quinta-feira, 2 de abril de 2015

RIO EM GUERRA XXXVI

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

G1 Rio

30/03/2015 19h42 - Atualizado em 30/03/2015 20h16

Imagens mostram PMs encurralados na Rocinha durante tiroteio

Em outro flagrante, homens armados entram na Mangueira.
Beltrame admite que programa de UPPs precisa de ajustes.

Obs.: sem os vídeos da matéria original, que podem ser assistidos acessando o G1 Rio na data acima.

O fim de semana foi de tensão em duas comunidades pacificadas do Rio de Janeiro. Imagens do RJTV mostram um intenso tiroteio na Rocinha, na Zona Sul, e homens armados entrando na Mangueira, na Zona Norte.
A noite de sábado (28) foi de tensão na Rocinha: encurralados num beco na parte alta do morro, policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) trocam tiros com traficantes. As imagens mostram a sequência de tiros, que acertam a parede de uma casa. Durante o tiroteio, traficantes se comunicam pelo rádio.
 “Os cana tá no alto”; “aonde cumpadi?”; “a gente tá aqui no bagulho aqui, tá tiro pra caramba”, conversam entre si os supostos traficantes.
Um policial ficou ferido e criminosos também foram baleados. Mas ninguém foi preso. No domingo (29) a PM fez nova operação na Rocinha e mais um policial foi ferido.
O fim de semana foi de tiroteio também na Mangueira. Imagens mostram mais de dez homens armados invadindo a favela. Um deles percebe que está sendo gravado e quebra a câmera.
Segundo a polícia, o grupo chefiado pelo traficante Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, tentava expulsar uma quadrilha rival que comanda a venda de drogas na Mangueira.
O Batalhão de Choque impediu a invasão. Armas e munição foram apreendidas. Quatro traficantes morreram e dois policiais ficaram feridos.
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, admitiu que as UPPs precisam passar por ajustes. Segundo disse, a primeira fase do projeto chegou ao fim e agora é preciso avançar (veja no vídeo ao lado).

“Precisamos equipar essas UPPs com estrutura definitivas, capacitar policiais. Em qualquer programa na vida da gente, ajustes têm que ser feitos.  E continuaremos fazendo, mas isso não é garantia que nada mais vai acontecer no Rio. A segurança pública é um paciente em estado febril. Difícil de se vencer”, declarou.
MEU COMENTÁRIO

Eu poderia aqui cuidar de outros temas, porém não consigo ignorar o Rio de Janeiro como hoje ele é, não mais como nos tempos de João do Rio e de outros cronistas historiando sobre românticos personagens socialmente desviados. Eram poucos e famosos por suas malandragens que pouco incômodo causavam à sociedade e à polícia. Bons e velhos tempos...

Mas mundo mudou, o Brasil mudou, o Rio de Janeiro mudou! Para pior, muito pior...

O tráfico de drogas e seu uso indiscriminado (por que não dizer “democrático”, já que vai da favela à cobertura de luxo em Ipanema?) garantem a demanda crescente e o lucro astronômico dos traficantes. E já que eles estão à margem da lei, tendo como crime grave, por si só, o próprio tráfico, por que iriam eles se preocupar com os crimes de sangue? Por que não cometê-los com naturalidade?...

Neste cenário de extrema gravidade, a ponto de simultaneamente movimentar estruturas policiais, políticas e judiciais em espantosa pujança, combater o crime é tarefa hercúlea. Mas ao policial, principalmente, é deveras arriscado superar não apenas o poderio dos traficantes e suas facções organizadas, mas as barreiras institucionais paradoxalmente forjadas por aqueles que, em eloquência cinematográfica, costumam transformar abnegados policiais em criminosos. Mas para a preconceituosa mídia o traficante é somente “suposto”...

A sabotagem ao labor policial no contexto do próprio sistema estatal é efetivamente absurda. Dá-se pela ação nefasta de ONGs ideológicas e mercenárias, por boa parte da mídia consumida pelo vício e por agentes públicos corruptos (não necessariamente da polícia). Essas instituições são as que insistentemente tamborilam ao mundo, em compadrio, a falsa ideia de que a polícia não presta. E o povo ignaro, nadador de piscina e avaliador de superfície, absorve num átimo a falsidade e a dissemina por tudo que é canto. E a onda negativa chega então às salas de aula, e é propagada por muitos mestres e mestras de ideologia contrária à ordem vigente, como se esta ordem fosse invenção da polícia, coisa “da direita”, e, portanto, “artificiosa” em gênero, número e grau e em todos os seus tempos e modos.

Eis o desconfortável cenário em que o aparato policial atua hodiernamente no Rio de Janeiro. No início, todos exultaram com o sucesso das UPPs, sendo certo que elas ainda funcionam a contento em pequenas comunidades. Mas a passada larga e apressada da PMERJ, – que se poderia representar pelas comunidades da Rocinha, do Complexo do Alemão e da Cidade de Deus, para não citar desastres menores como o da Mangueira e de outras favelas onde a reação do banditismo às UPPs se faz com muitos ferimentos e mortes de PM, – a passada larga e apressada da PMERJ vem agora a atordoar os gestores da segurança pública, aos quais não é permitido o direito de recuar. Só lhes cabe “avançar”...

