segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Questão de imagem


Quando transitei pela 5ª EM (Quinta Seção do EMG da PMERJ – Relações Públicas), nos idos de 1884 a 1987, havia uma preocupação do então comandante-geral, Coronel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira, com a mudança de imagem da corporação. Segundo pesquisa realizada na época, num projeto patrocinado pelo Sistema Globo intitulado Rio Contra o Crime, a imagem positiva da corporação não ultrapassava a casa dos 17%, no mais ou no menos. Em outra pesquisa encomendada pela PMERJ ao IBOPE, em 1983, a situação não se alterou. Pior ainda, estendida ao Público Interno, a pesquisa demonstrou que a imagem que o próprio PM fazia da PMERJ era péssima: máxime desta negação de valores internos ficou patente no resultado captado a partir da pergunta: “Qual a qualidade que você mais aprecia em seus superiores?”. Dentre muitos adjetivos ou substantivos pomposos (não me lembra a memória a grafia das qualidades), fechava-se a indagação com a resposta “nenhuma”. Pois bem, esta resposta “nenhuma” alcançou algo próximo a 70%, ou seja, a tropa não apenas desqualificou os superiores, mas externou um sentimento de revolta além do esperado. E a pesquisa foi parar na gaveta...
Mas, na sequência dos estudos visando à melhoria da imagem da PMERJ, contando com a colaboração de estudiosos da UFF na área de Comunicação, concluiu-se que a imagem, na verdade, necessitava de ser tratada como um fenômeno individual, portanto frágil e despido do que poderíamos designar por “justiça e equilíbrio”. Mais ainda, não havia consenso sobre o significado da imagem, sabendo-se, porém, que ela tem de ser trabalhada com vigor para alcançar a positivamente a coletividade, algo como o “Beba Coca-Cola”, slogan jorrado em imagens visuais mundo afora para manter em alta o prestígio da bebida. Enfim, a propaganda era indispensável e deveria ser permanente. Não adiantava prestar um bom serviço, mas divulgar insistentemente esse bom serviço para não cair no esquecimento e no velho vício “da última imagem é a que fica”.
Curioso é que a maioria da população, ao alegar “não confiar na PM”, quando afirmava que fora atendida alguma vez pela corporação confirmava que “fora bem atendida”. A contradição se explica: a PMERJ, naquela época, atendia bem mais à população nas suas carências de outros serviços públicos, ocupando a coibição de delitos um percentual irrisório. Sim, a proporção de atendimento a ocorrências não-criminosas alcançava cifras altíssimas. Assim designamos os atendimentos assistencialistas, como transportar gestantes em trabalho de parto, recolher alienados mentais, socorrer acidentados no trânsito, transportar para hospitais crianças faveladas vítimas de fraturas e outros ferimentos típicos da idade, atender a idosos passando mal etc. Em alguns locais da Capital ou cidades do Grande Rio o percentual de ocorrências não-criminosas ultrapassava 90%.
Esse espantoso percentual de pessoas “bem atendidas”, mas que “não confiavam” na PMERJ jorrou luz numa espantosa contradição. Afinal, como pode alguém se dizer “bem atendido” pela PMERJ e afirmar “não confiar” nela? A explicação dos especialistas foi simples: tratava-se de um fenômeno de imagem que necessitava de ser revertida: da rejeição para a aceitação. Iniciou então a PMERJ um trabalho de divulgação de seus variados serviços, campanha que inaugurou a primeira “Semana da PMERJ”, com uma série de eventos que incluíam propaganda na tevê, outdoors, cartões postais, revistas institucionais etc. E a ideia mais importante, que acabou não sendo executada: mudança radical da farda, produzindo-se uma estética capaz de influenciar positivamente a população e o próprio PM (Já houve um tempo em que a farda do PM lhe produzia um tamanhão orgulho, tal como se ele vestisse o Parangolé de Hélio Oiticica). Mas essa farda ainda é a mesma, e se vincula a um passado de repressão político-ideológica ou à negatividade das falhas em operações contra o tráfico instalado nas favelas, situações que ainda representam um mínimo do labor miliciano, mas que servem para desgastar a imagem corporativa no seu todo.



