sábado, 21 de agosto de 2010

Os papagaios do Condomínio Elisa Lake Beach



Um dos espetáculos mais lindos do Condomínio Elisa Lake Beach (Ponta Grossa – Maricá/RJ), onde resido, ocorria invariavelmente ao entardecer. Uma frondosa árvore, talvez com mais de 30 metros de altura, era alvo do revoar e do pouso de pequenos papagaios em festiva algaravia, enfeitando a mais e mais a linda copa formada por galhos firmes, sadios e apinhados de folhas verdejantes. Eram tantos os papagaios que até se confundiam com as folhas que ficavam a dançar com eles. Sem dúvida, um espetáculo raro!
Inexplicavelmente, porém, ouvi um dia, de dentro de casa, um barulho que me pareceu de motosserra a cortar alguma árvore. Distraído e viciado em ouvir o som das cortadeiras de grama, concluí que era delas. Não percebi que caía despedaçada a árvore destinada ao insubstituível pouso dos psitacídeos à beira da lagoa que banha o condomínio.
No dia seguinte, ao mirar o céu em frente da minha casa, notei um vazio. Havia céu demais e a verdejante árvore era a única a preencher aquele espaço azul com sua grimpa superando as poucas árvores que ainda insistem em enfeitar a moldura celeste. Mas fora ela, exatamente ela, a árvore dos psitacídeos, a mais altaneira, levada ao sacrifício por insensível motosserra.
Esperei o novo entardecer e tristemente constatei: os papagaios chegaram, rodopiaram estonteados e logo sumiram. E não mais voltaram ao Condomínio Elisa Lake Beach. As belas aves mudaram o habitual itinerário, e nós, moradores do condomínio, perdemos esse maravilhoso e gratuito visual proporcionado pela mãe-natureza.
Não se trata de crítica a quem decidiu cortar a árvore, provavelmente o proprietário do terreno, quiçá desconhecedor da utilidade daquela árvore. Mas a Administração do Condomínio Elisa Lake Beach decerto sabia que ela fora destinada pela mãe-natureza para o pouso de centenas de aves verdejantes, propiciando um momento ímpar de admiração e reflexão sobre a importância do ecossistema acolhedor de nossas casas e da “estação” dos papagaios!
Que pena!... Jogamos a sorte fora!... A árvore predileta dos papagaios tornou-se lenha, e eles ficaram sem a “estação” por eles marcada para descanso de meio caminho antes do esvoaçar alegre ao habitat noturno. A cortina cerrou-se no palco da mãe-natureza, o teatro encenado pelos atores-papagaios fechou-se eternamente. Onde estarão os nossos artistas verdinhos que nada nos cobravam?...
Outro dia, assistindo a um documentário na tevê sobre os segredos da natureza, ouvi de um experimentado biólogo que a árvore escolhida por papagaios para aninhar, se cortada, o casal nunca mais aninha e procria. Claro que meu desalento aumentou deveras. Se não bastasse a minha tristeza pela mudança de rota dos papagaios, mais essa desalentada informação a ela se somou. No fim de contas, sou amante da ave mais peculiar que existe na natureza, única que imita a voz humana e sofre de gota (doença humana). Não descendo dos brâmanes, mas vejo certa sacralidade na ave por eles cultuada como divina num tempo remoto.
Sou tão apreciador dos psitacídeos que até escrevi um romance infanto-juvenil (bom para todas as idades) em que meu papagaio-herói, de nome Utopia, é Anjo Mensageiro de Deus. Para quem gosta, o romance (Utopia – O papagaio pensador) está disponível no meu site (www.emirlarangeira.com.br) para leitura e impressão, já que as duas edições esgotaram mui rapidamente. Lendo-o, quem aqui me visitar poderá imaginar a minha decepção com a destruição da “estação” dos papagaios.
Espero que eles sobrevivam ao ataque mais desumano que inadvertido. Pior é que ocorrido dentro de um condomínio fechado e administrado por gentes cultas que bem poderiam ter a atração dos papagaios nos seus registros e assembleias e, atentos, jamais deveriam permitir que a frondosa árvore-estação-dos-papagaios fosse cortada como se corta um galho seco e desimportante.


2 comentários:

Paulo Xavier disse...

Texto novo, gostoso de ler, crítico sem ofender nem acusar ninguém, pelo contrário, defende a natureza tão desrespeitada pelo homem e lá vem esse tal de Paulo Xavier fazer comentário.
Desculpem-me se desagrado a alguem, é que gosto de participar, de opinar, de sugerir e cada leitura que faço é como se eu tivesse fazendo parte do contexto, e caso eu estivesse presente na hora que o sujeito começasse a cortar a árvore dos papagaios ele ia ter que esperar um pouco até chegar alguém do meio ambiente da cidade ou a polícia, sei lá, já aconteceu comigo atrás da minha casa, intervi, as árvores foram salvas e o sujeito que ia cortá-las sempre que passa por mim dá um bom dia meio sem graça e segue seu destino me olhando de soslaio.
Coincidência à parte, creio que se o cidadão Emir Larangeira presenciasse uma cena dessas, agiria da mesma forma.
Parabéns Cel Larangeira por mais um belo texto.

NEIDE disse...

CHEGA A SER CÔMICO PARA NÃO DIZER TRÁGICO, A IMPRENSA MAIS UMA VEZ DISCUTIR A SUPOSTA FALTA DE ESTRATÉGIA PARA ENFRENTAR OS MARGINAIS EM VIA PÚBLICA SEM SE PREOCUPAR EM FERIR OS TRANSEUNTES NO MOMENTO. E PERGUNTO EU: ATÉ QUANDO, ELES ACHAM QUE A POLÍCIA TEM DE FICAR INERTE AO MANDA E DESMANDA DESSES MARGINAIS QUE NÃO PERDEM TEMPO EM MATAR QUALQUER UM QUE SEJA, DESDE O MOMENTO QUE ELES SAIAM ILESOS? O FATO DOS POLICIAIS ENFRENTAREM OS BANDIDOS DAQUELA FORMA FOI ERRADO, SEGUNDO ELES. E COMO CLASSIFICAM AS DESTEMIDAS ATITUDES ATÉ HOJE DESSES MARGINAIS? COMEÇO A PERCEBER QUE A VERDADE NÃO DÁ IBOPE NEM VENDE JORNAIS......