sexta-feira, 20 de novembro de 2009




Segundo anunciou o jornalista Segadas Vianna, mais um posto de policiamento fixo da PMERJ foi metralhado por bandidos, por sorte sem deixar vítimas. O fato teria acontecido no início da manhã de 19 de novembro de 2009. Eis a íntegra da nota do jornalista em seu blog:


Um morador de Copacabana que mora próximo ao Morro do Pavãozinho em Copacabana nos relatou que acordou com o barulho de uma rajada de metralhadora. Ao descer de seu prédio para ver o que havia acontecido deparou-se com a cabine da PM que fica na esquina das ruas Miguel Lemos e Xavier da Silveira , também em Copacabana com marcas de tiros e soube por PMs que ali estavam que bandidos haviam passado de carro e disparado contra a cabine.”

Eu já havia comentado em artigo recente sobre fato semelhante ocorrido no dia 16 do mesmo mês, de modo que, de tão corriqueiro, não pretendo mais que registrar o novo ataque para efeito de lembrança futura. Isto feito, passo agora a anotar alguns causos que me foram enviados por um Tenente PM, sob o pseudônimo MINEIRO DE BOTAS (nem que me matem eu confesso ser ele o tenente PM Alex Mineiro de Oliveira), para deleite dos apreciadores desse gênero de literatura que muito me apraz:



ESTÓRIAS FABULOSAS DE UMA MILÍCIA DO BEM


Autor: MINEIRO DE BOTAS


Tarde ensolarada, verão escaldante de 40º c à sombra, em um momento de feroz e incansável embate contra a criminalidade no centro da capital. O local, uma estrada no interior, onde o grupamento comandado pelo valoroso e audaz Sargento Agapito (assim batizado numa homenagem ao Major Agapito, da então excelsa Guarda Real de Polícia) em estrada de terra, patrulha, contando-se com duas viaturas. A certa altura da estrada ouve-se um estampido.

– É disparo de armamento pesado e veio do meio daquele milharal com mato alto – diz o cabo Rimialdo (assim batizado, a exemplo do sargento Agapito, por algum desafeto que também deve ter mentido sobre a origem de seus nomes).

– Motoristas na viatura, o restante comigo e preparados para confronto, parece cal. 12 – disse Agapito.

Ouve-se um segundo estampido, momento em que Agapito e seus homens agachados e atentos, adentram ao matagal.

– Sargento, esse veio em nossa direção e passou perto – diz Rimialdo já suando frio.

– Guarnição em linha! Polícia! Se entreguem! – diz o sargento.

Novo estampido e os policiais realizam disparos ao objetivo.

Cessam-se os disparos de ambos os lados, o silêncio impera. Os milicianos avançam. Mais, mais um pouco, e então um novo estampido.

– Sargento, esses cara são o cão chupando manga! – grita o cabo.

– Fogo! Manda ver Rimialdo! – determina Agapito.

Em meio a batalha, Sd Strenzio, o melhor dotado fisicamente (foi paraquedista durante dois dias, sendo recambiado para pé-preto, pois tinha fobia de altura), rasteja, chegando a poucos metros do objetivo, o local donde vinham os disparos do inimigo. Um novo disparo o faz agilmente rolar para a esquerda, fazendo valer seus dois dias de treinamento paraquedista, sentindo apenas certo desconforto na altura do abdômen.

– Passou perto! – pensou Strenzio. E gritou: “Valei-me sargento, tô pegado!”

Nessa altura dos acontecimentos Agapito e Rimialdo, num arroubo de coragem extrema e espírito de corpo, avançam aproveitando intervalo no fogo inimigo, encontrando no meio do milharal um botijão de gás de cozinha colocado astuciosamente com dispositivo especial para espantar pássaros do milharal, com estrondos a intervalos periódicos.

Saldo do embate:

•76 munições de fuzil;

• O sargento Agapito perdeu seu relógio;

• Cabo Rimialdo foi picado por uma lacraia; e

• O Soldado strenzio se borrou todo.

