O caótico banditismo
reinante no RJ, não apenas na Capital, mas em toda a Região Metropolitana do
Grande Rio e Regiões de Desenvolvimento do interior, deve ser posto como efeito
de muitas causas acumuladas e de muitos efeitos que se tornaram causas em
círculo vicioso.
Trata-se, sem
dúvida, de processo histórico e não de fato isolado, como geralmente é noticiado
à sociedade em imediatismo jornalístico e ideológico. E a sociedade, conformada
de berço, – preferindo ser cliente do seu falido Estado, – torna-se eterna refém
de si mesma, até que um de seus segmentos mais enfraquecidos, a família, é
atingido por multivariadas tragédias que configuram um ambiente criminoso no ápice
do desastre social.
Aí a família sofre
duplamente: a dor da perda e o espanto de se ver isolada, sem receber qualquer
solidariedade nem mesmo em retórica. Fica então a clamar por justiça e paz
gravando em camisetas brancas o rosto do seu ente querido vitimado pela crônica
violência, juntando-se em procissão a outros familiares igualados pela mesma
dor, ou seja, caminhando do nada a coisa nenhuma.
E as vítimas se vão
avolumando, e sendo esquecidas, eis que atropeladas por novos acontecimentos desastrosos
a atingirem outras famílias, ressalvando-se o fato de que a permanência passiva
dos membros da sociedade no mesmo ambiente social costuma gerar novas vítimas
entre os já enlutados, em reincidência mais que provável. Na verdade, quase que
certa...
Impressionante é que
nada muda na sociedade. Ela permanece entregue ao proselitismo descarado de
políticos ladrões, enquanto o tráfico de drogas e crimes conexos proliferam no
mesmo submundo das roubalheiras astronômicas de dinheiro público. A quantidade
é tanta que daria para aparelhar convenientemente o Estado, não apenas no campo
restrito da segurança pública, mas também em outras variáveis fundamentais ao
desenvolvimento da qualidade de vida dos cidadãos, como, por exemplo, – e para
não ser longo, – a saúde e a educação.
Mas tudo que se
pensa em termos de dinheiro público e do seu direcionamento aos serviços
destinados à população passam antes pela corrupção. Isto na União, nos
Estados-membros e nos Municípios, não se conhecendo exceções a não ser em
virtude de maracutaias que ocorrem na escuridão da impunidade e não foram ainda
alcançadas. E quiçá jamais serão desveladas.
A corrupção está tão
desbragada que basta qualquer cidadão observar os sinais exteriores de riqueza
de pessoas suas conhecidas, antes simples e até simplórias, e que hoje transitam
em carrões, moram em mansões, e rodam o mundo em viagens turísticas, ostentando
em despudor suas roubalheiras. E nada lhes acontece, e quando algum jornalista
de tablóide parte em denúncias é alcançado por uma saraivada de balas e fim, o
dinheiro roubado também resolve os incômodos que surgem de caminho...
Sei que pondo assim
o assunto, ele se transforma em retórica sem qualquer efeito prático. Mas se estas
reclamações forem comparadas às notícias diárias de mortes de civis e de policiais,
com reprisadas investigações policiais, ministeriais e judiciais que não apuram
nada, aí o cidadão pode concluir que está mesmo é ferrado, que não pode contar
com o Estado que sustenta com seu resignado suor.
Trazendo o zum para
o RJ, podemos afirmar sem erro que suas duas polícias (civil e militar) só
cuidaram de “inimigos internos” e de “subversivos” antes da abertura política.
Na realidade, pararam no tempo ou gastaram-no formulando dossiês contra tudo e
todos, numa futricaria que destruiu muitas reputações. E, quando não futricavam,
iam à clandestinidade matar gentes inocentes.
Enquanto isso, o
banditismo do tráfico, principalmente, se foi proliferando e se instalando em
metástase nas favelas, recrutando mão de obra num universo de imobilidade
social abundante. E o resultado aí está: o caos de um banditismo urbano difícil
de erradicar com os meios estatais disponíveis.
Situação calamitosa
deste porte não se resolve com polícia, não se desconstrói com meia dúzia de
bem-intencionadas UPPs em algumas favelas, nem se retrai com retórica
jornalística a denunciar desvios de conduta de policiais para fingir “zelo
social”. Aliás, a imprensa não pode resolver nada porque faz parte do problema,
assim como o resto da sociedade que corrompe e quer punir o corrompido como se
nada devesse à corrupção que patrocinou. Ora!...
É impressionante o
cinismo de políticos e burocratas, todos subservientes à mídia mercenária,
praga maior que põe o “ex-pobre” na condição de socialite, certo de que mentiu
ao eleitor da primeira vez, prometendo mudar tudo, e retornou muitas vezes
comprando o voto que conquistara na lábia. E depois disso nem mesmo retorna ao
eleitor, mas recebe o voto agora comprado por seus prepostos, pois eles, antes pagador
de sacrificados carnês, é agora milionário e não mais pode misturar-se aos
pobres. Até mantém segurança para afastar os inoportunos.
Numa sociedade
assim, extremamente corrupta, característica reinante no Brasil e no RJ, o
poder dominante sugere em cinismo restaurar a paz no calamitoso ambiente social
aumentando o número de policiais recrutados entre rotos e esfarrapados.
Treinam-nos de qualquer maneira, enfiam-nos numa farda feia, dão-lhes um fuzil
e os mandam à desigual “guerra contra o crime”. E os mortos de fome, muitos
deles bem mais interessados no quinhão da corrupção, em vez de alcançá-lo
morrem, e morrem, e morrem... De tiro!
Impossível! Isto só
mudará se descer um meteoro e destruir todos os corpos e mentes sujos, o que é
impossível porque antes morrerão os corpos e mentes limpos, que não serão
avisados e não estarão abrigados do perigo. É assim que se vê quando desliza um
barranco e a lama soterra barracos e destrói vidas humanas de mente limpa,
talvez até alcançando algumas mentes sujas, mas serão sempre poucas em relação
à maioria dos inocentes. E o desastre vai em frente tal como onda do mar que
cresce, e ultrapassa a arrebentação, e se torna um tsunâmi.
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