quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A VIOLÊNCIA EM SÃO PAULO


A morte estúpida de um desembargador e de um vereador eleito em Niterói/RJ me obriga a considerar impróprias as opiniões de alguns especialistas em segurança pública do meio universitário fluminense. Porque elas conseguem a proeza de ignorar os ambientes internacional, nacional, regional e local como entes isolados, e não como um só sistema multinacional criminoso atuando nas diversas tessituras sociais por meio de subsistemas que, claro, lhe são ligados por laços de interdependência, interação e inter-relacionamento. Dizer que São Paulo sofre o que o Rio não mais padece me parece utópico porque contraria a dinâmica mais elementar do crime como conceito e prática. 

Tem razão o jornalista ao afirmar que as UPPs, segundo lhe informa o governo, até agora se saem bem. Também concordo. Esta questão, porém, só será fechada num futuro ainda desconhecido, ressalvando-se aqui, da fala do ilustre jornalista, que um dos fatores de sucesso das UPPs é “o uso de policiais jovens, sem vícios de trabalho, principalmente a corrupção”. Ora, com todas as vênias, isto é uma falácia, a PMERJ não é berçário, creche ou orfanato: não recebe bebês para criar e torná-los nobres e puros para depois lançá-los fardados e lustrados no ambiente social, tais como pérolas que se lançam aos porcos. Esses jovens são adultos e trazem da sociedade os mesmos vícios e virtudes dos mais velhos, estes que não se viciam em razão do trabalho, mas da podridão social que os gerou e mantém, sendo ou não policiais. Dizer que o trabalho policial é fator condicionante de vícios é, com minhas desculpas, vício maior de uma sociedade viciada. Porque, no fim de contas, os vícios permeiam a tessitura social em todos os seus segmentos, incluindo os universitários e jornalísticos. 

 Separar, pois, São Paulo do Rio de Janeiro como estacas fincadas num chão imóvel em relação à criminalidade, insisto, é reducionismo puro. A matéria, portanto, embora necessária como elemento de informação, não pode e não deve ser vista pelos leitores do jornal como produto pronto e acabado por uma simples razão: não é. Pior ainda é ter de aturar discursos falaciosos como os que afirmam ser o acirramento da violência em São Paulo decorrente da violência policial. Ora, isto não passa de falácia, e, para variar, com objetivo de desmerecer a polícia paulista, no caso focada como ente isolado e violento. 

Sinto cheiro de ideologia político-partidária neste comentário, mas sou obrigado a discordar, mesmo sabendo que representa nas entrelinhas um mérito a mais para as UPPs e seus integrantes, muitos dos quais, novatos. Mas nem por isso deixaram de se envolver em crimes graves atingindo as comunidades policiadas e a sociedade em geral, embora estejamos, neste caso, diante de uma “cifra negra”: ninguém sabe com exatidão o volume de desvios de conduta em UPPs a não ser a PMERJ (hoje, o mesmo jornal O GLOBO anuncia que o secretário Beltrame pediu ao TJ a demissão de um capitão PM comandante de UPP envolvido em corrupção ligada ao tráfico; aliás, onde supostamente não havia mais traficantes atuando...). 

Sobre os desvios de conduta em UPPs, incluindo violência policial, não se há de pôr dúvida: a corporação já até anunciou que está estruturando uma Delegacia Policial Judiciária Militar (DPJM) só para atender aos “vícios” das UPPs. Faz bem a PMERJ se antecipar ao problema que enfrenta e que decorre de fora para dentro e não de dentro para fora. Também não está tão longe no tempo, a ponto de ser esquecida, a mesmíssima situação de violência no RJ que ora ocorre em São Paulo, o que reforça a ideia de que não são os dois Estados-membros, nem os demais, nem os países vizinhos, nem o mundo subsistemas de um só sistema transnacional criminoso. Em contrário, são sim! 

Reclamo, porém, manifestando mais uma vez total apreço ao jornalista signatário da matéria, que apenas registra opiniões de pessoas especializadas do mundo universitário, mas não do mundo policial. Ainda nesta linha, sugiro ao ilustre jornalista a oitiva de autênticos especialistas em segurança pública por meio de vivência profissional (policiais, juízes, promotores de justiça, defensores de justiça e advogados criminais), daqui do RJ, de São Paulo e d’algures. Há muitos inclusive detentores de títulos universitários, além de serem indiscutíveis conhecedores dos meandros mais profundos da violência que aflora como um vulcão em erupção no Brasil, mas não passa da ponta dum iceberg de base larga, multifacetada e profunda.

2 comentários:

Paulo Fontes disse...

Caro amigo Larangeira,
Perfeita a análise sobre a matéria publicada no Jornal O Globo.
A senhora Julita Lengruber que durante anos foi autoridade máxima no sistema penitenciário do Rio de Janeiro nunca apresentou uma solução para senão extirpar mas para reduzir ou controlar a violência nos presídios cariocas, agora posa de pesquisadora do tal CESEC falando do que não sabe.
Já o tal do Laboratório de Análises da Violência(LAV) da UERJ,deveria ser lavado, como sugere a sigla, junto com seus burocratas à frente, principalmente o "hermano" Inácio Cano, que deveria estar na Argentina e lá apresentar seus estudos com certeza necessários,e Trajano Sento Sé,que julgou uma fato isolado o assassinato da Soldado Fabiana.
Abaixo a opinião de neófitos e falsos "especialistas" em segurança pública.

Emir Larangeira disse...

Comentário perfeito em todos os sentidos!