quinta-feira, 19 de novembro de 2015

RIO EM GUERRA – PM ESTRESSADA





"A ordem pública periga onde não se castiga." (Marquês de Maricá)



Publicado em 18/11/15 06:00 Atualizado em 18/11/15 07:30 

Quase um terço do efetivo de UPPs tem distúrbios psicológicos
  
RIO — Encurralado por traficantes, o policial militar X. pensou que ia morrer. Foi em dezembro do ano passado, durante um confronto numa das 38 favelas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio. Até hoje, ele, que viu três colegas serem baleados, sofre por causa do episódio. Depois de seis meses afastado, X. voltou ao trabalho, mas só desempenha tarefas administrativas, pois segue em tratamento psicológico e não pode portar uma arma. É uma situação comum na corporação: com base em uma pesquisa que constatou distúrbios psicológicos em 29% da tropa da UPP Nova Brasília, no Complexo do Alemão, o comando geral da PM estima que o problema atinja a mesma proporção — quase um terço — do efetivo que atua nas áreas em processo de pacificação.

— Estamos preocupados com os nossos policiais. Precisamos detectar o que está causando esse estresse pós-traumático e, principalmente, tratá-los — afirma o comandante-geral da PM, coronel Alberto Pinheiro Neto.

O GLOBO teve acesso à pesquisa um dia depois de o Instituto de Segurança Pública divulgar que, numa comparação entre os primeiros semestres deste ano e de 2014, houve um aumento de 55% no índice de mortes violentas em áreas com UPPs. Nas entrevistas com os policiais, foram feitas 20 perguntas elaboradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os sintomas mais comuns relatados no questionário foram “sensação de nervoso”, “tensão” e “preocupação”, além de dificuldade para dormir e realizar as atividades diárias com satisfação.

A pesquisa também foi feita em três batalhões: o 7º BPM (São Gonçalo), o 9º BPM (Rocha Miranda) e o 41º BPM (Irajá). Na área de Rocha Miranda, o percentual de policiais com “sofrimento mental” (que inclui sete ou mais sintomas de distúrbios psicológicos) foi maior do que na UPP — chegou a 32%. Mas, nos outros dois batalhões, ficou abaixo do registrado na unidade de Nova Brasília: 21% em São Gonçalo e 27% na região de Irajá.

As entrevistas estão sendo realizadas em outras regiões consideradas críticas, chamadas de “áreas vermelhas”, como o Morro do Alemão e o Parque Proletário, no Complexo da Penha.

— O policial pode ser vítima dele mesmo por estar fragilizado, passando por algum problema psicológico. Seu erro pode atingir a família e a sociedade. A corporação quer dividir a responsabilidade com ele. Por isso, estamos fazendo essa pesquisa, para conhecer as condições dos nossos policiais.

Outra notícia:

19 nov 2015 - EXTRA

MP recusa inquérito da Divisão de Homicídios

Para promotor, investigação que inocentou PMs por morte de menor está cheia de falhas.

 

O promotor Homero das Neves contestou o resultado de um inquérito da Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil e, contrariando um parecer do diretor da especializada, delegado Rivaldo Barbosa, denunciou um PM pela morte do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, ocorrida no dia 2 de abril no Complexo do Alemão. Em entrevista exibida ontem pelo “Jornal Nacional”, da Rede Globo, o representante do Ministério Público estadual disse que há várias contradições na investigação policial e afirmou que o caso precisa ser levado a júri popular.

 REPRODUÇÃO Foto da reprodução simulada mostra onde Eduardo (B) estava
 
No chamado Relatório de Local de Homicídio (RLH), feito no dia do crime, a polícia afirma que não foram apreendidos estojos, cápsulas de bala, ou qualquer outro material que indicasse a ocorrência de um confronto segundo Barbosa, Eduardo foi baleado por um PM que reagiu a um ataque de traficantes. Mas um laudo entregue seis dias depois diz que foram encontrados próximos ao local três estojos de calibre .40. O perito que assina o laudo faz parte da equipe que elaborou o RLH. 

