domingo, 7 de setembro de 2008

A eternidade do crime III

Cadeia cheia é solução ou problema?



Instituíram no Brasil a falsa idéia de que preso trabalhar nas ruas é escravidão, é afronta aos direitos humanos etc. Hoje, com as cadeias apinhadas de criminosos, incluindo-se no rol os xadrezes de delegacias policiais, os criminologistas estão atônitos, embora não saibam que fazer com bandidos demais de trancafiá-los como bestas-feras amontoadas como eram os escravos nos porões de navios negreiros. Mas, diferentemente dos escravos, os delinqüentes, quando saem às ruas, – fugindo ou sendo libertados de mil maneiras (no Brasil é melhor ser réu que vítima, posto que, enquanto o réu tem direito à prisão semi-aberta, à liberdade condicional, a sursis, a diversas instâncias de apelação, a revisões criminais, a cumprir parte da pena e até o direito de fugir, dentre outros, à vítima só lhe cabe ser vítima e nada mais), – os delinqüentes, quando saem às ruas, vão ao próximo delito ante a certeza de que, se forem novamente presos, logo, logo estarão à solta.
Dar utilidade social à punição, nem pensar! Transformar a pena em trabalho suado é contrário aos “nossos direitos humanos”, os únicos a representar a “verdadeira democracia”: a nossa. Nem pensar fazer o que alguns estados norte-americanos fazem. Aqui, se agíssemos como o xerife Joe Arpaio, do condado de Tent City, no Arizona, EUA, com certeza a chiadeira da mídia e de seus prepostos de sempre (os criminólogos acadêmicos “de esquerda”) seria como explosão de bomba atômica.

















Pior é que esses estudiosos têm razão, cadeia jamais resolveu o problema da criminalidade em lugar nenhum do mundo. Nem a pena de morte consegue intimidar criminosos contumazes: os corredores da morte estão sempre lotados. Apesar disso, o Brasil insiste na penalização cada vez mais veloz de suspeitos, “espetacularizando” (neologismo que se firmou na mídia) o “grande momento” da “prisão temporária”, o que se dá com em impressionante celeridade: o delegado a requer num dia, o promotor concorda e sugere-a ao juiz no mesmo dia, e este expede mandado de prisão no ato, o trio (policial, promotor e juiz) unido em torno da mesma causa: prender por prender o “vilão”, tornando-se assim “heróis da história”.
Sim, há de ser tudo no mesmo dia, ou, no máximo, na manhã seguinte, para acordar o suspeito a atender à porta pensando ser o “leiteiro”, como tão bem insinuou em crítica o ministro-presidente do STF. E o suspeito sai algemado, não sem antes ser filmado pela imprensa dentro de casa, ainda de pijama, com o risco de sua desavisada esposa ser flagrada seminua ou uma criança deparar com homens mal-encarados e armados dentro do seu lar, traumatizando-a para o resto da vida. Legal! Muito legal! É a justiça a serviço do povo! É a vontade do Quarto Poder, que quer porque quer mandar e desmandar no país, como se democracia representasse impunidade absoluta para os catadores de notícias espetaculosas. Viva o teatro do absurdo! Que merda isto está, hein? Como diz o ditado: “Pimenta em olho alheio é refresco!” Sem alusão ao homicida impune...
Com efeito, as cadeias brasileiras estão cheias e, mais que o contingente de criminosos (ou de não-criminosos injustiçados) trancafiados. As ruas estão apinhadas de facínoras praticando crimes de sangue a torto e a direito. Eis o dilema: esvaziar as cadeias e engrossar o contingente de criminosos não alcançados pelas malhas da lei, ou encher as cadeias, mantendo a massa carcerária em ociosidade absoluta e a pensar nos próximos crimes? Duas alternativas péssimas... Resta, pois (quem sabe?), a solução do xerife: trabalho suado e desmoralização dos valentões em vestes e algemas cor-de-rosa. Afinal, lá, nos EUA, país da democracia plena e da pena de morte, enfeitar o detento POOODE!!!!!...









Detento?... Hum... Aqui o politicamente correto é dizer “interno”. Chamar vagabundo de “detento” ou “preso” ofende o pobre-diabo. Mas está posto, e segue o texto para o mundo com os graciosos enfeites indispensáveis à sua espetaculosidade... Mas, quem sabe se com esse texto cola a idéia de montar campos de concentração na caatinga e botar essa turma isolada e cavando buracos no chão duro para o seu colega de crime enchê-lo com a mesma terra cavada, tal como no castigo de Sísifo? Mas, para o trabalho suado ficar suave como a brisa, todo mundo vestido de cor-de-rosa... Ah, já contava com a dúvida!... Quem seria capaz de administrar a novidade? Ora, ora, ora, é só contratar o xerife Joe Arpaio!...













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