terça-feira, 12 de janeiro de 2010

AS CEM MELHORES CRÔNICAS BRASILEIRAS




Joaquim Ferreira dos Santos, escritor, jornalista e cronista do Jornal O Globo, diz que Rubem Braga escrevia suas melhores crônicas quando estava sem assunto. Não é exagero sugerir que tal hábito se reporte aos demais cronistas que nos deliciam desde muito tempo, havendo hoje, porém, uma geração que nada deve aos mortos. Também é difícil saber de escritor que não prefira ler a escrever. Há exceções, claro, assim como há a inveja e algumas desavenças produzidas por vaidades. Ninguém está livre das vaidades, até o mestre Machado de Assis foi alvo de vaidades e invejas ferrenhas. Mas, de um modo geral, quem escreve gosta de ler o outro e cada leitura lhe traz inspiração para escrever mais e melhor.
Estou agora devorando AS CEM MELHORES CRÔNICAS BRASILEIRAS selecionadas por Joaquim Ferreira dos Santos, que, por modéstia, não selecionou muitas das suas que deveriam estar entre as cem apresentadas no livro e até na dianteira delas. Tanto é verdade que a introdução dele já é obra de arte, e não poderia ser diferente: quem acompanha a obra do selecionador sabe que ele é um dos craques contemporâneos da literatura.
Curioso é que a crônica às vezes é chamada de “coluna”, “artigo”, ou de nada. Apenas ostenta um título e se vê publicada em algum jornal ou revista... Ou blog... Graças aos céus, há vivos muitos cronistas de renome e muitos principiantes que lhes seguem os passos anotando cada frase espetacular, cada imposição à reflexão de um modo sempre peculiar. Sim, as crônicas parecem pratos com temperos exclusivos. Todas têm sua própria identidade, embora um mesmo autor faça delas um repasto completo incluindo sobremesas deliciosas.
Quem não conhece o “Zecamunista” do João Ubaldo Ribeiro?... Não vou me alongar em exemplos de frases ou personagens marcados no transcorrer da leitura, sem embargo de uma frase grafada por Carlos Drummond de Andrade em sua crônica “Garbo: novidades”: “É facílimo enganar uma cidade.” Como esta frase serve a tantos propósitos diferentes! Quantos desdobramentos permitem a frase afastada do seu contexto! Como instiga a inspiração!...
Continuarei lendo as crônicas, muitas delas em releituras de cabeceira e outras inéditas. Porque, sem dúvida, Joaquim Ferreira dos Santos garimpou legal! Daí é que estou começando a ler “O inferninho e o Gervásio”, do saudoso Stanislaw Ponte Preta, já na página 126 da coletânea. Creio que repetirei a leitura do livro até que venha outra leva de preciosidades garimpadas por quem sabe das coisas. Mas voltarei à frase de Drummond, e, inspirado nela, inventarei algum assunto. Por enquanto, estou sem assunto...

Um comentário:

Sayonara Salvioli disse...

Amigo,

Pode-se dizer que sua "falta de assunto" é peculiar e produz boas laudas eletrônicas (risos)!
E o modo como falou acerca das 100 melhores crônicas estimulou-me a ler o livro sem demora. Deve ser mesmo excelente!... A crônica, em si mesma, já é um estilo que muito me agrada; é frugal, desinteressada, quase sempre guarda um humor sutil e, sobretudo, encerra verdades antes contidas do dia-a--dia. E, se escrita com a maestria de notáveis, consagra-se ainda mais como um gênero a se ler, apreciar e usufruir!
Obrigada pela dica :)