terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sobre as UPPs: um choque de realidade

Postado hoje, dia 18, como complemento


Vejo com bons olhos a avaliação dos especialistas em segurança pública (policiais e acadêmicos) ante os incidentes que volta e meia ocorrem em locais policiados por UPPs. Assumir a realidade como ela é, deixando de lado o “ufanismo confeiteiro”, torna o bolo mais digerível. Porque não é mais caso de questionar as razões de escolha das comunidades carentes para instalação das UPPs, claro está que todas se inserem num contexto já assumido pelas autoridades públicas: instituir uma proteção localizada, e assim, indiretamente, aumentar a sensação de segurança no entorno das localidades escolhidas.
Hoje entendo que foi preferível uma lógica de escolha que uma escolha sem lógica, o que poria a perder a finalidade das UPPs e elas provavelmente se tornariam alvo político-eleitoral. Certo ou errado, a criação de UPPs com aperto do cinto dos efetivos da PMERJ representa uma ruptura do formato para atender a novas funções, o que dois policiais da Scotland Yard, em palestra no Brasil, faz tempo, denominaram como “Polícia Por Objetivo”, em alusão à “APO” (“Administração Por Objetivo”). Na época, exemplificaram que numa pesquisa realizada em bairros londrinos sobre os delitos que mais incomodavam os moradores, a maioria admitia ser o cocô de cachorro nas calçadas o incômodo mais relevante.
Na verdade, incidentes em ambientes policiados por UPPs apenas representam frações mínimas de um sistema situacional criminoso de maior envergadura: a multifacetada e transnacional criminalidade. De resto, somente cabe à polícia administrar seus problemas diários, sendo certo que, se de um lado as surpresas ocorrem, do outro a vivência dos policiais-militares no ambiente garantirá a almejada homeostase num processo que jamais findará: o crime sempre existirá e tenderá ao aumento, e à polícia administrativa cabe preveni-lo e reprimi-lo, não sendo demais exigir maior ação da polícia investigativa (PCERJ) num trabalho concomitante com a PMERJ, o que, presumo, deva estar acontecendo.
Vejo a matéria em comento com os mesmos olhos dos entrevistados; e aceito honestamente o fato de que estão sendo sinceros, assim como a mídia noticia os tropeços das UPPs sem intenção de desmoralizar um modelo que acerta a despeito dos contratempos, mormente em virtude da concentração do efetivo em ambientes de tarefa em detrimento da maior frequência no ambiente geral. E tomara que dê tão certo que anime o governante a investir mais nas UPPs, em especial na “invasão social”, cobrando inclusive da Prefeitura do Rio de janeiro uma ação mais efetiva.
Com efeito, se houvesse uma ação efetiva do Estado em outras áreas a merecerem atenção (nós, PMs designávamos tais ações como “ACISO” – Ação Cívico-Social), as UPPs ficariam mais atreladas ao labor específico de polícia comunitária, tendo a quem encaminhar problemas assistenciais que abundam nas comunidades carentes. Houvesse atendimento governamental eficiente nesta complexa área de atuação, seria um excelente recurso no sentido de apagar da memória favelada o assistencialismo promovido pelos poderosos traficantes, sempre, claro, mesclado com a retaliação dos cidadãos teimosos. Hoje, graças às UPPs, muitos cidadãos respiram a liberdade merecida, daí não haver como torcer contra as UPPs.

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