Em tempo: o botijão saiu ileso sem um arranhão e continua seu trabalho, para incômodo da passarada.


Meno male...

*



Anualmente, a briosa realiza competições acirradas, nas quais se despontam atletas natos e outros forjados pelo suor e dedicação necessários a qualquer tipo de mister, em especial os dos milicianos, os quais necessitam de vigor e qualidade físicas a toda prova.

Dentre tais competições, já incorporadas à história da caserna, destaca-se a corrida Sargento do Nordeste (nome dado a intimorato miliciano).

No centro de formação dos milicianos, tanto das praças como dos oficiais, a vitória na corrida Sargento do Nordeste era altamente cobiçada; assim como um pesadelo, se fazia presente e trazia risco a um futuro de encarnações e “pilhas sem fim”.

Trata-se de ser humilhado pelo perneta corredor, apavorante criatura que tirava o sono de vários recrutas escalados para participar da maratona do Sargento do Nordeste.

Ainda era madrugada, quando os atletas chegavam ao local de largada. O Cadete Esmélio não era daqueles afortunados pelo dom de correr. Na noite anterior, não conseguiu pregar olhos, recordando a todo o momento do pesadelo que tivera.

No pesadelo, o Tenente Carlos, um de seus instrutores de educação física, desses implacáveis (pé no saco), alertava-o sobre o risco de ser galhofado por seus pares durante toda a sua existência, caso fosse ultrapassado pelo perneta corredor (apavorante criatura que tirava o sono... bem vocês já sabem). Esmélio era ultrapassado velozmente pelo sacana do perneta, que na linha de chegada deitava no chão para rir, e de modo sugestivo ainda lhe apontava a muleta por entre as pernas.

Sentiu um frio na espinha e um desconforto intestinal somente ao pensar na encarnação do Cadete Célio (o sacana da turma, que constantemente o zoava), bem como da vergonha que seu irmão, seu veterano, passaria. Lembrou que nas corridas feitas pelos cadetes sempre chegou entre os últimos, tomando certo vigor e entusiasmo ao ver que o Cadete Sebastião, 1,76 metros de altura e 87 quilos, participaria da corrida.

– Ah, moleque! Me dei bem! Sempre tem um gordo pra salvar a pátria.

O tempo avançou inexoravelmente e chegou a hora da corrida.

Ouve-se um estampido e todos começam a correr. Esmélio começa bem; porém à medida que os minutos passam se vê ultrapassado por vários competidores. A certa altura, já entre os últimos, vê na lateral do caminho o Tenente Carlos com um estranho sorriso. Desconfiou que fosse por causa de uma cadete do primeiro ano (das tantas) que o ultrapassara. Sentiu seu reto se contrair... Suando frio de um modo ainda novo, e tomado de uma coragem excepcional (principalmente porque o gordo Cadete Sebastião lhe passava bufando, juntamente com um septuagenário), ousou olhar para trás, advindo a realidade de todos os seus medos.

Ali, passo a passo, digo, passo a pernetada, já há poucos metros de si, estava a figura apavorante: o incansável, o lendário, o filho-da-puta do perneta corredor.

Não viu mais nada. Acordou espantado na ambulância da corporação.

Atualmente, tendo subido na escala hierárquica e sido condecorado com inúmeras honrarias por ações bem-sucedidas em prol da sociedade, esse miliciano não sucumbiu ao peso das gozações, trazendo consigo somente algumas grandes indagações:

• Ao olhar para trás tropeçou nas próprias pernas e caiu batendo a cabeça?

• Devido ao forte calor desfaleceu, pois não se alimentara corretamente?

• O olho gordo do Tenente Carlos o afetou?

• O Cadete Célio armou uma arrumando alguém disfarçado para lhe pregar uma peça?...

Ou...

• Foi mais uma vítima do perneta corredor?

Não foi possível realizar exame anti-dopping no perneta, entretanto os oficiais de sua turma juram que o perneta existiu e anualmente assombra competidores da tradicional corrida Sargento do Nordeste.


