Faz bom tempo li um romance do mestre Zuenir Ventura versando em ficção sobre um dos sete pecados capitais: a inveja. Ao fim e ao cabo, não me restou dúvida de que se trata do pior dos pecados porque o invejoso não almeja apenas ser o que não é, mas intenta sempre destruir aqueles que são o que ele não consegue ser.
Concomitantemente à leitura do romance, deparei com um primoroso texto da psicóloga norte-americana Susan Andrews sobre a psicopatia, com o sugestivo título: “Os psicopatas a nosso redor”. O texto vai completo na abertura do raciocínio, pois é tão sucinto que não merece recorte.
Tais leituras me remetem a outra, contida num livro escrito pelo jornalista Carlos Nobre (Mãe de Acari – uma história de luta pela impunidade – Ed. Relume-Dumará) patrocinado nas sombras por ONG petista. Neste sedicioso livro em que seus “personagens-heróis” são cultuados, há um determinado oficial de polícia que, ao admitir se comunicar com o além, afirma que “saber” e “poder” são seus grandes objetivos de vida. A questão que pretendo focar resume-se aos dois substantivos sublinhados pelo personagem.
Quanto ao “saber”, existe uma só fonte de sabedoria, que não é daqui e depende da unção de Deus. Daí serem poucos os reconhecidamente sábios na História da Humanidade. E o mais sábio de todos chegou ao fim da vida afirmando: “Eu sei que nada sei”. Portanto, é fácil concluir pelo “pensamento espetacular” do personagem, ou pela falta absoluta de neurônios sadios na sua mente, para ele ter fixado como meta de vida o “saber”, o que, decerto, ele jamais alcançou ou alcançará, eis que se assume como distante de Deus. E, mesmo se se assumisse como próximo de Deus, seria blasfêmia da parte dele, pois o seu comportamento maligno não o recomenda à salvação.
Quanto ao "poder", ele o exerce efetivamente para o mal, contando para tanto com outros maldosos de nascença, buropatas de sobrenomes importantes, casta de pessoas vazias de saber, mas poderosas pela capacidade de perpetrar maldades, o que eles designam como “competência”. São aquelas autoridades do “ter” em contraposição à autoridade do “ser” tão bem esclarecidas por Erich Fromm. E como os iguais se atraem, a malícia é o amálgama que une esses detentores de falsos poderes e saberes, gentes estúpidas e arrogantes que não percebem que o são por possuírem apenas dois neurônios. E um faz sombra ao outro...
São, efetivamente, asquerosos. Vivem nas cavernas olhando suas próprias sombras projetadas por um sol do qual jamais receberão no peito a luz, de tal modo que certa vez lhes dediquei, no fim de um livro meu (Cavalos Corredores – a verdadeira história), um recado que por si só reflete a realidade do que são:
“DEDICATÓRIA ESPECIAL
Recorrer a um tribunal para obter justiça é como ir a um fotógrafo para extrair um dente. (Pitigrilli)
Está no fim porque é frontispício de outra narrativa a ser lançada num futuro próximo. É certo, todavia, que alguns lerão esta dedicatória sentindo um gosto de fel em suas bocas, enquanto que outros sentirão o agradável sabor do mel, pois perceberão que a homenagem que lhes pertence por direito de boas ações encontra-se gravada lá no início. Mas aos titulares das más ações ofereço somente esta mensagem, e ponho-a aqui certo de que nem mesmo folhearam este livro e muito menos folhearão o próximo. Ótimo! Que o fechem e se mandem ao inferno!...
Refiro-me aos vis e abjetos que simbolizei no prólogo, – e identifiquei no texto, – e que estão por aí a gauderiar alimentando-se de seus próprios dejetos ou da dejeção alheia. Na verdade, alguns deles nem sei quem são, porém lhes sinto o mau cheiro quando passam. E você?... Sabe quem são eles?... Não?... Eis uma pista: fingem-se aglypha, mas são vipera aspis; e quando decidem prejudicar alguém se transformam em estridentes procnias nudicollis a anunciar seus danos à honra e à imagem das pessoas. Sim, têm o poder da transmutação, são venenosos e altamente perigosos. Portanto, que fique aqui o alerta: cuidado com eles!...
Esses poucos, sem feitos nem feitio, nada têm para mostrar, vivem a voluptuosidade do nada. Estão, porém, em toda parte, ora císticos, ora arrogantes, sempre sugando o poder de terceiros, assim como fazem os vampiros com o sangue alheio. Sim, são ingloriosos em seus misteres, não são como as folhas, flores e frutos das árvores frondosas que lhes dão vida. São espinhos tóxicos que ferem a pele. Parasitam em árvores alheias até matá-las, não sem antes se acomodarem em outras. São supervacâneos, são uns merdas!... Guardam em seus espíritos somente malefícios; de suas bocas expelem o que lhes apodrece nas entranhas; vivem afundados em suas mentes sórdidas, que fedem, fedem muito, muito mesmo!...
E agora?... Já sabe quem são eles?... Ainda não?... Olhe então à sua volta, veja-os você mesmo, desde que não seja um deles!... Tem algum perto de você? Afaste-o menos tarde! Não lho dê seu oxigênio nem seu sangue!... Quem sabe, morre?...