exemplos de cartões postais


Portanto, reputo importantíssima a atual iniciativa de se criar um uniforme diferente para os PMs lotados em UPPs. A associação da imagem desses policiais com a “paz”, por via de uma estética particularizada, é, com efeito, relevante. Porque a estética induz as pessoas à emoção; enfim, é o predomínio da imagem geradora de bons sentimentos. Na verdade, esse primeiro passo deveria ser estendido a toda tropa da PMERJ mediante novos desenhos de outras fardas desvinculadas do passado. Porque, se já era ruim o azul da farda antes do fenômeno “Tropa de Elite-Elite da Tropa”, hoje não há como conviver com a péssima imagem dos “barrigas azuis”... Por mais que o serviço melhore, por mais que o desempenho do PM se renove, a imagem da PMERJ será sempre ruim. Não haverá por parte da população nenhuma “justiça e equilíbrio” nos seus julgamentos individualizados. O próprio PM está contaminado pela feiúra e pelo estigma do seu uniforme e se sente frustrado em usá-lo. Na pesquisa feita pela PMERJ, mais de 90% declararam odiar o coturno e o capacete. O capacete atualmente é de uso restrito, mas, não faz muito tempo, um comandante batalhão chegou a ressuscitá-lo no policiamento a pé...
Ah, deixa pra lá... A verdade é que o anúncio do novo uniforme para os PMs de UPPs me animou. Pelo menos por um tempo ele significará a “paz” tão almejada pelos favelados e aplaudida pela sociedade. Não ponho a “paz” entre aspas por ironia. Apenas me resguardo, em visão prospectiva e pessimismo, dado o “bairrismo” da grande mídia do RJ, que só defende UPPs na Capital. Faz, inclusive, projeções de efetivo ideal e de gastos orçamentários viáveis, demonstrando despreocupação com o paradeiro dos milhares de bandidos escorraçados das favelas cariocas para outros homizios que, infelizmente, ainda possuem força e ânimo para acolhê-los.
Também me causa apreensão o fato de saber que o ser humano é passível de falhas mínimas e máximas. E, em sendo ele um PM, a mídia não perdoa!... E me ocorreu aqui, para encerrar, que as meninas faveladas engravidadas por traficantes em falso glamour (fato noticiado em horário nobre de tevê no domingo próximo passado) têm agora uma oportunidade mais interessante: ser engravidadas por jovens PMs. É possibilidade a ser considerada porque, se o homem possui 22 cabeças, excluindo-se as 20 cabeças dos dedos, uma das duas restantes decerto não pensa: vai na onda da sincera emoção, e, nesta melhor hipótese, os casórios com os “papais-heróis” ocorrerão com pompas e circunstâncias; ou então a famigerada cabecinha que não pensa se fixará na libido e – pimba! – lá vem problema para a briosa resolver ao seu modo prático: se o jovem-tarado-PM for solteiro, casa-o como antigamente, ou seja, a “pau e corda”, e o mantém enfiado na farda até segunda ordem; mas se ele já for casado, danou-se: a PMERJ lhe aplicará a exclusão disciplinar, deixando à mercê da sorte ou do azar a sua família original e mais uma criança carregada por mãe solteira favelada: mais rotos e esfarrapados engrossando a fila dos sem-nada-no-mundo... Afinal, ninguém é de ferro, e a estética da mulher brasileira – do asfalto e da favela – é irresistível; muitas dessas belas moçoilas, porém, são menores na idade, embora sejam adultas na aparência... É uma questão de imagem...

3 comentários:

Luiz Drummond disse...

Olá Emir, tudo bem?

Aqui em MG onde resido uma vez ao entrevistar um membro da PMMG ele disse que o comando-geral atual mudou a estética das viaturas com o o intuito de aproximar os PMs da população. Antes as viaturas aqui eram cinza e branco, atualmente a viatura é branca e tem as portas ornamentadas com filetes coloridos nas cores azul,amarelo e vermelho.
Segundo ele o intuito é tornar a PM mais próxima da população. Eu particularmente acho que o cinza e branco tinha mais cara de viatura policial.
Com relação a identidade da corporaçao isso acho que é muito pessoal, uma vez entrei em um site que é uma espécie de museu da polícia cívil do Rio de Janeiro e os membros da corporação questionavam a ausência do branco e preto nas viaturas da coorporação que segundo eles era um identidade da coorporação que foi sendo suprimida pelas gestões atuais.
Com relação as UPPs a única coisa questionável é o modo como elas continuam sendo instaladas. Sem confrontos, sem prisões.
Vi uma entrevista no site da Veja do Alan Turnovksi dizendo que o importante não é prender o traficante mas sim a recuperação do território e debelar armas.
Os ataques ocorridos em Novembro servem para provar que ao contrário do que disseSérgio Cabral esses bandidos não vão pegar em lápis como diz o governador, eles vão buscar uma forma de repor a sua fonte de renda perdida eles vão vir nos aterrorizar no asfalto. Isto é preocupante, tomo por base para efetuar o meu comentário o documentário Notícias de Uma Guerra Particular no qual no dvd de extras que tem as entrevistas na íntegra, o falecido ex.membro do CV José Carlos Gregório, vulgo o Gordo diz que o crime sempre busca uma forma de sobreviver. Ele fala que a toda vez que o crime sofre uma grande repressão, os criminosos buscam uma nova fonte de renda, ele ainda cita o seqüestro e o seqüestro relâmpago.

Luiz Drummond disse...

Ah, Emir já ia me esquecendo de comentar. A postura do RJTV em relaçaõ ao PM morto com um tiro na cabeça no centro foi lamentável. Eles queriam saber a causa mortis do bandido, o policial que deu a vida pela população eles mal mencionaram, foi revoltante.

Emir disse...

Caro Luiz

Você tem razão nos seus dois comentários. No segundo, eu acrecentaria que a imprensa reclama de possível censura como se "liberdade de imprensa" significasse o mesmo que "liberdade de expressão", que ela ignora. A imprensa é uma arma interessante: quando acionada contra alguém, sempre buscando munição em irresponsáveis, só dispara tiro de canhão e depois singelamente tira o corpo fora. Ou então silencia a sua arma, outro modo de atingir pessoas esvaziando seus discursos. Enfim, um dos poderes mais perigosos que existem no mundo. Que o diga o famigerado William Randolph Hearst (Cidadão Kane). A mídia nacional, aliás, adora tratamento VIP e age ideologicamente. Não se atém à notícia isenta. Não são democratas nem um pouco, mas capitalistas ávidos pelo sensacionalismo vendedor de jornais e de promotor de audiência, sempre, claro, utilizando artifícios do tipo "suposto" ou "supostamente" e o verbo no futuro do pretérito.
Abraços.