sexta-feira, 30 de abril de 2010

A queda do Cel PM Príncipe

Fonte: Jornal O Globo de 30 de abril de 2010

Cá pra nós, onde está a "ironia" a não ser a da cabeça do repórter global?...

A mudança de comando do 6º BPM poderia ser normal, se antes não houvesse a notícia de que o Cel Príncipe foi um dos comensais na homenagem a Garotinho pelo transcurso dos seus 50 anos, havida no Restaurante Porcão do Flamengo. Vingativo e despótico, Sérgio Cabral não seria capaz de suportar tamanha “traição”. Portanto, esperava-se a qualquer momento que o Cel Príncipe fosse por ele retaliado, claro que com a cautela de não “fritá-lo” tão descaradamente... Deram-lhe o comando do 9º BPM, Zona Norte, considerado internamente como “legião estrangeira”, “presente de grego” que recebi no passado, mas que muito me orgulhou e ainda me orgulha: é um batalhão de heróis a liderar por décadas as estatísticas de letalidade do PM em serviço. Não sei se ainda hoje encabeça essa lista trágica, morte de PM não é tão divulgada.
A insinuação do Cel Príncipe sobre o “escoteiro” pode ter múltiplas leituras. Uma delas seria seu simples ufanismo em virtude de ser ele comandante do batalhão da Tijuca e combatente destemido, de modo que o Morro do Borel e adjacências já estavam dominados antes de o BOPE e o BPCh lá chegarem. Afinal, com o anúncio antecipado da ocupação, a PM nem precisou bater palmas para entrar, a porta já estava aberta. Portanto, a alegórica insinuação do Cel Príncipe pode ter visado tão-somente a exaltar a eficiência e a eficácia da tropa do 6º BPM no combate ao tráfico em sua área de atuação, desmitificando-o antes do anúncio da “ocupação político-policial”. Talvez quisesse o Cel Príncipe lembrar às autoridades e à opinião pública que a missão já estava cumprida pela tropa do 6º BPM antes de ser iniciada a festiva ação das Unidades Especiais, já que não houve nenhum confronto. Nada mais que isto...
Contudo, interessava ao despeitado governante, – que quer ver todo mundo no seu chinelo em circunflexão resignada, – retaliar o ilustre comensal de Garotinho maldosamente anunciado como um futuro comandante-geral pelo Jornal EXTRA. Maliciosa especulação com roupagem de “queimação”, o fato provocou a reação de Garotinho no blog dele, por sinal com inteira razão, porque ele anteviu a vindita do adversário político que tão bem conhece. Ora, para o Cel Príncipe, um senhor guerreiro, tanto faz que ele comande aqui ou ali ou até mesmo nada comande. Ele não carece de provar nada a ninguém em lugar nenhum. Mas a saída dele não deve ter sido consequência do singelo comentário, que não visou a nada além de desmoralizar os bandidos. Na verdade, há no poder um destemperado governante que desde muito passou das medidas em relação à manipulação da segurança pública, bem mais da PMERJ, com fins prosélitos e nitidamente eleitoreiros. A reação desse governante era esperada: retaliação política do coronel Príncipe a partir de orquestração do maior interessado nas UPPs: O Sistema Globo.
Esclareço que sou assumido admirador do Cel Príncipe e de todos os "Caveiras", inclusive do "Caveira nº 37". Não tenho procuração nem sou amigo íntimo do Cel Príncipe. Externo esta opinião por vontade única e porque entendo que tudo acontece a partir do sucesso do referido coronel no episódio do sequestrador morto, e mui bem morto, por um atirador de elite do 6º BPM, estando ele, Cel Príncipe, no comando direto da bem-sucedida ação policial. Experiente intramuros, a ocorrência acompanhada pela grande mídia produziu-lhe inevitável exposição pública, mas apenas constatando o seu reconhecido valor profissional.
Lembra-me o ditado do “quanto maior o coqueiro maior é o tombo”... Porque a positiva exposição pública do Cel Príncipe, que não é dado a aparecer em mídia alguma, deve ter incomodado a muitos vaidosos de dentro e de fora da corporação. Bastava, a partir daí, haver qualquer fato adverso para desestabilizar o seu comando e a sua pessoa. E lhe bastou comparecer, a convite, ao jantar em homenagem a Garotinho, e com certeza não foi o comentário sobre o “escoteiro” que o derrubou do comando do 6º BPM com direito ao despeitado discurso midiático do governante. Este, sem dúvida, ficou incomodado com o concorrido jantar de seu adversário político, para o qual fui também convidado, e me senti honrado em sê-lo, e prazerosamente compareci. Para azar do concorrente, havia lá, sim, muitos oficiais da PMERJ e do CBMERJ, ativos e inativos. Mas eu não tenho comando para perder ou ganhar nem guardo o temor de retaliações, já passei da idade.
Apesar de tudo, e por outro lado, não posso deixar de afirmar que receber o comando do 9º BPM é grande honraria. Não é demérito algum. Trata-se de área das mais violentas do Rio e sempre carece de comandantes capazes de entender aquela sofrida tropa. E ninguém melhor do que o Cel Príncipe para ocupar aquela cadeira de comandante à altura do seu valor pessoal e profissional. Portanto, e provavelmente sem saída – o discurso do governante descortina sua má intenção –, o comando-geral da PMERJ destituiu do 6º BPM o coronel especial, o respeitado “Caveira” que não falou nada demais, apenas comeu em lugar e hora errados, e lhe conferiu o honroso comando do 9º BPM. Esta é minha visão e minha versão dos fatos, “palavra de escoteiro”!...

