Faz tempo que não escrevia neste meu blog. Uma das razões foi minha
dedicação a um novo romance a ser brevemente lançado; outra foi preguiça mesmo,
ou quiçá desânimo por perceber que as pessoas estão deveras apressadas,
preferindo navegar nas redes sociais de conteúdo sem profundidade, vício diante
do qual humildemente me rendo... Entendo, portanto, a preferência, o mar não
está pra peixe, ninguém mais quer pescar de anzol, interessa à maioria a rede
no espelho d’água para garantir peixes pequenos antes de eles afundarem a
procriar. Enfim, predomina o continente em vez do conteúdo, vence o
conhecimento fragmentado e superficial que, ao fim e ao cabo, não é conhecimento,
mas pura ilusão.
Sim, os temas importantes para a sociedade vêm sendo substituídos por
linguajares sem sentido e pelo narcisismo de muitos e muitas; prevalece nas
redes sociais o imediatismo das palavras cortadas, das incorreções aberrantes,
porém tidas como “normais” por ser modismo escrever assim. Mas esta cultura do
erro desemboca nas provas de concurso contendo textos que vão às raias do
absurdo, tamanha é a ignorância de seus autores, que, por sinal, imaginam fazer
o certo. Pior ainda quando alguns mestres os corrigem dando-lhes razão, eis estão contaminados pelo mesmo vício da pressa
inimiga da perfeição. Daí é que a nação afunda numa “lama cultural” a soterrar
seu principal elemento agregador: a língua pátria.
Tudo hoje se resume a siglas massificadas por um marketing cujo
compromisso é o de distorcer a realidade, tal como faz o mágico ao passar o
pano diante de sua caixa de surpresas para dela retirar coelhos, pombos e
pessoas que não cabem ali. Mas todos se encantam e creem piamente que aquela
ilusão é realidade. Assim é a ilusão das Unidades de Polícia Pacificadora
(UPP), hoje dando água em muitos lugares onde foram instaladas com estrondoso
barulho midiático. Com efeito, as pessoas nem mais lembram onde algumas delas estão
funcionando, e como estão no seu dia a dia; mal sabem que os “temporários”
containers sem um mínimo de conforto ou capacidade de proteção contra tiros
apodreceram ao longo destes anos de cascatas visando a iludir estrangeiros e assim
garantir a Copa do Mundo em solo pátrio, em especial em sua principal “arena”:
o Maracanã.
Agrava-se a questão das UPPs não apenas pela desinformação quanto aos
seus efetivos e problemas. Nada se sabe do moral desta tropa a não ser por
poucas iniciativas de PMs lotados em algumas delas. Publicam nas redes sociais
notícias otimistas, porém logo atropeladas pelo anúncio de mais uma vítima
atingida por tiros de traficantes em locais que, em tese, estariam pacificados.
Como?... A verdade é que a “caixa-preta” das UPPs só deve ser aberta na próxima
gestão governamental, isto se ocorrer alternância de poder e assumir algum
autêntico adversário dos atuais gestores do RJ.
Enquanto as informações não chegam, enquanto a “caixa-preta” permanece
tal como a boceta de Pandora guardando seus males, enquanto não surge uma
Penélope para abri-la em curiosidade, devemos nos render ao desconhecimento.
Mas, se for aberta, os males poderão ser tão tamanhões que não serão fáceis de
serem extirpados da corporação e do ambiente social hoje assolado principalmente
pelas alarmantes assassinatos de PMs, jovens ou antigos, e de todos os meios e
modos, na esteira da impunidade de seus autores. Enfim, reverter tão calamitosa
situação não será fácil aos novos gestores que assumirão o poder interno da
corporação. E pior ainda ficará se houver a permanência do status quo reinante, que não passa de engodo para levar a efeito a
Copa do Mundo, engodo que não resistirá até as Olimpíadas, com certeza.
O lema “conquista-ocupação-pacificação” perdura no tempo não por
eficiência ou eficácia estrutural em vista dos seus obscuros objetivos; perdura
no tempo, sim, por conta do marketing, até que a motivação se esgote, o que se
dará em 13 de julho. Falta pouco... Depois virá o choque de realidade e não se
sabe o tamanho da baderna que está por vir antes das eleições de outubro.
Porque é certa a desmobilização dos gigantescos efetivos militares e policiais
já esgotadíssimos, e irritados tais e quais o povo, portanto também no limiar
do “estouro da boiada”. Torçamos, pois, para que a inércia policial decorrente
da exaustão não estimule os anarquistas até então em inércia; torçamos para que
haja alguma força reserva em condições de uso imediato se os anarquistas
novamente desfraldarem suas indignadas bandeiras. Porém, se nenhuma força de reação
houver, e se nada for mais possível, oremos então...
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