Sim, são eles, que fingirão não ler esta dedicatória, mas logo correrão a devorá-la sentados no mesmo vaso sanitário já atulhado de seus dejetos. E a lerão avidamente. Lendo-a, porém, sentirão um travo em suas línguas enquanto expelem o que lhes deveria estar nos intestinos, mas que acumulam nos cérebros. E darão a descarga. Pena que não foram juntos, merda abaixo, na pressão da água limpa. Sim, sim, mil vezes sim, são dejetos, nem mesmo estrume, este que renova a terra e faz renascer as flores!... De mim tentaram fazer estrume. Jogaram contra mim seus corpos e mentes endemoninhadas. Tornaram-se escravos do Demo e me vieram infernar, mas não o conseguiram, tenho uma obstinação inspirada em Santo Antão. Portanto, mesmo se o conseguissem eu estaria a dar vida ao lírio e a perfumar o ar, enquanto que eles, e elas, e os colunas-do-meio (não devo discriminar ninguém) estão condenados a boiar em águas fétidas pelo resto de suas existências poluindo o mundo! E depois de mortos queimarão no inferno como prepostos do Satanás, pois em vida foram disfarçados ou assumidos asseclas de bandidos, comensais daquele “bolo”* feito em cocaína e maconha que um dia eu conscientemente chutei e chutarei sempre, seja com a caneta, seja com a escopeta...”
* Faço uma ressalva sobre o "bolo": a alegoria refere-se à prisão do famigerado traficante Cy de Acari (versão passada do não menos famigerado Fernandinho Beira-mar), fato acontecido quando eu era comandante do nono batalhão. O "bolo" é o Cy de Acari. Quando eu o prendi, um delegado de polícia amigo meu me ligou me parabenizando pelo feito: "Larangeira, esta é a prisão da década. Mas, cuidado, você entrou de penetra numa festa de comensais importantes e chutou o bolo."
Cabia-lhe inteira razão...
3 comentários:
Cel Larangeira.
Na minha trajetória de vida convivi diretamente com milhares de pessoas; além dos familiares e vizinhos fiz dezenas de cursos civis e militares, como também fui militar do EB, da PM, trabalhei em várias empresas, aposentei e ainda trabalho na área da Petrobras; tive e tenho um convívio bastante intenso com pessoas de variadas raças, regiões do país e até do exterior, de várias religiões e opiniões mil. O ecleticismo se tornou uma coisa natural no meu dia a dia e tenho tentado conviver pacificamente com as diferenças, mas devo confessar que é difícil, há pessoas maldosas, diabólicas, embusteiras, que vivem na tocaia esperando a melhor oportunidade para prejudicar alguém, seja com fofocas rasteiras, seja com perseguições de variadas formas, satisfazendo seu ego e seu instinto diabólico; vi e convivi bastante isso, mas dei a volta por cima com diplomacia sem necessidade de apelar e hoje até agradeço às pessoas que me prejudicaram no passado, pois o sofrimento me ajudou no meu crescimento como homem, como chefe de família e como cidadão.
Cel Larangeira, tenho absoluta certeza que todo mal que lhe impuseram e não foram poucos, pois conhecemos a sua história de vida só o fizeram fazer crescer.
O bolo foi comido pelos vermes e quem fazia festa com ele deve estar triste pelos cantos, curtindo a sua viuvez.
Prezado Coronel,
Ousadia minha fazer comentários a cerca de seus textos, mas me atreverei. Seja o que Deus quiser! Sei ter sido direcionada sua "dedicatória especial", portanto, assustadoramente cabe em todas as esferas dessa nossa sociedade. Em cada canto que se acumula a sujeira do poder público, lá estarão eles, os parasitas que se alimentam desta. Nefastos, intoxicam o ar dos aparelhos do poder corrompido. Aquele citado bolo tão bem chutado pelo senhor foi para o alto e ao descerem os pedaços, se assentaram nos batentes das portas das repartições do governo, nos rodapés, atrás das mesas e nos pátios do Estado. Eu vi, ninguém me contou. E o que sucede quando vemos e nos silenciamos? E quando gritamos e nos enfiam uma estopa goela a baixo? Sabe, o senhor, quando um touro torna-se um boi? Em que pese a comparação...é assim que se sente o indignado que assite ao espetáculo das ingerências, incompetências, pisões nos pescoços usados como degraus para a escalada ao poder, ínfimo que seja...Quase uma comédia, se não fosse trágico. Difícil é a adaptação ao inadaptável. Perigoso é fazer pacto com todos. Verdade é que é até certo ponto que podemos nos doar aos outros e às circunstâncias. O momento me fez lembrar um trecho de uma música:"(...)quantas canções que você não cantava, hoje assobia para sobreviver?(...)". A carapuça serviu-me.
Renovo votos de estima.
Um abraço.
Cynthia Monnerat.
Agradecendo aos dois comentaristas, devo-lhes dizer que, embora imperfeito, e bastante, e longe de ser dono de alguma verdade, espanta-me saber que não são poucos os psicopatas instalados em tudo que é canto deste mundo de Deus, pior que conjugados com outros tantos que se satisfazem em coadjuvar maldades contra pessoas que nem conhecem. O problema é que quando esses doentes mentais ocupantes de altos cargos públicos ou particulares interferem maldosamente na vida alheia, destruindo-a sem remorso, nada lhes acontece. Eles e elas são, em contrário, mui aclamados, e o mundo, por isso, torna-se a mais e mais ruim. Penso, então, que nos cabe a responsabilidade de contestar essas gentes e tentar defender quem não tem armas para tanto. Lembra-me aqui Erico Verissimo em suas memórias (Solo de Clarineta): “Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que um escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.”
Já somos três a formar um pequeno exército de bons a combater os maldosos. Um dia seremos muitos, se não nos silenciarmos.
Obrigado!
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