A reducionista resposta a esta pergunta, contudo, está na ponta da
língua: “guerreiam” ou “combatem” contra traficantes, principalmente, pois os
“combates” são travados em favelas dominadas por “exércitos do tráfico” armados
com fuzis nacionais e estrangeiros de última geração. Bem, não se trata de
exagero nos dias de hoje porque é certo que os bandos de traficantes na maioria
senão na totalidade das favelas em que estão homiziados portam armas de guerra sofisticadas
e não lhes falta munição. Ademais, traficantes raramente se rendem, estão
igualmente “em guerra” contra os PMs, são igualmente “combatentes”...
Todavia, são nestas circunstâncias de “combates” e “guerras” que morrem
muitos PMs, e não apenas em confrontos diretos, mas também fora do serviço, quando
chegam ou saem de seus lares ou quando eventualmente transitam em ruas e
logradouros, situações particulares durante as quais são reconhecidos por seus anônimos
“inimigos” que frequentam os mesmos ambientes e não têm muita dificuldade para
identificar PMs e eliminá-los em tocaia. Eis portanto, o contexto da “guerra”
diária, que começa e termina num só ambiente social repartido: favela e
asfalto.
Enfim, tudo ocorre num só sistema (ambiente geral) formado por
subsistemas (ambientes específicos) intercorrentes, o que se poderia designar como
ambiente social. Aceita esta premissa, advém a necessidade de se estudar o
fenômeno atual do “combate” ou da “guerra” ao crime, porque há, sim, uma sucessão
de confrontos praticamente corpo a corpo em tudo que é canto. E haja mortes
banais de PMs!...
Aceitando-se a realidade dos confrontos entre PMs e bandidos em campo
aberto (asfalto) e em ambientes fechados (favelas), começa-se a entender que
algo muito grave conduz a esses comportamentos belicosos. Não seria a cultura
do “combate” e do “combatente” que se teria alastrado por conta da instituição
PM?... Sim, não se há de negar, precipuamente, que esta cultura do “combate”
não começa com o bandido, mas antes se insere nas tradições da corporação desde
a formação de seus oficiais.
Ora bem, neste ponto diriam alguns que tudo não passa de abobrinha, que
as designações teóricas não guardam relação com a prática, que não há um
sistema de causa e efeito nesta história, o que vale é a imperativa necessidade
de “combater” traficantes. Acontece que tal comportamento operacional desde
muitos anos não logrou êxito algum. Em contrário, as quadrilhas de traficantes
aumentam, seu poderio bélico cresce, o tráfico vende mais e os confrontos matam
mais. E a PMERJ aumenta volumosamente seus efetivos... Qual é a vantagem então
a apontar em relação a um “combate” que não elimina o inimigo nem o submete aos
grilhões da justiça?...
Ora bem, é certo que a realidade gera teorias, mas isto é mais afeito
ao âmbito das ciências naturais a estudarem fenômenos existentes e teorizá-los para
depois até mesmo modificá-los. Mas no mundo social não se há de negar que as
ideias e as teorias são tão poderosas que mudam comportamentos, e é muito raro
haver comportamentos que não decorram de conceitos geradores de preconceitos
que culminam em ações desastrosas de inocentes úteis tentando receber medalhas
de “herói”...
Sem dúvida, “combatente” é aquele que “combate”. Mas geralmente se “combate” em guerras e
revoluções, não se combate entre irmãos, mesmo que alguns estejam desviados de
rotas estabelecidas como ordeiras, preferindo as desordens geralmente
estimuladas por culturas outras (nada nasce do nada). E dentre essas desordens
incontáveis há aquelas tipificadas como crime, este que deve ser atalhado por
um sistema que longe está de se resumir aos “combates” travados por PMs em
favelas ou no asfalto, descontrole social para o qual a digna sociedade não
atenta além das notícias da imprensa focando exclusivamente seus resultados
diários, tais como se atalhar o crime se resumisse a insistentes “combates” ou
a falseadas e mui bem alardeadas “pacificações”...
A questão é a seguinte: a quem compete mudar toda esta cultura do
“combate” e das “guerras” no ambiente urbano do RJ? Como reverter esta caótica
situação de criminalidade que vem vencendo todas as iniciativas pontuais da PM,
malgrado o apoio da mídia quanto a algumas delas, como é caso das glamorizadas unidades
pacificadoras (UPPs) convenientemente restritas a ambientes privilegiados?
Afinal a PMERJ, em vez de cuidar da parte, não deveria partir do todo
para chegar às partes, e, aí sim, cuidar das partes de modo que a soma delas
fosse maior que o todo (globalismo)?... Traduzindo: que reflexo positivo causa
a “pacificação da Rocinha” na vida do friburguense?... Positivo eu não sei, mas
negativo é certo na medida em que efetivos de muitos lugares foram esvaziados
para atender à paranoia das UPPs, além de tentar conter simultaneamente as inusitadas
manifestações na capital e algures.
Deixo aqui este incompleto raciocínio para ouvir a opinião dos leitores, sejam ou não policiais.
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