quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Eleições e segurança pública III


(Artigo postado por mim no Facebook faz pouco tempo. Agora o reproduzo aqui em sequência aos anteriores sobre o mesmo tema)

A segurança pública no RJ jamais foi administrada, mas apenas tangida como se faz com o burro para ele arrastar a carroça presa à canga. Sem a espetada cruel, o burro empaca; ou então, se atrelado ao contrário, o burro se volta contra a carroça e ambos não saem do lugar ou a carroça recua... Enfim, dentro da carroça a carga são os organismos de segurança pública (carga tão pesada que nenhum burro a suporta). Esta é a síntese da segurança pública que qualquer governante do RJ terá de pôr a andar de fato seguindo em frente. Contudo, e como a tarefa mais parece o pedregulho de Sísifo, a tendência será a de sempre, ou seja, a do engodo apoiado por mídia amiga, amizade que custa caro aos cofres públicos onde estão depositados nossos suados tributos. E a carroça continuará na sua luta contra o burro, ou o inverso...

O problema, diga-se por amor à verdade, é antigo, pois é certo que a segurança pública serviu e ainda serve a muitos propósitos inconfessos. E enquanto a carroça segue lentamente o seu rumo aleatório, ou se mantém inerme e inerte, ou recua, a violência se atualiza e voa na dianteira como um jato livre e desimpedido. Eis aí a síntese da segurança pública que passará agora, em ano eleitoral, por discussões, diagnósticos, planejamentos, políticas públicas e demais xaropadas que irão ao papel, não sem antes receberem bela encadernação, formando-se assim mais um engodo prévio, posto não ser possível tornar realidade a nova ilusão, ou melhor, a antiga ilusão reapresentada em roupagem nova. Mas, sem dúvida, a ilusão chega atraente, brota tal qual mágica da imaginação fértil dos artífices das palavras mortas. Deste modo, - e resumindo, - qualquer planejamento virtual posto num livro é como se se pusesse um defunto no túmulo. Já era!...

Durante a campanha eleitoral cada candidato decerto estará com suas cartas nas mangas, ou, melhor dizendo, com seu livro de mágicas pronto para atacar os adversários e deles se defender. Já se sabe, adrede, os motes de alguns. Exemplo: a desmilitarização da PM. Este é o mote preferido dos prosélitos de esquerda (não mais existem prosélitos de direita, estão envergonhados). Sim, são todos “de esquerda”, e apostam na desmilitarização da PM como milagre ideológico. Deste modo, dispensam até o caixão de idéias mortas; permanecem apostando na incredulidade do povoléu e na indignação do cidadão com a sua polícia, eis que a mídia amiga já cuidou disso, o prato está feito, é só se alimentar desta ilusão maior. Sem dúvida, trata-se de discurso conveniente, pois toda a culpa da falência é posta no modelo militar de polícia, que, se não extinto rapidamente, o caos será total. Cá entre nós, a polícia militarizada contribui deveras para o fortalecimento desta arguta tese da esquerda. Mas a verdade é que tudo não passa de mudança de posição da mesma carga dentro da carroça, esta que seguirá pesada e puxada por um burro exausto a torcer que pelo menos não lhe surja à frente um atoleiro ou alguma colina a torná-lo Sísifo. Literalmente...

Muitos talvez estranhem meu pessimismo. É verdade, não nego que estou cético quanto ao futuro da segurança pública num país em que bandidos cortam entre si suas cabeças dentro de presídios de segurança máxima ou mínima, tanto faz, e, enquanto se matam, assistem do lado de fora a “guerra contra o crime”: a polícia matando e morrendo para alcançar o troféu de sempre: o “kit imprensa” formado por armas e drogas arrumadas em meio a siglas policiais escritas com cartuchos igualmente apreendidos, claro que com alguns pés de chinelo cabisbaixos e algemados, geralmente negros e invariavelmente pobres. Dá uma bela foto, eleva o moral da tropa, todos ficam felizes em quartéis ou delegacias, pois é certo que o “kit imprensa” não é privilégio de nenhuma polícia, todas fazem uso do velho expediente a substituir a investigação séria e a ação policial cirúrgica. E o tempo passa, e a violência aumenta, e os criminosos entopem a mais e mais as fétidas cadeias nacionais, sendo certo que muitos deles um dia já foram policiais...

Eis a questão: a carroça é a mesma, medieval, mas consegue a proeza de existir em plena Era da Informação. Passa ao largo da ciência e da tecnologia para carregar seu fardo antigo em direção a um objetivo que não sabe qual e a algum resultado pobre no conteúdo, mas rico num continente capaz de desviar ao otimismo e à esperança a atenção do povoléu, este que paira na superfície como a maior de todas as vítimas-suicidas que votam sempre erradamente porque não há como votar acertadamente, o sistema que os rege é tacanho, segura firme todas as lanças que a tudo tangem desde os tempos imemoriais. E assim as gerações se sucedem, as populações aumentam, o crime floresce em quantidade e diversidade, e os políticos de sempre se alternam no mesmo poder de sempre, usando os discursos de palavras mortas que lhes restaram insepultas ou que foram exumadas para tal fim. Eis o filme que veremos mui brevemente...

 

 

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