quinta-feira, 20 de maio de 2010

Sobre a tragédia no Andaraí



Quem é PM e participa de constantes confrontos armados contra o tráfico sabe do perigo que isto representa. Não são poucas as vítimas fardadas devido às vezes a uma interpretação errônea dos riscos em meios aos quais se policiais civis e militares se enfiam a cumprir missões perigosíssimas. Basta a pequena distração de um deles, uma bala interrompe os seus sonhos e sua família sofre a perda definitiva ou amarga a deficiência física do patriarca, muitas vezes em humilhação inevitável. De guerreiro, o PM torna-se um “vegetal”, tudo porque subestimou o perigo num átimo apenas de falha do seu reflexo condicionado pronto a reagir em situações de perigo extremo.
Só quem se enfia em favela à caça de traficantes armados com material bélico de última geração, próprio para guerra, contendo mira a laser e lunetas infalíveis, sabe dos riscos que corre. É fácil imaginar a tensão que domina cada qual que se encontre nesta situação de risco máximo. E, por mais que o PM seja treinado e experiente, o seu direito à vida permeia suas ações. Elas devem ser cautelosas, sim, porém sem jamais se atrasar durante aquele átimo em que o perigo surge à sua frente ou, pior, à sua retaguarda ou no seu flanco, nunca se sabe o que lhe virá, é tudo surpreendente. Sempre...
Favela é sinônimo de tocaia: o bandido possui todas as vantagens da espera. Geralmente está posicionado em locais de melhor domínio do ambiente e abrigado de tiros inimigos. Um desses locais mais que sabidos são as lajes nas quais os bandidos se postam ocultos e prontos para desferir o tiro fatal contra o PM. E é com esta certeza do perigo vindo de cima, dentre outras vantagens da ampla variedade disponíveis aos que esperam em tocaia a chegada da polícia, que o policial abre o peito e avança em coragem. Muita coragem, pois, por mais que seja experiente, a principal arma que ele carrega não é o fuzil, mas a máxima atenção a tudo que o rodeia, piscando com um só olho para ver com o outro mui aberto. É terrível essa experiência operacional, e não há nenhum PM ou PC que não se afete, a não ser que seja tresloucado e abra o peito ao tiro inimigo.
Ao ler sobre o terrível acidente que provocou a morte de um trabalhador no Andaraí, no Jornal O Globo acima reproduzido, chamou-me à atenção o parágrafo abaixo:

“Quando Hélio subiu no terraço para fixar um toldo, viu os homens do Bope numa vila ao lado. Ele comentou, brincando com a mulher, que estava com medo de a furadeira ser confundida com uma arma porque havia uma operação do Bope na favela. Minutos depois, um tiro disparado pelo cabo Leonardo Albarello matou o supervisor. A bala entrou abaixo da axila e atravessou o tórax.”


A matéria está assinada por três jornalistas e, decerto, a informação divulgada foi antes confirmada por eles, como manda a regra da investigação jornalística. E, pelo que foi noticiado, não apenas o PM entendeu estar diante de uma arma nas mãos de alguém num terraço, situação sempre preocupante para qualquer policial que incursiona em favelas. As lajes, do alto, são vantajosas em demasia para quem as utiliza e desvantajosas para o policial que se enfia no perigo. Claro que, do mesmo modo que ingenuamente a vítima entendeu que a furadeira poderia ser confundida à distância com uma arma, o PM deve ter tido a certeza de que se tratava de arma com formato de submetralhadora, a que conhecemos como “Pistol Uzi”. A furadeira é indubitavelmente semelhante à submetralhadora Uzi, e a rapidez com que ela pode ser apontada e disparar rajadas não permite ao contendor esperar nem um átimo para reagir antes disso e evitar a morte certa. Não há dúvida de que foi o que houve...
Houve, sim, a tragédia, terrível para os familiares da vítima e para o PM que disparou o tiro fatal. Mas, é no mínimo estranho que a delegada de polícia, também num átimo, declare aos jornalistas que indiciará o PM por “homicídio doloso”, quando, ao que sugere a notícia, o que houve tem características de “legítima defesa putativa”. A dúvida que persistirá é se ela faria o mesmo se o atirador fosse um policial civil... Ora, livra-se ela das pressões transferindo-as ao Ministério Púbico, posição cômoda, mas que encerra uma animosidade latente (recentemente acirrada pela divergência entre um IPM e um IPC...) entre duas polícias que não se entrosam, o que é ruim para a sociedade. Ainda bem que o Ministério Público não é partidário de nenhumas das duas corporações e saberá opinar com isenção e independência...

6 comentários:

Sérgio do Agito disse...

Concordo em número e grau, só opina ao contrario quem nunca teve diante do diabo(perigo),jogar a instituição policia militar as feras que é esta sociedade hipocrita é coisa de reporter, pergunto: Porque não fazem esse estardalhaço quando um policial é morto covardemente, será que ele não é um chefe de familia, um cidadão?

