(Artigo postado por mim no Facebook faz pouco tempo. Agora o reproduzo
aqui em sequência aos anteriores sobre o mesmo tema)
A segurança pública no RJ jamais foi administrada, mas apenas tangida
como se faz com o burro para ele arrastar a carroça presa à canga. Sem a
espetada cruel, o burro empaca; ou então, se atrelado ao contrário, o burro se
volta contra a carroça e ambos não saem do lugar ou a carroça recua... Enfim,
dentro da carroça a carga são os organismos de segurança pública (carga tão
pesada que nenhum burro a suporta). Esta é a síntese da segurança pública que
qualquer governante do RJ terá de pôr a andar de fato seguindo em frente.
Contudo, e como a tarefa mais parece o pedregulho de Sísifo, a tendência será a
de sempre, ou seja, a do engodo apoiado por mídia amiga, amizade que custa caro
aos cofres públicos onde estão depositados nossos suados tributos. E a carroça continuará
na sua luta contra o burro, ou o inverso...
O problema, diga-se por amor à verdade, é antigo, pois é certo que a
segurança pública serviu e ainda serve a muitos propósitos inconfessos. E
enquanto a carroça segue lentamente o seu rumo aleatório, ou se mantém inerme e
inerte, ou recua, a violência se atualiza e voa na dianteira como um jato livre
e desimpedido. Eis aí a síntese da segurança pública que passará agora, em ano
eleitoral, por discussões, diagnósticos, planejamentos, políticas públicas e
demais xaropadas que irão ao papel, não sem antes receberem bela encadernação,
formando-se assim mais um engodo prévio, posto não ser possível tornar
realidade a nova ilusão, ou melhor, a antiga ilusão reapresentada em roupagem
nova. Mas, sem dúvida, a ilusão chega atraente, brota tal qual mágica da
imaginação fértil dos artífices das palavras mortas. Deste modo, - e resumindo,
- qualquer planejamento virtual posto num livro é como se se pusesse um defunto
no túmulo. Já era!...
Durante a campanha eleitoral cada candidato decerto estará com suas
cartas nas mangas, ou, melhor dizendo, com seu livro de mágicas pronto para
atacar os adversários e deles se defender. Já se sabe, adrede, os motes de
alguns. Exemplo: a desmilitarização da PM. Este é o mote preferido dos
prosélitos de esquerda (não mais existem prosélitos de direita, estão
envergonhados). Sim, são todos “de esquerda”, e apostam na desmilitarização da
PM como milagre ideológico. Deste modo, dispensam até o caixão de idéias
mortas; permanecem apostando na incredulidade do povoléu e na indignação do
cidadão com a sua polícia, eis que a mídia amiga já cuidou disso, o prato está
feito, é só se alimentar desta ilusão maior. Sem dúvida, trata-se de discurso
conveniente, pois toda a culpa da falência é posta no modelo militar de
polícia, que, se não extinto rapidamente, o caos será total. Cá entre nós, a
polícia militarizada contribui deveras para o fortalecimento desta arguta tese
da esquerda. Mas a verdade é que tudo não passa de mudança de posição da mesma
carga dentro da carroça, esta que seguirá pesada e puxada por um burro exausto
a torcer que pelo menos não lhe surja à frente um atoleiro ou alguma colina a
torná-lo Sísifo. Literalmente...
Muitos talvez estranhem meu pessimismo. É verdade, não nego que estou
cético quanto ao futuro da segurança pública num país em que bandidos cortam
entre si suas cabeças dentro de presídios de segurança máxima ou mínima, tanto
faz, e, enquanto se matam, assistem do lado de fora a “guerra contra o crime”:
a polícia matando e morrendo para alcançar o troféu de sempre: o “kit imprensa”
formado por armas e drogas arrumadas em meio a siglas policiais escritas com
cartuchos igualmente apreendidos, claro que com alguns pés de chinelo
cabisbaixos e algemados, geralmente negros e invariavelmente pobres. Dá uma
bela foto, eleva o moral da tropa, todos ficam felizes em quartéis ou
delegacias, pois é certo que o “kit imprensa” não é privilégio de nenhuma
polícia, todas fazem uso do velho expediente a substituir a investigação séria
e a ação policial cirúrgica. E o tempo passa, e a violência aumenta, e os
criminosos entopem a mais e mais as fétidas cadeias nacionais, sendo certo que
muitos deles um dia já foram policiais...
Eis a questão: a carroça é a mesma, medieval, mas consegue a proeza de
existir em plena Era da Informação. Passa ao largo da ciência e da tecnologia
para carregar seu fardo antigo em direção a um objetivo que não sabe qual e a
algum resultado pobre no conteúdo, mas rico num continente capaz de desviar ao
otimismo e à esperança a atenção do povoléu, este que paira na superfície como
a maior de todas as vítimas-suicidas que votam sempre erradamente porque não há
como votar acertadamente, o sistema que os rege é tacanho, segura firme todas
as lanças que a tudo tangem desde os tempos imemoriais. E assim as gerações se
sucedem, as populações aumentam, o crime floresce em quantidade e diversidade,
e os políticos de sempre se alternam no mesmo poder de sempre, usando os
discursos de palavras mortas que lhes restaram insepultas ou que foram exumadas
para tal fim. Eis o filme que veremos mui brevemente...
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