Ora, não poder recuar representa grave óbice. Afinal, o recuo também se integra à “arte da guerra”; e mais: estacionar ou avançar sem meios é se arriscar à derrota fragorosa; e mais: vem aí a ocupação do Complexo da Maré, lugar que nem as FFAA deram jeito após se dedicar por um ano à tentativa de pacificar as 16 favelas que o compõem. Agora se retiram, ou seja, recuam quiçá em obediência aos ensinamentos de Sun Tzu, para não amargarem fracasso como o dos EUA no Vietnã.

O secretário Beltrame, policial escolado, sabe disso; e se esforça, com seu linguajar direto, e por meio de alegorias simples ao entendimento do povo, no sentido de alertar os andares de cima da política, da justiça e da mídia para os riscos que corre o programa das UPPs. Não sei se ele conseguirá sensibilizar as pessoas; mas, por outro lado, ninguém lhe poderá dizer que houve aviso prévio... Já eu, no entanto, temo que ele não logre êxito, pois não são esses segmentos feitos de santos e anjos. Os exemplos estão por aí, é só rememorá-los e imaginar que não são únicos, apenas foram desvelados devido aos excessos de seus levianos personagens, que continuam protegidos por seus pares, embora não mais sejam “supostos”...

A verdade é que as facções criminosas do tráfico no Brasil são mais poderosas do que imagina a vã filosofia. Quem quiser ter certeza disso, basta baixar no Google as obras de pesquisa do jornalista Carlos Amorim (ainda bem que não é policial, o que bastaria para descredenciar toda a sua obra): “Comando Vermelho – A História Secreta do Crime Organizado” e “CV-PCC – A Irmandade do Crime”. Sim, nem precisa mais que a leitura desses dois livros para que o nado de piscina se torne mergulho em oceano profundo...

Quanto a mim, permaneço por aqui acendendo lâmpadas, lamparinas, velas e fósforos a tentar iluminar a podridão do tráfico, do qual venho sendo vítima em virtude de seus dissimulados prepostos estatais e midiáticos, que são muitos, e poderosos, e importantes, e insensíveis, e cobiçosos. E são sórdidos!... Por isso sei que falo com pouca chance de credibilidade; porque, desgraçadamente, o povo gosta mesmo é de ser iludido pelas lindezas televisivas que exaltam atores e atrizes de novela, e cantores e cantoras do glamouroso mundo fashion; e ama ver sua polícia apanhar pancadas físicas e morais...

A favor da polícia, todavia, há a máxima francesa: “Polícia é o termômetro que mede o grau de civilização de um povo.” E nem é preciso dizer que, por via de consequência, “todo povo tem a polícia que merece.”


E é o que basta!

2 comentários:

dalto disse...

Coronel Emir
Com todo respeito com toda sua experiência policial,ás pessoas ainda perguntam o porque na invasão anunciada e cinematográfica com parte da mídia..., dezenas de bandidos em fuga espetacular, em motos ,pick ups, bandidos socorrendo outros bandidos, ou seja espetáculo ridículo e deprimente, e todo aparato policial vendo e nada foi feito.
Com a ocupação sempre anunciada com antecedência e dizem que é para não ferir moradadores ou policiais.
Nestas comunidades ao ser anunciadas, alguns bandidos fogem, outros ficam e os que saíram Voltam.
Eu só queria entender, pois eis aí o resultado da euforia da ocupação.

Anônimo disse...

Emir disse:

Caro Dalto

Para mim aquilo não foi fuga, foi retirada ao modo da guerrilha, seguindo ensinamentos surgidos na Guerra do Vietnã. Desde a Ilha Grande que o CV conhece as táticas de guerrilha urbana e rural dos vietcongs. Uma delas é recuar quando o inimigo ataca. Outra é inquietar quando o inimigho estaciona. É o caso do Alemão e das demais favelas com UPP, situação em que a PM fica estacionada e à mercê de emboscadas, tais como aconteciam no Vietnã com as patrulhas norte-americanas. E no final, com o recuo das tropas americanas, os guerrilheiros avançaram até Saigon numa das mais estonteantes derrotas do mais poderoso exército do mundo. Insisto na tese de que os bandidos recuaram pela rota de fuga. Poderiam ser dizimados, mas sabiam que isto não ocorreria aos olhos da imprensa. Aquela euforia, que eu ironizo no meu último romance (FOGO URBANO), foi a cenaq mais ridícula que já vi nesses anos que tenho de vida dentro e fora dos quartéis. Fui instrutor de Comando no antigo RJ. Comandei o pior dos batalhões (nono batalhão). Sei que não há como estacionar grandes efetivos de modo permanente. Além de faltar efetivo para policiar preventivamente pela máxima frequência, o homem parado ou em pequenas patrulhas em área de risco e terreno desconhecido é alvo certo. É o que vem acontecendo. Confira meus artigos sobre UPPs e veja se eu não cantei essa pedra lá atrás, embora sempre respeitando a empolgação dos companheiros que doaram a vida acreditando no impossível: pacificar favelas do modo como vemos, ou seja, errado.