“O mundo está perigoso para se viver! Não por
causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta
de que não viram.” (Albert Einstein)
28/10/2016 02h00 - Atualizado em 28/10/2016 10h03
Uma
pessoa foi assassinada a cada 9 minutos no Brasil em 2015, diz estudo
No total, 58.383 pessoas foram
mortas, 160 por dia, segundo anuário.
Sergipe é estado com maior taxa e
RN teve maior aumento.
Cíntia Acayaba. Do G1 São Paulo
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/10/uma-pessoa-foi-assassinada-cada-9-minutos-no-brasil-em-2015-diz-estudo.html
No ano passado, cerca de 160 pessoas foram
assassinadas por dia no Brasil, uma pessoa a cada nove minutos. No total,
58.383 pessoas foram mortas violentamente e intencionalmente no país, retração
de 1,2% em relação a 2014, segundo dados inéditos do 10º Anuário Brasileiro de
Segurança Pública. Já o número de pessoas mortas por policiais aumentou 6,3% (saiba mais aqui).
Os dados de homicídios dolosos, latrocínios e
mortes provocadas por intervenção, que configuram as mortes violentas, foram
obtidos via Lei de Acesso à Informação pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, autor do anuário que será divulgado no dia 3 de novembro.
De janeiro de 2011 a dezembro de 2015, 278.839
pessoas foram mortas no país, número maior do que o de mortos na guerra da Síria, onde 256.124 morreram no mesmo período, segundo o
Fórum. Os números do país do Oriente Médio são do Observatório de Direitos
Humanos na Síria e da ONU.
Para a socióloga Samira Bueno, diretora executiva
do fórum, a retração de 2014 para 2015 deve ser vista com cautela. “Eu sempre
falo de redução com muito cuidado, porque os estados retificam os dados. Então,
na verdade, o que aconteceu não foi uma redução, mas um empate”, disse.
"Não dá pra dizer que tem uma tendência de redução nacional.”
As regiões Nordeste e Norte, por exemplo, seguem
com altas taxas de assassinatos. Os primeiros cinco colocados são das duas
regiões: Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará e Pará.
Pela primeira vez o estado de Sergipe encabeça a
lista, com 57,3 mortes violentas intencionais a cada 100 mil pessoas (aumento
de 18,2% em relação aos dados do ano anterior).
Já o estado de Alagoas, que por anos encabeçou a lista, teve redução de
20,8% na taxa, saindo dos 64,1 mortos por 100 mil habitantes para 50,8, a maior
queda entre todas as unidades da federação. Mesmo assim, ele é o segundo
colocado no ranking.
“O crime
está se organizando e tem cara de briga de facção, por isso o mata-mata", Samira
Bueno, socióloga
Ainda no Nordeste, o terceiro colocado, Rio Grande do Norte, é o que teve maior crescimento
na taxa: 39,1%. O estado passou de 34,9 para 48,6 por 100 mil habitantes.
“No ano passado, estourou o número de homicídios no
Rio Grande do Norte. E em março deste ano, o governo decretou calamidade
pública por conta do sistema prisional. O crime está se organizando e tem cara
de briga de facção, por isso o mata-mata”, disse Samira.
A capital do estado, Natal, foi a que teve o maior
aumento proporcional de casos de homicídios entre as capitais: a taxa quase
dobrou na cidade, de 39,8 para 78,4 por 100 mil habitantes.
Quedas
Para Samira, as taxas aumentam ou diminuem conforme
a prioridade da gestão pública. Os estados que têm programas estaduais de
redução de homicídios e da violência letal ativos foram os que tiveram maior
queda nas taxas.
“O Espírito Santo, que já figurou entre os mais
violentos, por exemplo, tem um dos melhores programas de redução da violência
letal", disse a diretora. Vitória foi a capital que teve a maior redução:
43,6%. "Ceará está investindo pesado nisso e também saiu do topo do
ranking.”
Samira ainda avalia que o recente conflito entre as
facções que agem dentro e fora dos presídios, manifestadas em recentes rebeliões,
"pode piorar ainda mais o cenário se o governo federal não agir
rapidamente em relação a isso".
