paris...
 
... A propósito, ou "em tempo" (como quiserem), será que ele se preocupou com os filhos dos policiais-militares e bombeiros-militares (oficiais e praças) que mandou trancafiar em Bangu I porque lutavam contra a miséria dos seus salários?...

4 comentários:

Maestro Renato Esteves disse...

Será que ele terá tempo para derrubar o QG, o Choque... Será que vai fechar seu ciclo de vingança do papai?
Por falar em filhos e pais, Onde anda o PAPAI do Governador, o tal Jornalista Charutista dos grandes Sofás, Com aquela barriga grande, Sabedor de toda sorte de Assunto Desinteressante e gerador dessa coisa bestial?

Luiz Monnerat disse...

Irmão amigo Larangeira,

Parabéns pelo texto. Ele consegue amplificar a nossa voz diante do que estamos assistindo. A sensação, como PM que sou, diante desse governo do estado, é a mesma de abandono e orfandade que sentimos como fluminenses perante a Federação no caso dos royalties. E, por curioso que seja, ambas tendo no vértice a figura dessa personagem que bem conhecemos de eras priscas. Creio pelo menos que tais figuras como ele sejam vassourados na próxima repescagem! Questão de fé!

Paulo Xavier disse...

Cel Larangeira.
O apelo do governador Sergio Cabral deve-se ao seu estado de consciência que provavelmente o condena.
Não por acaso lembrei-me daquela antiga piada em que o camarada todos os dias chegava em casa e dava uma surra na sua mulher. Quando lhe perguntaram o motivo de tanta agressão, o sujeito respondeu: Eu não sei por que bato, mas ela sabe porque apanha.
Essa piada termina assim, mas se dessem uma oportunidade para essa mulher falar alguma coisa, certamente sua defesa seria em tom de apelo. Pediria ao marido para não agredí-la na frente dos filhos nem na periferia da sua residência.

Anônimo disse...

Mais um pouco e ele transformaria essa Corporação em sem-tetos. Quando o vejo se lamentando e apelando para o sentimento de família, penso nas lágrimas de crocodilo que ao devorarem suas vítimas, derramam uma espécie de lágrimas.