quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sobre o bico institucionalizado



Não tenho ideia formada a respeito da criação do Regime Adicional de Serviço (RAS) pela SSP, mas creio que bombardeá-lo antes de saber da reação da tropa e de sua adesão ao programa parece-me precipitado. Diferentemente de algumas entidades que já se manifestaram contra o RAS, prefiro aguardar a sua prática antes de vaiá-lo ou aplaudi-lo, até porque não se trata de novidade: conheci exemplo semelhante em Nova Iorque no final da década de 80. Ademais, cabe ao PM decidir se nele se insere, sendo certo que o RAS parece-me mais vantajoso que o bico particular.
Sei que a medida aparentemente abalroa o espaço e o tempo do PM enquanto cidadão, e, de certo modo, não deixa de ser mais um meio de controle da tropa. O ideal seria pagar remuneração estimulante do convívio familiar. Porém, considerando que o salário não é bom, e que o PM já ocupa a sua folga em labores vários, alguns até discutíveis, ocupar esse tempo com oferta de serviço oficializado e razoavelmente remunerado, demais das garantias em caso de acidente, parece-me em princípio interessante.
Por outro lado, o RAS sugere a ampliação do crivo de um militarismo estadual cuja lógica de hierarquia e disciplina é cruel. Tanto que o PM, via de regra, passa a maior parte do seu tempo tentando se tornar invisível para não ser alcançado pela borduna regulamentar. Ampliar seu tempo de exposição ao fator disciplinar e aos riscos da visibilidade fardada não deixa de ser desestimulante. Mas não há como saber o resultado do jogo se a bola não rolar. Portanto, que role a bola e que esperemos o apito final de mais esta jogada de efeito do sistema.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ora Misoca ,tão simples, o RAS,PROEIS.etc,será sempre bom para o bolso do homem e ruim para sua saude e para a moral institucional, pois nada mais é que a formalização do mercenarismo, o qual se individual(bico avulso) ás vezes passa até despercebido, mas formalizado coletivamente(bico institucional), é mais uma pá de cal no conceito de Servidor Publico Especial e participante do universo das Carreiras de Estado. Enfim, mais um golpe do inimigo natural das PM, só isso.

Portanto: CUUUIIDDDAADDDDOOOO!!!!!!

Belzeba

Emir Larangeira disse...

Ué?!?... Pensei ter sido cauteloso o suficiente!...

Luiz Monnerat disse...

Prezado Larangeira,

Concordo em gênero, grau e número com o que o Anônimo afirmou. Precisamos raciocinar que há um objetivo, não só da petralhada, mas de outras correntes inimigas da instituição (basta acompanhar a imprensa, a qual, inclusive, nunca olhou com bons olhos para a PM)de triturar o modelo que aí está. Estão descaracterizando a organização propositalmente, com esse negócio de UPP, agora com as UPA - Unidade de Polícia Ambiental - e o escambau que deve vir por aí... Qualquer plus financeiro que for concedido pelo acréscimo de horas trabalhadas, deve logicamente significar que a PM não trabalha o bastante, ou que a PM não ganha o bastante, pois há necessidade de mais trabalho ou de se pagar mais ao pobre miserável que tem necessidade de complementar o salário. Ora, sabemos que é uma imoralidade qualquer tipo de enquadramento desses, pois a primeira hipótese é desonesta e a segunda é vil. Em qualquer circunstância, a primeira consideração deveria ser a de que o PM deveria perceber um salário digno! Isto não tem acontecido com estes últimos governos salafrários que por aqui têm passado! Estamos longe de contarmos com uma Instituição Policial Militar respeitada como tal!

Emir Larangeira disse...

Caro Monnerat

Muito interessante o seu enfoque, perfeito em todos os sentidos, e hoje já me permito afirmar que os PMs estão indo com toda sede ao pote, consagrando assim o pragmatismo almejado pelo sistema, embora indecente na essência. Enfim, não há como o sedento não se vender por um copo d'água no deserto...