— Arrolei o perito como testemunha justamente para que ele possa dizer por que, numa primeira vez, ele não acha cápsula alguma e, numa segunda, acha três — disse Homero. 

O inquérito da DH, assinado pelo delegado Alexandre Herdy Barros, recomendou o arquivamento do caso, sem indiciamento de nenhum dos 10 policiais — dois da UPP do Alemão e oito do Batalhão de Choque — pela morte do menino.

MEU COMENTÁRIO


A matéria deveria ser lida pelo promotor de justiça que não aceitou o parecer da PCERJ e resolveu denunciar o PM que matou uma criança no Complexo do Alemão. Não que a decisão do membro do MP não possua lógica, tal como a conclusão do delgado de polícia também a possui – toda moeda tem dois lados...
A questão deve, por conseguinte, ser deslocada para aqueles que detêm a responsabilidade de manusear a tropa. Sim, manuseio é palavra coerente com a realidade da PMERJ, tão antiga que lembra a barragem mineira, carcomida pelo tempo e entregue ao descaso humano, que destruiu num só golpe o rio Doce. 

Digo manuseio, sim, porque a tropa é efetivamente manuseada como gado ao dispor dos tropeiros, estes que, por sua vez, são manuseados pelos latifundiários, de modo que juntos (tropa e tropeiros) formam uma manada de “pés duros” em pasto de capim nativo ou simplesmente seco. Ou seja, mesmo que parte da boiama morra, o latifundiário (Estado e Elite Social) lucra. Daí não lhe interessar a saúde da manada nem dos tropeiros, a reposição é fácil e barata. Que morram, então, tropeiros e tropas!

Claro que é fácil arguir de um gabinete refrigerado a realidade de quem caminha numa favela que já matou oficiais e praças, curiosamente depois de “conquistada e pacificada”. Tudo muito recente. É realmente simples julgar papeladas, seus pontos e vírgulas, o sentido enviesado de uma frase aqui, a má colocação pronominal acolá etc. É muito fácil fugir da realidade tal como sugere o provérbio alemão: “A árvore impede de ver a floresta." 

Ou seja, é fácil fugir do contexto e se fixar no nefasto resultado (morte do menino), como se o desgraçado do PM, que não queria morrer, estivesse ali disposto a matar quem pela frente encontrasse, sem considerar minimamente a ideia de que ele não estava psicologicamente preparado para atuar numa área de alto risco, autêntica zona de conflito que deveria estar sendo pacificada pela ONU, pois resume todos os ingredientes que a caracterizam. 

Cá entre nós, o delegado, - que come o pó do perigo bem mais que o promotor de justiça, - o delegado decerto viu a “floresta”, enquanto o outro, - mui poderoso e capaz de menoscabar e rasgar a papelada num átimo, - o outro preferiu ver somente a “árvore”, em decisão agora duplamente trágica, pois somou a tragédia do menino, que deu o azar de nascer e viver na perigosa favela, com a do PM, que talvez tenha a mesma origem de nascença, mas conseguiu sair da miséria para voltar como PM, portando um fuzil de guerra (desculpe-me pela redundância, mas é necessária), e matar erradamente o seu par no infortúnio. Porque é certo que ele ali estava com a mente fixa na ideia de viver e não pensava matar nenhuma criança. Mas será encaminhado aos azares do júri popular e posto a ferros, que é o mesmo que ser mandado ao matadouro e à fila do abate, que não retrocede jamais desde os tempos imemoriais. E o PM se tornará mais um pedaço de carne de boi magro a ser consumido exatamente por favelados e seus vizinhos periféricos. Carne barata!...


Não vou mais longe, o leitor é sábio e saberá comparar as duas matérias para concluir pela “árvore” ou pela “floresta”...




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