Paulo Xavier disse...

Não sei o que é pior, enfrentar um bandido em uma troca de tiros, quando a boca seca literalmente, ou responder a um processo criminal por homicídio por ter abatido a tiros esse mesmo bandido. Falo como protagonista desses dois casos e confesso que ambas as experiências são terríveis. No primeiro, você age segundo seu instinto de sobrevivência e no segundo caso a sua liberdade e consequentemente o destino da sua vida está nas mãos de seres humanos que você nunca viu antes. Por que estou falando isso. Este policial do BOPE sabe que a sua função num segundo pode levá-lo a essas duas situações citadas, ou seja, morrer numa troca de tiros, ou se transformar em réu de crime de morte, é muito estresse, muita tensão, muita adrenalina.
Somente os hipócritas acreditariam ou fingem acreditar que este policial saiu às ruas para tirar a vida de um inocente. A isso chamamos de fatalidade, infelizmente.

Rose Prado disse...

Fatalidades acontecem.Na minha simples opinião não considero que o cabo estivesse mal preparado. Ao seu ver a guarnição que passava bem embaixo da casa da vítima seria atingida pelo disparo da " Pistol Uzi".
Andei me informando e o que ocorreu nesse episódio é o que em Direito Penal é chamado de LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA, ou seja, os policiais agiram por acreditarem que encontravam-se sob o manto de uma excludente de ilicitude, qual seja, a legítima defesa. De fato não estavam, confundiram uma furadeira com uma arma, o que convenhamos é factível. Logo não cometeram crime algum!
Fica muito fácil julgar sentados em nossas poltronas, longe de qualquer risco e sem ter átimos de segundo para pensar e agir.
Ao meu ver, o policial foi infelizmente mais uma vítima, tanto quanto o morador.

Neide disse...

INFELIZMENTE MAIS UMA VEZ MUITOS SE DELICIAM QUANDO UM POLICIAL VAI A JULGAMENTO QUANDO ESTAVA CUMPRINDO SEU DEVER. QUE É LAMENTÁVEL PARA A FAMÍLIA TODOS NÓS SABEMOS MAS O QUE SABEMOS E A PRÓPRIA DEVE SABER QUE NENHUM POLICIAL ENTRARIA NUMA FAVELA PARA MATAR TRABALHADORES. ELE ESTÁ ALI PARA DEFENDER ESSES MESMOS TRABALHADORES E COMO TODO BOM POLICIAL TEVE SEU REFLEXO A FLOR DA PELE COMO É DE SE ESPERAR DE QUALQUER UM DELES QUE ENTRAM NUM LUGAR E NÃO SABEM SE SAIRÃO VIVOS OU MORTOS. O FATOR REAÇÃO TEM DE ACONTECER ANTES DO FATOR PERCEPÇÃO, POIS, GERALMENTE QUANDO ACONTECE O CONTRÁRIO, JÁ É TARDE. E QUANDO O FATOR PERCEPÇÃO ACONTECE JÁ ESTÁ LÁ O CORPO DO POLICIAL ESTENDIDO NO CHÃO E NINGUEM SE INTERESSA EM APURAR QUAL FOI O VAGABUNDO QUE O MATOU. A MEU VER, SERIA DESNECESSÁRIO TAL JULGAMENTO E NÃO QUERO CRER QUE A FAMÍLIA PENSE DIFERENTE POR MAIS QUE SEJA ÁRDUA A PERDA DE UM ENTE QUERIDO. SERÁ QUE ESTARIAM DANDO TANTA ÊNFASE SE ESSE TRABALHADOR TIVESSE SIDO ALVEJADO POR UM BANDIDO?

Anônimo disse...

Esse caso é delicado por se tratar de um PM do BOP, tropa de elite da PMERJ, referência para todo Brasil
Delicado por que quem morreu foi um cidadão da comunidade.Quanto ao erro se foi ou não, deve ser apurado com rigor.
Acredito que a situação não foi como apresentada e teremos novidades, quem morou em comunidade carente como eu saber um pouco das coisas, como Bombeiro em atividade a mais de 30 anos , as pessoas estão acostumadas com as situações e se expõem ao perigo as vezes brincando na hora errada ou displicente potencializado o risco.Vamos aguardar.
Obs: lembrar das palavras da esposa na primeira entrevista.

Ten BM Reynoso Silva

Anônimo disse...

ESTA SOCIEDADE QUE TENTA DEFENDER O ADRIANO CHEGANDO A DIZER QUE A ARMA QUE APARECE NA FOTO SERIA UM CABO DE GUARDA CHUVA E O DO COLEGA É UM ABAJOUR É ESTA SOCIEDADE QUE SANGRAMOS DIUTURNAMENTE, VAI DAI CONFUDIR UM FURADEIRA COM PISTOL UZI, NÃO PODE. SERVIR E PROTEGER QUEM????????