*

CLASSE UNIDA



Os milicianos sempre tiveram espírito de corpo. Segue abaixo relato psicografado, em janeiro de 2007, corroborando tal união...

O Cabo IML sempre foi um cara problemático, nunca foi de cumprir ordens, passava “o rodo” fora dos ditames da lei, sendo um miliciano da pá-virada. Por duas vezes foi submetido a Conselho de Disciplina, permanecendo na corporação face a um advogado ardiloso, mas competente. Faleceu fora do seu serviço normal, em situação contraditória, não se sabendo se por vingança de algum desafeto ou alguma de suas peripécias.

Acabou indo parar no inferno. Ao chegar, foi logo recepcionado por um dos chifrudos, o qual se incumbiu de lhe mostrar seus atuais alojamentos. Passando por diversos locais, vendo almas atormentadas por torturas várias, finalmente chegou a um local aonde vários e enormes caldeirões de óleo fervente borbulhavam com pessoas em suplício.

– Cacete! – pensou o Cabo. – Será que estarei nessa?

Parecia mágica, pois, por algum tipo de telepatia infernal, o diabo que lhe ciceroneava disse-lhe para não ficar nervoso, que tudo aquilo era normal no inferno.

Pensou novamente: “Isso porque não é o seu rabo que está no óleo fervente, e, por falar nisso, o que aquele outro diabo está fazendo com aquele tridente na mão em cima da borda do caldeirão?”

Nem foi preciso resposta, pois quando uma daquelas almas sofridas de dentro do caldeirão tentou sair, foi imediatamente fincado pelo tridente do diabo, gritando mais ainda de dor, voltando a submergir no óleo fervente.

– Aqui nesta ala do inferno, nós dividimos os caldeirões por profissão, ficando um diabo incumbido de evitar que vocês fujam. Hahahaha! – disse o diabo cicerone. E completou: “Este que você está vendo e o dos advogados corruptos, o segundo com aquele outro diabo o dos políticos ladrões e assim vai.”

IML Sentença, quando vivo, sempre foi muito observador. Notou que o último dos enormes caldeirões estava sem o diabo na borda. E indagou:

– E aquele último caldeirão, é de qual profissão?

– É o seu, o caldeirão da milícia, só para milicianos – disse o diabo.

Miliciano malandro, pensou que seria mole fugir daquele local, uma vez que nesse último caldeirão não havia nenhum capeta de guarda. Sorrindo, silencioso, mas se lembrando imediatamente que seus pensamentos poderiam estar sendo monitorados pelo diabo acompanhante, ele ouviu:

– Não fique tão animado, IML. Já que é tão observador, olhe com atenção...
Nesse momento, uma das almas do último caldeirão, não vendo diabo de guarda, arrisca-se audaciosamente na fuga. Já com metade do corpo do lado de fora, começa a rir sem controle, quando aqueles que ainda estavam dentro do caldeirão lhe puxam pela perna, fazendo-o afundar novamente no óleo fervendo.

– Esse é o nosso caldeirão preferido. Me poupa um diabo e ainda economizo um tridente – disse rindo o diabo.


Eta classe unida!

3 comentários:

Dr. Agenário Velames disse...

Caro Emir, em meio a escalas de serviço apertadas, faculdade, vida conjugal e atualização do meu blog, eu ainda consigo encontrar um tempinho apara ver o blog do amigo, que me faz sentir muitas saldades do rio, luga onde morei por muitos anos. A vc, meu abraço e os parabéns pelas postagens sempre relevantes. Até mais, Soldado VelameS.

Anônimo disse...

Coronel,

Sou amigo do "Braga",Policial com quem o Senhor trabalhou que atualmente mora em Iguaba Grande.
Sou seu fã e pedi a ele seu livro de presente. Mas, só aceitarei se o Senhor autografa-lo.

Abs! Continue na luta.

Elmo Iguaba Grande

Emir Larangeira disse...

Mande-me o seu endereço, que lhe enviarei um livro com maior prazer. Abs