sábado, 24 de outubro de 2009

Por que é assim?...



Há momentos em que me indago por que nós, policiais militares, não temos o direito de vivenciar alegrias. São tantas as tristezas a se revezarem dentro de nós que a alegria parece não se integrar ao nosso viver. Por mais que acertemos, a maldição ocorre. Ela vem pela morte de alguns companheiros ou pela má ação de outros; são azares insistentes, incompreensíveis e doloridos. Não importa o grau de heroísmo que emoldura a nossa morte; mais que ela, a morte do herói, a má ação predomina e afeta os membros da corporação como um todo: ativos, inativos, pensionistas, dependentes etc. Só não parece afetar a sociedade, que exige sempre o nosso acerto, e nossa morte em boa ação é quase que “falha”. Já a nossa má ação produz um efeito catastrófico em tudo que é mente ou espírito, seja da corporação ou da sociedade. A má ação funciona como a tsunami, enfurecida e avassaladora, destruindo nossas emoções por onde passa.
Tão pouco tempo e quase ninguém se lembra do heroísmo dos tripulantes do helicóptero que caiu sem atingir inocentes, o que demonstra ser esta a real intenção do PM nos confrontos com bandidos: eles não querem balas perdidas atingindo inocentes. Mas a boa ação, que ceifou três vidas humanas, que infortunou três “heróis fardados”, deu lugar ao discurso do “bandido fardado”. Culpa exclusivamente nossa. Pagamos o alto preço pela exceção à regra geral das boas ações cotidianas. Não conseguimos responder às pressões externas com o nosso lado bom – a rotina – em detrimento do nosso lado mau, o gravíssimo tropeço dentro da rotina ruindo nossos espíritos desanimados. O que nos falta?...
Talvez seja um “beba coca-cola”! Talvez um “beba PM”! Afinal, tudo nesse mundo pós-moderno é propaganda ou contrapropaganda, tudo é marketing ou merchandising. Quem se posta indiferente à força desses componentes midiáticos e depende apenas de quem tem interesse nas falhas (a mídia), tende a perder a competição. Sim, porque de nada adianta levar mídia gratuita ao sepultamento de um herói se no dia seguinte surge o anti-herói destruindo aquela efêmera boa imagem conquistada em tragédia institucional.
Sim, sim, a questão é de imagem, e imagem é como a bolha de sabão, que logo desaparece para dar lugar a outra; se não for imediatamente reproduzida, o espaço fica vazio para receber a crítica negativa e indefensável. Não somamos antes para diminuirmos depois; ou melhor, não multiplicamos antes para diminuirmos a pequena parte do nosso todo exponencial. Só deduzimos a crítica daquilo que não temos: boa imagem – nossa bolha de sabão. E não temos boa imagem porque não a produzimos nem mantemos, embora saibamos (e cabe repetir) que no mundo pós-moderno nada sobrevive sem competição e não se vence competição sem propaganda e contrapropaganda.
Investimos em tanta coisa, temos boa intenção, mas não atentamos para a qualidade moral e profissional do homem, o que entendemos por “espírito de corpo”. E se porventura investimos nessa qualidade profissional e moral do homem (será?), não divulgamos isso com uma grandeza capaz de tornar as más ações individuais em apenas isso: más ações individuais, como gotas no nosso oceano de boas ações. Com efeito, não nos preocupamos com a nossa boa imagem; contentamo-nos com a pouca repercussão dos nossos bons serviços, até que o próximo tsunami nos venha arrasar e deixe como destroços a imagem negativa.
Não estimulamos nossos homens fardados ao orgulho profissional e pessoal. Propagamos, isto sim, a nossa “eficiência” em separar os maus e descartá-los toda vez em que somos acuados pelas más ações de alguns. Não divulgamos nem para dentro de nós mesmos nem para o público o nosso lado sadio, trabalhador, abnegado e heróico – o lado da maioria. Temos a boa ação como mera obrigação e nos menoscabamos a nós mesmos em autofagia institucional. Aceitamos a ideia de que merecemos as críticas e não possuímos nenhum mérito para elogios, já que somos pagos para proteger a sociedade, e até perder a vida faz parte do nosso labor.

Por quê?...

Por que ignorar as técnicas da propaganda em vez de usá-las para estimular o nosso público interno e influenciar positivamente o público externo? Por que não tratamos de transformar obstáculos em facilidades? Por que ignoramos a ciência da comunicação ou a exploramos minimamente e da pior maneira?

Por que tanta insanidade assumida?...
Por que é assim?...

4 comentários:

Anônimo disse...

eu gosto muito dos seus comentários, pois tem a cara da do PM fala da alma, do dia a dia. Parabens. sou sgt pm r/r ba.

Emir Larangeira disse...

Valeu, companheiro!

Obrigado pela participação.

Bom fim de semana!

Leonardo disse...

Fala seu Emir, aqui é o Leonardo.quanto tempo não nos falamos heim!! como esta o senhor?

gostei muito do texto do senhor.. realmente as boas ações da PM não se mostra na midia no dia a dia. Apesar de ser uma obrigação do ofício, fico chateado em ver que só as desgraças ganham notoridade..Devo admitir , que fiqei muito chateado com a ação daqueles policias militares no caso do fundador do afro reggae. Por conta das ações de uns maus policiais, toda a coorporação ganha uma má fama. vejo no dia a dia, que essas situações, tiram a credibilidade do policial e gera uma enorme disconfiança frente a população. Gostaria de saber o senhor sobre o comentario feito, no QG da PM, de um dos integrantes do afro reaggae que disse que esses maus policias " eram criminosos fardado ". O governador Sergio Cabral, foi duro em suas criticas aos mesmos soudados. Devemos pensar que a ação feita por esses policiais, realmente foram lamentaveis e só resta a população esse sentimento de raiva. Claro que nunca devemos generalizar, pois o número de policiais honestos e que honram a farda que vestem é muito maior.

Um garnde abraço do amigo

Emir Larangeira disse...

Caro Leonoardo

É natural que a mídia reaja assim. É aquela velha história da notícia inusitada. Se o cachorro morder a perna do transeunte, isto não é notícia. Mas se o transeunte morder a perna do cachorro, aí sim, estoura na mídia. A sociedade espera sempre que o policial cumpra com o seu dever, mesmo que morra. Isto não é notícia. Mas quando ele, em vez disso, se desvia na sua conduta disciplinar ou pratica crime, não há perdão, é o inusitado a estourar na mídia. Ressalve-se, porém, que a sociedade aplaude quando a polícia mata o bandido, mesmo de forma duvidosa ou até criminosa. Mas, em sendo bandido, aí "pode", entendeu?
Mas a PMERJ não pode nem deve se abater. Deve seguir em frente combatendo os criminosos de fora e de dentro. Não vejo nada demais no fato de um cidadão indignado tachar os criminosos da PMERJ de "bandidos fardados". Eles agiram como bandidos?... Agiram. Eles usam farda?... Usam. Então, associando uma coisa a outra, o neologismo "bandido fardado", para azar nosso, reflete a realidade vista pela ótica do indignado,um direito dele, gostemos ou não.
Obrigado pela participação

Abs