6 comentários:

Paulo Xavier disse...

Neste caso fica valendo o velho ditado: Na briga do mar com o rochedo quem sai perdendo são os mariscos e os caranguejos.
Quem acompanha o noticiário policial do nosso Estado, conhece o valor do Cel Principe e do deu destemor e afinco no combate ao crime. Perde o comerciante, perde o morador ordeiro e pacífico desse belo bairro da Tijuca (Zona Norte com cara de Zona Sul)e adjacências.
Para quem é adepto da máxima "ninguém é insubstituível" saiba que ainda não substituiram Beethoven, Ghandi, Beatles, Pelé, Zico, Da Vinci. Quanto ao substituto do Cel Príncipe, só o tempo dirá e essa interação, povo x polícia muitas vezes demanda bastante tempo.

Celso Luiz Drummond disse...

Grande Emir, parabéns pelo brilhante texto.
Tenho acompanhado com atenção esta questão da UPP. Sinceramente depois do incidente ocorrido no Tabajaras no qual uma moradora foi ameaçada e do ônibus incendiado na Cidade de Deus essa "política de segurança" perdeu toda a sua credibilidade.
Perde-se ainda mais quando o governador destina R$30mi, só em propaganda política. Com isso a imprensa carioca que deveria servir como serviço de utilidade pública, vem omitindo diversos fatos ocorridos na Zona Norte (que são reflexo direto das instalações das UPP's).
Anteontem (quinta-feira), houve um intenso tiroteio no morro da Serrinha, só tomei conhecimento do fato pois o Jornal do SBT mostrou imagens do intenso confronto que foi travado em Madureira Ontem.
Arrastões que vem acontecendo no trânsito em vias públicas do RJ, também não estão sendo noticiados no RJTV por exemplo, aliás os confrontos como esse de quinta entre policiais e traficantes não mais noticiados, só se exalta a UPP do Borel.. a ocupação, a repercussão.
Fico ainda mais perplexo quando lendo jornal de outro estado, diz que o RJ não conseguiu atingir a meta estipulada como redução da criminalidade e acabo de ler no twitter Bocadesabao que os dados da criminalidade na zona sul foram manipulados para atender os interesses do Beltrame e do Sérgio Cabral.
Hoje pela manhã novamente ouve confrontos na zona norte, fato que só foi noticiado pelo SBT Brasil,Rede TV News e BAND de fato e de direito como realmente aconteceram. A Record fez uma matéria totalmente manipulada,no qual não citou nada do confronto, só exaltou a prisão do traficante Ratinho na casa de sua sogra, dando a entender que o Beltrame está prendendo também. É o que chamamos de matéria paga.
O Cel. Príncipe desagradou o governador e foi punido pelo mesmo.
A UPP ao contrário do que a imprensa diz não é solução mágica. A UPP não vai reduzir os índices de criminalidade na cidade, a UPP só acabou com a ostentação de armas nos morros. Somente isso. Dentro de curto prazo nos cidadãos de bens que vamos sentir os reflexos da UPP já que assaltos, latrocínios, arrastões tendem a aumentar de forma vertiginosa no asfalto.
Aliás na faculdade no qual eu curso direito o meu professor disse que a PMMG está atenta a uma possivel migração dos traficantes vindos do RJ para a grande BH, já que Belo Horizonte é uma cidade que possue muitas favelas localizadas em morros incrustradas em áreas nobres da capital mineira, assim como no RJ.
Pra finalizar a idéia base da política de tolerância zero nova iorquina teria sido a melhor solução para o RJ. A politica visa combater desde o moleque que lava a janela no seu carro no semafóro que pode vir a lhe assaltar até criminosos e gangs de alta periculosidade. O Fato é que apesar dos incidentes isolados que NY enfrentou no domingo de páscoa onde houve um tiroteio de gangs (que estao ameaçando ressurgir)a cidade se transformou. Deixou de ser uma das cidades mais violentas do mundo e passou a ser um dos destinos mais desejados. Areas que eram guetos intransponíveis hoje são pólos turísticos e lugar cujo os imóveis chegam a alguns milhoes de dólares

Anônimo disse...

Prezado Amigo Cel Larangeira:

Eu particularmente, além de amigo, sou um fã do Coronel Príncipe. É um dos RARÍSSIMOS OFICIAIS (Ativos e Inativos) com caráter e dignidade. Policial de verdade, operacional, CAVEIRA e NUNCA foi de ficar "escondido" em gabinete.

Torço para que ele um dia, seja nosso Comandante Geral, pois assim teremos, UM COMANDANTE DE VERDADE A FRENTE DA NOSSA BRIOSA CORPORAÇÃO.

André Luiz Tavares

C. Alberto disse...

Grande Cel. Emir laranjeira, trabalhei com o Sr. no 9º BPM, e com certeza o Sr. foi o comandante mais digno, macho e companheiro que jamais passou pela polícia, hoje estou fora da PM, mais sai a pedido pois me tornei um empresária graças a deus muito bem sucedido, mais tenho muito orgulho de ter sido soldado da PM e ter servido com o Senhor e tambem com o capitão pirasol e toda a rapaziada que veio com o Sr. do 12º BPM, tenho a certeza que o 9º BPM, encontrou finalmente um substituto a sua altura.

Emir Larangeira disse...

Prezado C. Alberto

Obrigado pelo carinho e pelo comentário justo a respeito do Cel Príncipe.
Um afetuoso abraço

Anônimo disse...
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