Os estados que registraram as menores taxas de
mortes violentas intencionais foram São Paulo (11,7), Santa Catarina (14,3) e Roraima (18,2).
Outro lado
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de
Sergipe (SSP/SE) disse que “a metodologia entre os estados não obedece
critérios e protocolos definidos e é muito discrepante”.
“Em Sergipe, a análise é rigorosa e definida por
número de vítimas -- e não por ocorrências, o que gera uma diferença
considerável na comparação com outros estados. A coleta em Sergipe é feita caso
a caso e realizada diretamente no Instituto Médico Legal, com informações
confrontadas de forma rigorosa. Sergipe não ignora qualquer informação e não
permite que haja pendências de dados que devem ser repassados periodicamente à
Secretaria Nacional da Segurança Pública (Senasp).”
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa
Social do Rio Grande do Norte afirmou que “ainda não teve acesso ao anuário”,
mas que “em 2015 o RN superou a meta de redução de CVLI [Crimes Violentos
Letais Intencionais] indicada pelo Ministério da Justiça, com uma redução de 6,3% no
quantitativo de CVLIs quando comparado a 2014”.
Em comunicado, o governo do Rio Grande do Norte acrescenta
que “os índices do estado voltaram a cair após 10 anos de crescimentos
consecutivos”. “Isso significa que em 2015 obtivemos o melhor resultado da
última década, com recorde de redução de CVLIs no RN.”
O G1 procurou também as assessorias dos
governos dos demais estados, mas não obteve retorno até a última atualização
desta reportagem.
Do G1, em Brasília
28/10/2016 11h21 -
Atualizado em 28/10/2016 14h32
Chefes dos poderes discutem segurança
pública em reunião
Temer, Renan, Carmen Lúcia e ministros
foram ao encontro no Itamaraty.
Autoridades não falaram com a imprensa na chegada ao palácio.
Luciana Amaral, Bernardo Caram e Renan Ramalho
Os presidentes da República, Michel Temer,
do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros(PMDB-AL), e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen
Lúcia, iniciaram no Palácio do Itamaraty, na
manhã desta sexta-feira (28), uma reunião para discutir a segurança pública no
país.
Eles não chegaram pela entrada principal
do palácio, sede do Ministério das Relações Exteriores, mas por uma entrada
lateral. Sem falar com a imprensa, o grupo atravessou o salão e foi para uma
sala reservada.
A reunião é o primeiro encontro entre
Cármen Lúcia e Renan Calheiros depois das críticas públicas que os dois trocaram ao longo desta semana após uma
operação, autorizada pela Justiça Federal do DF, que prendeu integrantes da
polícia do Senado.
Além dos chefes dos poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário, foram chamados para a reunião desta sexta o presidente
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, os ministros Alexandre de Moraes
(Justiça), Raul
Jungmann (Defesa), Sérgio Etchegoyen (Segurança Institucional), José Serra (Relações
Exteriores), o diretor da Polícia Federal,
Leandro Daiello, e o presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), Cláudio Lamachia.
Também foram à reunião desta sexta os
comandantes da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal, do Exército, general
Eduardo Villas Bôas e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Nivaldo Rossato.
O encontro foi articulado por Cármen
Lúcia, segundo informou o Blog do Camarotti, em razão de episódios recentes na
segurança pública do país, como: a crise no Rio Grande do Norte depois que o governo decidiu bloquear celulares em
presídios; as ameaças de gangues à realização das eleições no Maranhão; os
crimes violentos no Rio Grande do Sul; e a saída de José Mariano Beltrame da
Secretaria da Segurança Pública do Rio de Janeiro.
Nesta quinta (27), durante entrevista à
imprensa, no Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer disse a jornalistas
que a reunião deverá servir para "traçar panoramas" para a segurança
pública do país.
"A partir deste panorama, vamos
tentar apresentar soluções. Logo depois, reunir-se-ão governadores, secretários
de segurança e etc. que vão continuar a tratar deste assunto", declarou o
presidente na ocasião.
