sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Divagações de um nefelibata



Eu não sou, tu não és, ele não é, nós não somos, vós nãos sois, eles não são... Tudo é passado. Quando miramos algo, a imagem leva um átimo para penetrar o nosso cérebro através da mácula e finalmente ser percebida, o que a torna passado. Não vemos, pois, o presente; vemos o passado. E por aí vão os absurdos, longe de estar certo Albert Camus ao sugerir o suicídio como o seu principal foco de reflexão filosófica sobre o absurdo, situando o gesto extremo como mais relevante que saber “se o mundo tem três dimensões ou se a mente tem nove ou doze categorias”. Ora, sejam lá quantas forem as dimensões do universo ou as categorias da mente, tudo que vemos é passado. A luz projetada pelas estrelas nos chega depois de longa viagem e os interruptores cósmicos podem estar desligados pelo Criador de tudo que existe ou do nada que inexiste. Hum... Estou de mão no queixo, intrigado...



Eu não sou porque não sei... Não sou porque nem sei se há alguma realidade ou se tudo é holograma. Não sou porque não sei se tudo é percepção apenas minha. Tu não és pelos mesmos motivos, e assim sucessivamente na conjugação... Mas, de repente, cuidamos de situações imediatas para dissonar o que não compreendemos. Tentamos criar motivações para não sentir o tempo passar. Mas ele passa e nos vence pela morte ao fim e ao cabo de nossas infrutíferas tentativas. Será que viver assim vale a pena, se é que vivemos?... Não sei se vale porque não sei se sou; e se não sei se sou, estou perdido neste universo incompreensível até para os astrofísicos e mecânicos quânticos.
“Eu sei que nada sei”, umas das versões da palavra socratiana ou mera especulação de Platão “dizendo Sócrates”. Eu também (pobre de mim!) nada sei de coisa nenhuma. E tento vencer o tempo enquanto ele me envelhece e me encaminha ao fim de todas as minhas incertezas. E assim terminarei no túmulo ou no além-túmulo, o que também ignoro, tanto como não sei se o universo surgiu de um big bang ou sempre existiu. Quem somos nós?... Eis a indagação que nos atormenta desde antes e decerto terminará sem resposta depois que o planeta Terra cumprir sua finalidade e desparecer. Sabemos, pelo menos, que ele não é eterno como o universo, e se o universo é realmente eterno, jamais saberemos, somos apenas a ínfima parte dele ou pensamos sê-lo. Mas tudo prossegue como cenas gravadas em muitos universos paralelos, ou multiversos, se é que existem e se é que nós mesmos existimos.
Toda essa incompreensão se acirra porque, – eu apenas presumo, – não contemplamos o universo, não paramos para abstrair, não exercitamos a imaginação, talvez a única forma de vencer o tempo e fugir do passado que vivenciamos como se fora presente. Pela imaginação, – viajando literalmente na maionese, – aí sim, podemos ampliar o nosso tempo, pelo menos na nossa pobre mente assustada pela incerteza existencial, incerteza até mesmo da dor, das emoções, das razões e de tudo mais que supomos perceber ou fingimos fazê-lo para empurrar o tempo, enquanto ele nos ignora e segue, – indiferente, – a nos enterrar gerações após gerações. Mas nós, – teimosamente, – desenterramos os mumificados apenas para aumentar nossa certeza da inutilidade do corpo.
Pesquisa... Pesquisamos tudo, buscamos um conhecimento impossível. Ou então perseguimos a revelação e nos acomodamos em rezas e orações para tentar salvar uma alma e um espírito que imaginamos ter, já que o corpo físico, com o tempo passado, já era! Mas, mesmo assim, vivenciamos as vaidades, sentimo-nos eternos, sempre jovens, arrogantes, até que nos olhamos a nós no espelho, recebemos a imagem passada e constatamos, ou pensamos constatar, a vitória do tempo.
Texto bobo... Talvez sim, talvez não... Texto demonstrativo de tudo, de nada, ou de uma incerteza incômoda. Quantos não puseram termo à vida somente para conhecer o “lado de lá”? Dizem que a curiosidade mata, e deve mesmo matar. Entretanto, não resolve o nosso problema, porque, seja como seja a morte, ela se resume à experiência do outro, não à nossa. Que diacho! Pelo visto, não vejo nenhuma solução para esse meu problema existencial. Então, – e por minha livre vontade, – vou partir para a ficção. Vou para o mundo do faz de conta e quem quiser que fique tentando enganar o tempo com realidades inexistentes e perdedoras. Prefiro ser nefelibata a ser realista. Porque, se nada sei nesse estágio da vida, pelo menos desconfio de que a realidade efetivamente não existe, e, em inexistindo, não perderei mais tempo com ela...


Um comentário:

Anônimo disse...

tenho saudades do tempo em que o senhor cel laranjeira comandava o 9 batalhao em rocha miranda e de todos, era um batalhao por completo as equipes funcionavam.cmt como esse está dificíl aparecer.