quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O segundo turno e meu dilema (ou trilema)...



Vejo na internet um movimento brutal contra a candidata Dilma, endemoninhando-a, prendendo-se o tema a duas vertentes de elevado teor emocional: a corrupção de setores do governo Lula muito próximos dela e as questões da descriminalização do aborto e da criminalização da homofobia. Ora, devemos separar opinião de ação discriminatória de direitos. Alguém pode não gostar das diferenças sexuais, mas ser punido somente por isso é absurdo. Agora, se quem é contra o homossexualismo decidir discriminar de algum modo os homossexuais, aí sim, esse alguém deve ser punido. Vale o raciocínio para o racismo e outras formas de discriminação, o que é diferente de preconceito. O preconceito nem sempre é visível, e mesmo que o seja, por meio de uma opinião, isto é um direito de manifestação. Porém, se esta manifestação induzir à discriminação, aí a punição deve existir, sim. Entretanto, só é capaz de discriminar quem detém o poder para tanto. Quem não o detém, mas influencia o poder a que me refiro, também deve ser punido. Mas quem apenas é contrário, sem que isto se traduza prejuízo real a outrem, não deve ser cerceado no seu direito de opinião. Enfim, cada caso é um caso e todos são iguais perante a lei num Estado Democrático de Direito. Portanto, uma opinião pode encerrar no seu conteúdo uma oposição ao pensamento predominante em relação às minorias; não pode, contudo, se transformar em ato prejudicial a essas minorias.
Noto nesse grupo de interesse que troca e-mails um fundamentalismo que não é bom conselheiro. Definir o voto pela emoção, apenas, não me parece racional. Creio que o voto não pode ser direcionado por farpas dogmáticas e ideológicas disparadas de lado a lado, pois elas, sem boa mira, tendem a ferir pessoas sem alcançar seu destino. A racionalidade é que deve pesar no momento do voto; a conveniência se torna relevante; os erros do passado não devem ser reeditados; e o maior desses erros cometidos várias vezes pelos eleitores cariocas e fluminenses foi o de votar em candidatos locais adrede dispostos ao confronto com o governo federal, gerando graves prejuízos para a população nesse sistema centralizado de poder e de verbas públicas. Acresce ainda o fato de o Estado brasileiro ser excessivamente interventivo e paternalista, tendo como contrapartida o clientelismo e o conformismo do povo. Mudar esse modelo não foi possível até agora e creio que não o será tão cedo; por isso, entendo que o eleitor do RJ deva ser pelo menos pragmático na hora de votar, deixando de lado a emoção e a irracionalidade, de modo que o nosso torrão saia ganhando ou pelo menos não perca algumas conquistas, em especial os royalties do petróleo e obras federais, muitas delas em andamento.
Por razões várias, não me agradam a mim os candidatos que ora disputam o segundo turno. Que fazer?!... Torno ao meu dilema: votar num deles (duas alternativas ruins) ou anular meu voto. Anular o voto, todavia, não me parece prudente. Pior, me parece covardia. Eis o trilema!... Sim, porque primeiramente terei de optar por um paulista que tende a puxar a brasa para a sardinha de São Paulo e já se colocou peremptoriamente contra a PEC 300 (as Polícias Militares brasileiras somam 500.000 almas no serviço ativo, sem considerar os inativos, pensionistas, familiares e amigos, o que garante a formação de um poderoso grupo de interesse de alguns milhões de eleitores); ou então votarei numa ex-guerrilheira, do passado, rodeada de escândalos, no presente, demais de seu partido também não ter contribuído para a aprovação da PEC 300...
Como sair dessa encruzilhada?...
Bem não sairei envolvendo-me em emoções baratas, em dogmas religiosos dos quais tenho natural aversão, nem em ideologias de esquerda ou de direita avessas a uma democracia que ainda não vivenciamos. Vou então observar os debates para ver qual dos candidatos me convencerá em minha particular condição de eleitor-PM, mantendo-me longe dessas manifestações emocionais reduzidas a um maniqueísmo que só serve para estragar o voto. Por conseguinte, não quero saber das opiniões de padres e pastores, o Estado brasileiro há sempre de ser laico e ponto final. Para mim, em princípio, interessa quem vai recompensar as históricas perdas financeiras de um malfadado Estado do Rio de Janeiro a apostar na “oposição” ao poder central por conta de interesses nitidamente individualistas de pretensos candidatos à presidência da República. Também não me adianta a mim, como PM, fixar-me somente na PEC 300: ambos os candidatos e seus partidos já se manifestaram contra a sua aprovação. Apesar disso, não desejo anular meu voto; prefiro que mudem de ideia...
Eliminado o caminho corporativista que me poderia influenciar para um lado ou para outro, sobra-me o viés político-partidário. Sou filiado ao PR (Partido da República), que não se posicionou até este momento aqui no RJ*, mas é a favor da PEC 300 (Garotinho, presidente do PR/RJ e segundo deputado federal mais votado do Brasil, garantiu que lutará por ela). Enfim, esquecida a PEC 300, e como eleitor-cidadão, permaneço atrelado ao meu dilema, recusando-me, todavia, a ser influenciado por outros fatores que não sejam o interesse maior do Estado Federado em que nasci, trabalhei, constituí família, e do qual continuo voluntariamente refém. Portanto, esperarei até a última hora, rogando aos meus companheiros que não me tentem influenciar por caminhos dogmáticos e ideológicos em enxurrada de e-mails que nem mais leio. Os debates decidirão em quem votarei entre dois candidatos que me parecem ruins, o que já é um dilema; ou estarei ante um trilema, pois pondero igualmente anular meu voto, como já declarei em artigo anterior de mesmo título, só que agora sublinhando a anulação do voto como terceira alternativa ruim. aumento assim as chances dos candidatos, postos em balaios separados...
* Em tempo:
Ao postar o artigo, tomei conhecimento da disposição de Garotinho em apoiar a Dilma, desde que Lula anule o decreto que instituiu o polêmico PNDH3 (Plano Nacional de Direitos Humanos). Garotinho tem razão. O PNDH3 é tão detalhado e burocrático que não deixa nada para o Congresso nacional discutir e deliberar, como manda a boa democracia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Emir, depois que o amigo assistir este vídeo você terá uma posição:
Lula e Dilma no Foro de São Paulo - Comunismo no Brasil
http://www.youtube.com/watch?v=kDtUbdOLjDg

Eles querem implantar o comunismo no Brasil...

VOTE: SERRA 45.

Emir Larangeira disse...

Valeu, caro anônimo! Você atingiu em cheio o meu objetivo. O meu temor é a fixação do discurso em coisas pontuais e as situações mais graves (intenções manifestas), por isso, não entrarem na discussão e passarem ao largo do conhecimento do eleitor.
Abraços