MEU COMENTÁRIO
Por mais importante
que seja a Operação Lava a Jato, não há como ignorar situações de violência e
criminalidade mais graves que mandar corruptos para o xilindró, assim como não
se pode mais subestimar as manifestações estudantis e outras conspirações orquestradas
por amantes do caos como forma de desordenar a vida pública e sobressaltar a
sociedade.
Na verdade, – e como
diz o ditado: “um abismo puxa outro”, – na verdade neste mundo global tudo é
sistema interagindo, interatuando e se interdependendo permanentemente, num
processo dinâmico e crescente. Daí o sistema estatal não poder concentrar seus esforços
num só sistema situacional criminoso, como hoje ocorre no Brasil por conta da
saudável onda de saneamento do meio político e burocrático do estado, de modo a
que o erário público não mais seja dilapidado por pilantras que transformaram
boa parte do mundo oficial em submundo do crime. Mas, enquanto isso, os demais
sistemas e subsistemas situacionais criminosos, – em especial os de armas e
drogas ilícitas, – vêm florescendo a passos largos no país, demandando ações
globais e específicas tão ou mais urgentes que as bem-sucedidas medidas do MPF,
da PF e da Justiça Federal contra a corrupção que grassa como “peste bubônica”
na Administração Pública.
Com efeito, desdobrar
recursos diversos e diferenciados para atender a tão volumosa e complexa
demanda implica considerar “o todo maior que a soma das partes” (globalismo).
Mas, em relação a isto, o país engatinha como bebê, anda a passos de tartaruga,
está desnorteado tal e qual cego em tiroteio. Portanto, é preciso retomar as
rédeas do sistema situacional estatal e fazê-lo funcionar em concomitância com
a Operação Lava a Jato e seus incontáveis desdobramentos atuais e futuros. Isto
é inadiável, e não há mais tempo nem espaço para tergiversações acadêmicas que
parecem tornar virtual uma situação concreta: expandem-se assustadoramente o
crime organizado do tráfico de drogas e armas e suas consequências trágicas,
traduzidas em crimes de sangue, como resumido na matéria primeira que escora
este comentário.
Enfim, estamos
atrasados. O trem da violência e do crime já passou faz tempo. Correr atrás
dele, passar à sua frente e puxar seu freio não será tarefa simples. Quiçá seja
impossível, em especial num curto prazo. Demais disso, indaga-se: “Por onde e
por quem começar? Como será a tentativa de destruição desta pirâmide
transnacional do crime que envolve no mundo trilhões de dólares/ano e que
infesta o Brasil em todos os seus escaninhos subterrâneos?”.
Bem, o primeiro passo,
pelo menos aparentemente, foi dado, como nos informa a segunda matéria
jornalística em sublinha. Mas, cá entre nós, “primeiro passo” inegavelmente marcado
por conflitos entre poderes que deveriam ser harmônicos. Fazer prosperar a boa intenção
até se chegar à ação parece coisa surreal, inalcançável, mera tentativa de
maquiagem visando a mais uma vez empurrar o problema com a barriga. Sim, porque
não creio na boa intenção dessas autoridades; nem creio que sejam desprendidas
a ponto de se esquecerem de seus valiosos umbigos corporativistas.
Sei que a reunião é de
primeiro momento e não sei que profundidade houve na conversação; mas presumo
que seus desdobramentos, se não incluírem um pacote de mudanças estruturais no Sistema
Nacional de Segurança Pública, de pouco adiantará a prudente iniciativa. Porque,
quando falo de Sistema de Segurança Pública, deve-se entendê-lo como Sistema de
Justiça Criminal, como nos ensina a Doutrina de Ordem Pública em seus aspectos
materiais (SER) e formais (DEVER SER). Ou seja, só é “sistema nacional” se forem
considerados, no mínimo, os seguintes subsistemas: Polícia (civil e militar,
federal e estadual), Ministério Público (federal e estaduais), Justiça Criminal
(federal e estaduais), Leis Penais e Processuais Penais, Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), Sistema Carcerário e Guardas Municipais.
