Fonte: Jornal O GLOBO de 03 de março de 2013
A matéria da jornalista Vera Araújo me é gratificante. Lembra-me o
início de tudo e das veementes afirmações que fiz no sentido de que o escopo maior
das UPPs resumia-se aos eventos desportivos que estão por vir: Copa do Mundo e
Olimpíadas. Fui muitas vezes tachado de visionário por afirmar algo a partir do
nada ou do mistério que envolvia as primeiras investidas de conquista de
favelas dominadas pelo tráfico. As forças de segurança representadas pelo BOPE
e pelo Batalhão de Choque atuavam como “cabeças de ponte” das UPPs num sistema
que abraça uma região cuja segurança é crucial para que os eventos ocorram no
Brasil e sejam bem-sucedidos.
Tal providência me remete a uma visita de estudos
que fiz a Assunção, Paraguai, em 1988, enquanto aluno do Curso Superior de
Polícia. A turma do CSP recebeu honrarias de chefe de Estado e teve a chance de
percorrer roteiro turístico em ônibus providenciado por diligentes e simpáticos
militares paraguaios. Pelas janelas, o cenário era de majestosa beleza e de
invulgar progresso social. Mas eu, curioso, dei meu jeito e fiz meu próprio
roteiro, de táxi, e pude constatar o engodo: os anfitriões nos mostraram apenas
o que pretenderam, as imagens eram falsas, Assunção não era nenhum primor de
progresso. Vi muita miséria e povo triste em vez de riquezas e semblantes
alegrados por ordem de cima e possivelmente decorrentes de benesses pessoais.
Afinal, não eram muitas as pessoas vistas de caminho. Foi tudo para “inglês
ver”...
Quando a instalação de UPPs começou, fui logo percebendo o cinturão de
segurança a que a jornalista Vera Araújo se reporta. Comecei então a questionar
o badalado modelo de pacificação, que antes de ser um programa geral e definitivo
não passava de maquiagem necessária ao convencimento dos alienígenas que
decidirão se os eventos virão ou não ao Brasil. Creio que virão, a maquinaria
estatal está se esforçando, construindo estádios caríssimos e empreendendo
obras portentosas, tudo em função dos preciosos eventos que tornarão o Brasil
um país consagrado no mundo e alguns políticos mais famosos que Pelé. Portanto,
é fácil imaginar a desgraceira que será se as UPPs falharem antes ou durante a
ocorrência dos eventos. Claro que, em se tratando de segurança, virão às ruas
as Forças Armadas como complementos indispensáveis ao “cinturão”. Tudo bem, que
assim seja! Mas tudo isso me lembra a viagem ao Paraguai e o engodo para
“inglês ver”: a multiplicação da tropa tal como nos milagres bíblicos. Porque a
cada anúncio de novas UPPs a minha matemática alopra. Não sei que mistério é
esse da multiplicação do efetivo da PMERJ, que consegue abraçar cinturão tão
extenso como se puxasse um cabo de guerra (ainda esticado em braçadas isoladas até
alcançar complexos favelados emblemáticos por homiziarem cúpulas de facções
criminosas). E já que agora sabemos onde a corda alcançou, resta saber quando então
ela rebentará...
... Não sei. Perdi a conta dos números, que sobem em progressão quase
que geométrica e afundam no abismo do desconhecimento. Sei, porém, que atualmente
as favelas beneficiadas com UPP são mais importantes que quaisquer municípios
do RJ, em especial os mais distanciados do olho do furacão: a Capital. Aliás,
momento mais propício não há de haver, o prefeito e o governante são “cariocas
da gema” (bem de dentro do ovo) e não estão nem aí para o restante do RJ (muito
fora da casca), e que, por sinal, não garante eleições, a concentração de
eleitores é na Cidade Maravilhosa (o ovo). Mas, como afirmou em fina ironia o
mestre João Ubaldo na sua crônica de hoje (mesmo jornal), os políticos pátrios
são pessoas acima de quaisquer suspeitas e não almejam mais que o bem comum e a
felicidade de todos... Desde que residam no miolo do “cinturão de segurança” (a
gema), que a mais e mais se desnuda, agora pela pena da jornalista Vera Araújo em
pequeno artigo perdido num jornal dominical de muitas páginas. Achá-lo foi
autêntico garimpo; porém, a qualidade da profissional nos obriga a lê-la
atentamente, e o assunto não é outro: o desvelamento definitivo da ideia
primeira: segurança absoluta para o endinheirado turista durante a Copa do
Mundo e as Olimpíadas. E, consequentemente, segurança relativa para o povoléu
que teve a sorte de ser favelado no epicentro dos eventos ou na rota periférica
do Aeroporto Internacional do Galeão (Tom Jobim) ou nos emblemáticos complexos
favelados “pacificados”. Depois de ocorridos os eventos desportivos (tomara que
sejamos vencedores!), que será então das UPPs?...
2 comentários:
1. Eh,eh,eh,eh,eh.......
2. Só para ajudar um pouquinho Misoca:
-Total arredondado de Favelas com Narcotráfico,sòmente na RM:
. 1000;
-Efetivo minimo em cada uma, tendo em vista o aplicado até agora:
.Entre 200 e 300 homens ( Obs, não estou levando em consideração os Complexos, os quais podem-se estimar entre 2000 e 3000 homens necessários em cada um, e nem estou computando atividade meio)
- efetivo mínimo necessário pra ocupar todas as favelas em que exista o tráfico pesado de drogas, somente na RM;
. entre 200.000 a 300.000 homens, isto sem considerar a necessidade permanente da reserva obrigatória (férias, morte, doenças, LE,expulsões, RR, pedidos de demissão,etc,etc)normalmente computados entre 10 a 20 por cento(20.000 a 30.000 homens, sempre em QAP);
- Portanto, total necessário, entre 220.000 e 330.000 Policiais Militares.( Obs- Efetivo necessário a mais, isto é além do dia a dia da Corporação);
- Portanto ainda: eh,eh,eh,eh,eh.
BELZEBA
Pô, Belzeba, eu estava preocupado, achando que você perdera a língua. Mas agora soltou-a com vontade. Não sei de onde são esses números nem que equação neles teria resultado. Mas, independente disso, sei que a concentração de efetivos pode gerar um efeito cruel no futuro, a não ser que, depois de o Brasil ganhar a Copa do Mundo e sagrar-se primeiro colocado em medalhas de ouro, prata, bronze e lata, as UPPs sejam desfeitas ou o efetivo vá a três vezes o de São Paulo. Assim, digo eu agora: hehehehehe... Ou então Sniff!....
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