“O
mundo é perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por
causa dos que os veem e fazem de conta de que não viram,” (Albert Einstein)
Todos
sabemos que estatística é importante instrumento de apoio ao planejamento (estratégico,
tático e operacional) e à tomada de decisões. Em países menos emocionais ela é
vista como mero instrumental técnico, dentre outros procedimentos utilizados
para medir ocorrências e tornar eficientes e eficazes as atividades em geral,
sejam comerciais, industriais, financeiras etc. E também, claro, para avaliar
padrões sociais, religiosos, políticos, policiais, morais etc. Em resumo, serve
para quase tudo que se possa coletar e de alguma forma medir, porém jamais
ultrapassa seus limites técnicos. Por isso, não se deve utilizar a estatística
além do seu valor relativo como mecanismo de diminuição de incertezas num
diagnóstico, assim proporcionando um planejamento capaz de garantir a
eficiência de uma organização para alcançar resultados ótimos (eficácia).
Portanto, estatística não é um fim em si mesma, é meio, e não deve servir como medida
única de julgamentos políticos.
Contudo,
no Brasil, principalmente no Estado do Rio de Janeiro, tornou-se paranoia
generalizada a supervalorização da estatística para medir a eficiência policial
no controle da criminalidade, fenômeno que depende, primeiramente, da
eficiência estrutural da segurança pública vista como um sistema global e
multifacetado de penetração mais profunda na tessitura social. Mas o modismo do
tal “índice de criminalidade” restrito a comparações entre o antes e o depois
tem sido a forma obtusa de trato de um assunto que deveria ser visto sob a
ótica de “fenômeno sociopolítico”, tal como nos ensina Manuel Lopez-Rey em seu
tratado sobre Criminologia: “Criminalidad.
– Por tal ha de entenderse el fenômeno sociopolítico inherente a toda sociedad,
cuya pevención, control y tratamiento requieren um sistema social penal. Consecuentemente, criminalidad no puede reducirse,
como aún frecuentemente se hace, a la totalidad numérica de los delitos
cometidos en un período y país dados...” (Criminologia
– Criminalidad y Planificacion de La Política Criminal (Aguilar ed.,
Madrid, 1978).
Mas
cá no nosso mundo de pseudo-sábios (ou alienados) o uso da estatística na
segurança pública tornou-se meio cruel de se perseguir o próprio rabo... Ora,
segurança pública deve ser visualizada, afirma o importante pesquisador, como
um “sistema social penal” em que a sociedade rotula os crimes e as penas a
serem aplicadas aos criminosos num dado tempo em lugar específico, tudo em
função de valores éticos diferentes. Em resumo, o que pode ser considerado
crime numa sociedade pode não ser em outra. Portanto, - e por outras razões que
alongariam desnecessariamente esta reflexão, - devemos decidir se vale a pena apostar
no valor relativo do tal “índice de criminalidade” para avaliar o desempenho
policial num ambiente social cuja criminalidade em sua maior parte ainda se
oculta na “cifra negra” (espaço abissal existente entre os crimes conhecidos e
aqueles que, por força de diversas causas estruturais e conjunturais, nunca se
inserem nos controles estatísticos).
Afinal,
se o valor da estatística é relativo, é injusto manipulá-la com fins
promocionais. Pois, se a polícia for mais atuante num ambiente repleto de uma
criminalidade ainda desconhecida, o tal “índice de criminalidade” subirá e a
polícia será injustamente vaiada. Mas, se houver omissão, o tal “índice de
criminalidade” diminuirá e a polícia receberá aplausos em vez de vaias... Tendo
isto como verdade, resta-nos a busca de resultados ótimos (eficácia policial)
por vias indiretas, ou seja, pela reestruturação planejada da estrutura de
segurança pública (eficiência policial), com vistas à consecução de objetivos
claros e precisos. O que não se deve é continuar a perseguir o próprio rabo
neste círculo vicioso infinito. Pois uma coisa é certa: enquanto se discute o
tal “índice de criminalidade” com base em estatísticas que podem ser facilmente
manipuladas, a população está a sentir na carne e no espírito uma sensação de
insegurança inolvidável. Devemos, pois, assumir sinceramente esta verdade,
começando por recolocar a estatística nos seus limites reais.
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