sábado, 31 de outubro de 2009

Que entre mortos e feridos, salvem-se a Copa do Mundo e as Olimpíadas!


Tempos de pirotecnia policial, de descoberta da pólvora, de ufanismo programado, fotografado, filmado e noticiado. As Olimpíadas e a Copa do Mundo dependem disso, da boa imagem da polícia recentemente maculada pela queda do helicóptero e pelos pertences de latrocida afanados sem explicação, dois gols contra da PMERJ. Dois extremos de uma desgraça tornada única: a morte dos heróis na queda de sua máquina desprotegida e a prisão de oficial e praça em aterrador desvio de conduta. Mas eis que surge a “salvação da lavoura”, a coirmã dando toques e retoques na nova cena de sucesso midiático cujo alvo é a família dum traficante famoso e a apreensão de seus bens em poder de rotos e esfarrapados favelados momentaneamente tornados ricos e famosos: os vilões da história enfileirados como “bodes expiatórios”...
Jogada de efeito como essa não ocorre faz tempo. Polícia atacar família de bandido é exceção à regra, a pior de todas porque, no dizer dos marginais: “Desmoralizar família, não!” Mas o fato está consumado (tão elementar, e inegavelmente útil, por que só agora?...), a novidade vem à tona e explode feito granada defensiva na mídia, feito heróico da coirmã a salvar a tão propalada “política de segurança pública” no seu terceiro ano de insucesso. Parece surreal. O secretário se empolga e dispara a novidade como um novo descobrimento do Brasil, a vitória da copa, o recorde de medalhas olímpicas. A fila de pés-de-chinelo em foto colorida não parece saída de cobertura da Zona Sul. Predominam as sandálias de dedo que “soltam tiras”, não há tantos carrões nem jóias esplendorosas, os imóveis não foram mostrados, há apenas a foto dos favelados flagrados com alguns bens incompatíveis com a riqueza e o poder do traficante considerado “presidente” do CV. Era para ser bem mais...
Em título pomposo (“Um golpe nas finanças do tráfico”), a matéria generaliza brilhantemente a capacidade estatal de garantir os eventos esportivos internacionais, para gáudio do sistema midiático que neles aposta suas milionárias fichas. Daí a nossa suspeita de que se trata de orquestração geradora de notícia, porque, trocando em miúdos, identificar parentela de bandidos presos é facílimo. Nem depende de investigação, basta consultar a Secretaria de Administração Penitenciária e recolher as qualificações por lá exigidas aos visitantes de cadeia. Para saber que carros os favelados usam, basta observar os locais de estacionamento em dias de visita. Enfim, identificar e localizar parentes de presos, sejam lá quais forem, é coisa de principiante. Montar o aparato policial é ainda mais fácil. E assim a portentosa operação estampada em primeira página, com foto artística do competente chefe de polícia (e de fato é reconhecido como um dos melhores delegados da PCERJ), salva as aparências de um governo cuja realidade se resume ao que se gravará ao fim e ao cabo deste texto.
O estilo da operação guarda relação com as operações aparatosas da Polícia Federal e suas denominações de efeito midiático. Os policiais descobriram que a imprensa necessita de títulos para valorizar suas matérias, para confeitar o estilo do “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. Pois os lucrativos eventos internacionais devem ser garantidos a qualquer custo, e o custo mínimo é salvar as aparências atuais para que as divisas jorrem no futuro próximo. Enquanto isso, a realidade, mesmo, é a divulgada por outro segmento da secretaria de segurança pública, por inevitável cobrança daqueles que estão atentos à pirotecnia e não se deixam vencer por aparências...


Um comentário:

Rose Mary M. Prado disse...

Os aspectos que trarão a solução prolongada do problema das drogas estão na esfera das pastas públicas da educação, saúde e infraestrutura urbana. No plano das ações preventivas é necessário resgatar o jovem em situação de risco mostrando a esse cidadão que, apesar dos alhures conspirarem contra, vale a pena ser honesto. O mundo do mercado ensina que enquanto houver um consumidor haverá sempre um fornecedor. Ações com foco na inclusão social não podem esquecer de atacar os consumidores de drogas que teoricamente estão inseridos na sociedade dita saudável.
É necessário fazer uma repressão qualificada, aliando a força ostensiva aos dados trabalhados por uma análise criminal que produza um conhecimento capaz de apontar os pontos e momentos corretos para as ações de repressão.