terça-feira, 9 de setembro de 2008

Eleições

O voto e suas idiossincrasias

Já muitas vezes afirmei que o melhor momento de prestação de serviços pela PMERJ (vale o argumento para o Brasil inteiro) é por ocasião de grandes eventos a determinarem sua mobilização total e atuação da tropa a comando. As eleições representam um singular exemplo desse modelo de policiamento complementar. Como o planejamento pode ser elaborado em tempo suficiente e as informações das quais a PMERJ depende são colhidas com antecedência, a tropa é distribuída no terreno com precisão absoluta, incluindo-se reposições de última hora em razão de faltas ao serviço, geralmente justificadas, ou por doença ou outro motivo relevante. Numa ocasião assim, nenhum PM é capaz de faltar conscientemente, pois, de antemão, sabe que prejudicará algum companheiro levando-o à dobra do serviço.
Devo reconhecer, entretanto, que o PM, enquanto cidadão, não está muito preocupado em votar. Afinal, seria fácil garantir o seu voto se pudesse ser digitado na seção eleitoral para a qual ele é escalado de serviço. Isto não vem ocorrendo e a tendência do PM, – já cansado e revoltado com política e políticos, – a tendência do PM é não votar em ninguém. Pior é que esse desânimo culmina influenciando negativamente a família, e, muitas vezes, o voto é deliberadamente desperdiçado. Pena! Pois a falta de conscientização da importância do voto pelo PM e sua parentela impede que haja bons representantes políticos a defenderem seus interesses profissionais e familiares. E, mesmo se houvesse conscientização, ela somente teria efeito se se tornasse visível aos políticos, e este talvez seja o nosso maior óbice.
Prova maior desse fracionamento classista está nas diversas “entidades representativas”, que não somente recebem contribuições dos seus associados, mas eternizam seus dirigentes como nos regimes totalitários. Há muitos anos que não se vê disputa de votos a não ser na Associação dos Militares Estaduais, antigo Clube dos Oficiais da PMERJ. Mas os dirigentes de entidades, assim eternizados, são de certa forma legitimados pela mídia, que lhes dá espaço e noticia suas opiniões como se fossem eles verdadeiros líderes classistas. Se o fossem, deveriam democratizar as eleições em suas entidades, o que não ocorre.
Não afirmo que sejam más pessoas, trata-se de cultura errônea, mas esses presidentes de associações, algumas nitidamente ligadas a agremiações político-partidárias, não largam o osso. Pior ainda, fingem-se unidos, mas disputam acirradamente o “mercado interno” oferecendo ilusões e empréstimos financeiros amarrados à obrigatoriedade de os beneficiados se associarem. Cria-se, deste modo, um círculo vicioso, e a categoria funciona como se fora um bolo de festa aniversária em que cada comensal disputa a tapas o seu pedaço. Por isso o PM não exerce devidamente a sua cidadania, esta que, aliás, nem mesmo possui em plenitude.
Mas como integrante de tropa em serviço, o PM exerce sua tarefa com zelo e probidade. Na verdade, nas eleições, salvo para atender aos fiscais do TRE a coibir ilegalidades, o PM permanece no lugar predeterminado e quase que dorme de tanta tranqüilidade com que ocorre o pleito. Mas, por baixo dos panos, há os currais eleitorais organizados muito antes, e os eleitores caminham silenciosamente na fila até depositar o seu voto... No candidato apontado pelo tráfico ou por grupos paramilitares, a “grande novidade” que finalmente veio à tona com a designação pejorativa e errônea de “milícia”.
Na verdade, o eleitor vota a medo do antes e do depois, e não há tropa capaz de evitar essa nefasta influência, pois os caderninhos com as anotações de cada eleitor e sua seção eleitoral estão prontos faz tempo. Eis o cabresto!... Ora, de que adianta tanta ordem durante a votação? Essa ordem, cá pra nós, existe em todas as eleições, e sem a necessidade de reforços por parte das Forças Armadas. “Ah, os reforços virão e resolverão o problema!”, apostam as autoridades públicas em ufanismo, crendo que a medida de última hora evitará o medo anterior e, principalmente, o perigo posterior. E assim o pobre-diabo do eleitor favelado, – na dúvida de que será ele o vitimado, ou seu vizinho, ou seu filho, ou algum outro ente querido, – o pobre-diabo do eleitor favelado vai direto com o dedo no número do candidato apontado pelos mandatários dessas comunidades dominadas. Ora, não é por outra razão que a representatividade política aqui no RJ vem de longe deturpada, não se podendo esquecer os acordos entre políticos e bandidos, que começaram lá na Ilha Grande e perduram até hoje...

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