Além desses
organismos, urge também instituir um subsistema formado por segmentos da
sociedade que hoje estudam a violência e o crime, sendo certo que é fundamental
que o tema seja tratado sem ideologias e sem preconceitos semânticos, de modo a
resgatar a Doutrina Nacional de Ordem Pública como um sistema
técnico-científico já com fins bem definidos em vista de causas e elementos
condicionantes da criminalidade. Isto evitará espaço para “achismos”, como é o
caso da Força Nacional de Segurança Pública, nascida de uma necessidade em
junho de 2004, mas situada fora do sistema desde a Constituição Federal, que
não a inclui no rol dos organismos de segurança pública no seu artigo 144, o
que a torna aleatória, o que de fato é: um amontoado de PMs e BMs estaduais que
fazem falta em suas instituições de origem. Pois a FNSP é espécie de “programa”
do Ministério da Justiça. Não é instituição consagrada na Carta Magna. Por
outro lado, ela se vem legitimando pela necessidade de preservar as Forças
Armadas de missões que as coloca de costas para o mundo e de peito para o
Brasil. É útil, sim! Mas ainda ilegal!
O que entendemos como
Força Intermediária de Segurança (Gendarmerias e outras denominações dependendo
do país considerado) surgiu primeiramente na França e se consolidou mundo afora.
E assim passou a preservar a imagem dos Exércitos de Linha, que não devem se
expor aos azares da atividade repressora do Estado nem se dedicar à execução de
serviços policiais, por mais interessantes que o sejam, exceto em situações de
catástrofes naturais e artificiais que exijam sua atuação da Defesa Civil. Aliás,
sobre as atividades de Defesa Civil o Brasil está na contramão da doutrina e da
ação ao reduzi-la a atividades de bombeiros militares, assim confundindo-a com
a atividade operacional de corpos de bombeiros militares historicamente
definidas aqui e no mundo. O fato de a Defesa Civil (que é bem mais) estar
embolada com as restritas atividades de salvamento e combate a incêndios,
torna-a confusa e impede o seu desenvolvimento estrutural e conjuntural
autônomo e capaz de coordenar esforços governamentais e não governamentais contra
calamidades naturais e artificiais, sendo certo que muitas delas dispensam a
ação típica de bombeiros militares ou civis.
Enfim, essas
autoridades públicas, – que pela primeira vez em muitos anos se reúnem para
cuidar do tema segurança pública (ou já seria segurança interna, esquecidos os
preconceitos semânticos?), – essas autoridades públicas, mesmo que partam à
ação imediata e improvisada, não podem perder o foco do todo que
concomitantemente necessita ser revisto e reformulado a partir da Carta Magna,
sem essa de conflitos corporativistas de muitas instituições que se dedicam bem
mais à concentração de poder para si mesmas (dos seus umbigos) do que ao
interesse maior da sociedade, o que doutrinariamente poderíamos designar como
Interesse Público.
Cá entre nós, de nada
adiantará reunir instituições historicamente conflitantes se não houver pulso
firme do Poder do Estado representado pelos Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário no nível maior, nacional, de modo a enquadrar todo o Sistema de Segurança
Pública considerando-o um só sistema estruturado desde a União, passando pelos
Estados-membros e alcançando os Municípios. Todavia, como fazer isto, como
aglutinar em torno de objetivos comuns tantas organizações viciadas em poder
para si, em meio a esta sociedade desorganizada e assolada pela máxima
violência e pela criminalidade, honestamente não sei. Sei, porém, que a atual
conjuntura que fundamenta a atual estrutura de segurança pública está carcomida
por vícios de origem que precisam ser sanados a partir da Carta Magna,
reescrevendo-se o que nela consta desde antes de 1988.
Se não houver um
estudo do problema da segurança no seu sentido global e uma mudança drástica das
atuais estruturas do Sistema de Justiça Criminal, ideologias à parte, aí a
violência e o crime, que já se encontram num nível estremo de calamidade aguda,
tornar-se-ão calamidade social crônica, tal como se vê na Colômbia e em outros
países do Cone Sul.
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