segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A PEC 300: A saga de uma categoria nacional



Será apenas sonho dos militares estaduais?...

Se o Rio de Janeiro é o tambor do Brasil, os bombeiros militares e os policiais militares ativos, inativos, pensionistas e demais dependentes começam a fazer dele uma grande bateria para defender a PEC 300, que já se tornou símbolo de união e luta de todos os militares estaduais brasileiros.
O interesse pela aprovação da PEC 300 envolve mais de um milhão de militares estaduais e familiares espalhados pelos quatro cantos do país. E é certo que esse expressivo contingente um dia se reunirá em clamor num só lugar. E a sociedade e os políticos acordarão para a grave situação por que passam esses abnegados servidores públicos, discriminados na Carta Magna sob a hipócrita alegação de que compõem uma “classe especial”. Na verdade, compõem, mas no sentido mais pejorativo da expressão, porque não recebem nenhuma contrapartida por serem “especiais”. Muito pelo contrário, cobram-lhes deveres e lhes são negados direitos, num sistema de pressão disciplinar que os torna uma espécie de “rebanho” sem vontade encaminhando-se ao abate. É o que destinaram aos militares estaduais na “constituinte cidadã” de 1988 e em Cartas Estaduais não menos repugnantes: a opressão!
Sou militar estadual, tenente-coronel reformado da PMERJ. E sei que esperam de nós o eterno conformismo, e assim estamos há mais de vinte anos a ruminar essa desgraçada resignação. Nem me refiro ao período anterior a 1988... Agora, porém, é hora de exigir a cidadania plena. Somos militares estaduais, sim, mas trabalhamos como policiais no nosso dia-a-dia. Enfeixamos duas profissões complexas, sendo certo que a nossa categorização como “militar” só serve para nos oprimir de todos os modos, dando-nos desgosto. Por conta de um militarismo mal aplicado, nossa condição é a de cidadão parcial (não logramos gozar de todos os direitos sociais destinados aos trabalhadores urbanos e rurais). Trata-se de ambiguidade funcional extremamente perversa e decorrente de pérfida decisão política a nos transformar num grupo sem identidade ou de dúbia identidade (policial e militar), o que é ainda pior.
Ocupar as ruas e lutar por salários dignos reflete o mínimo do nosso direito de participar da vida nacional como verdadeiros cidadãos. Hoje, por conta dessa estapafúrdia designação funcional, somos esmagados por deveres militares e rigorosas cobranças disciplinares atentatórias à dignidade humana. A sociedade em geral, – estimulada por uma imprensa preconceituosa e discriminatória dos militares estaduais, como se respondêssemos por algum golpe militar do passado, – faz de tudo para calar nossas vozes, e exige que o Estado nos reprima. E os que tentam difundir a nossa indignação são destruídos física e moralmente, restando-nos poucas vozes ativas em virtude desta perseguição tenaz que o sistema vem impondo aos que se lançam na aventura de defender nossos direitos mais comezinhos.
Sei como isto funciona; num passado recente, senti na carne o massacre do meu ideal de defesa dos companheiros. Não me venceram! Resisti duramente. Destruíram, porém, boa parte de mim, moral e fisicamente, transformando-me em espectro. Agora, porém, o espectro se vai materializando e revivendo o bom combate. Surge um novo tempo de luta, não mais isolada, mas de expressivo grupo humano que muito se une a cada dia que passa. Devemos isto à inspiração de um parlamentar (Deputado Federal Arnaldo Faria de Sá, do Distrito Federal), que se sensibilizou e sintetizou num Projeto de Emenda Constitucional o nosso sonho. Cabe-nos agora transformá-lo em realidade contra tudo e todos.
Devemos sonhar com a PEC 300 como o Alferes Tiradentes, nosso Patrono Nacional, sonhou com a liberdade. Devemos, como o Mártir da Independência, enfrentar o que nos vier pela frente para ver nosso sonho realizado. Não nos será fácil. Primeiro enfrentaremos a nós mesmos, infelizmente, pois não são poucos os dobradiços ao poder político que historicamente nos retaliam. Há muitos vendilhões do templo, muitos escariotes fardados que preferem os gabinetes refrigerados, os altos salários comissionados e as propinas ofertadas pelo efêmero poder.
Sim, nosso maior desafio será interno; por isso nossa luta deve começar nos quartéis, para depois ganhar as ruas iluminando nossa passagem em coragem assumida. O destemor será fundamental, o ideário será a nossa alavanca propulsora. Não possuíamos uma causa relevante até então, mas hoje é diferente: surgiu o que faltava à corrente que abraçará o Brasil, puxando-o pra frente ou fazendo-o retroceder à força do nosso muque: a PEC 300!
A PEC 300 não é simples meta. Tornou-se Bandeira do Militar Estadual, esta que empunharemos sob o juramento de defendê-la como o fazemos com o Pavilhão Nacional. Devemos materializar esta nossa bandeira nas três cores que inspiraram a Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Trata-se de conquista da nossa cidadania, valor social que ainda não temos, mas fingimos tê-lo para agradar aos nossos carrascos.




A PEC 300 será, sim, a nossa bandeira a tremular nas marchas e a ser defendida por todos os meios de que dispomos, a começar pela coragem de exigir nas ruas os nossos direitos Primeiro estaremos em passeatas, desarmados. Mas, se não houver a compreensão de ninguém, devemos esquentar o ambiente social de algum modo, para que nos façamos respeitados. Se for necessário, até uma Greve Nacional!... Bem, não custa sonhar... Ninguém imaginava um negro presidente norte-americano e lá está ele... Se o país assistir a um movimento desse porte, aí, creio eu, seremos ouvidos e atendidos, e não mais nos tratarão como boiama a ser abatida, mas como gentes corajosas que não se rendem ao abatedouro. Afinal, se a Carta Magna nega-nos os mais elementares direitos, não somos obrigados a acatá-la na sua íntegra. Vamos então reagir à altura da nossa importância social, porque...

Juntos somos fortes!

3 comentários:

Rose Mary M. Prado disse...

Na realidade da Pm do Rio hoje sabemos que grande parte da tropa dorme mal, se sente nervosa, tensa, agitada, estressada,cansada, desestimulada e magoada com a generalização de uma imagem corrupta e ineficiente na sociedade.
Ainda se acrescenta a tudo isso o baixo valor dos soldos, o desejo do fim do rancho, a não remuneração no trabalho extra, o fato de não poderem mais se locomover em tranportes públicos com a farda para terem direito à gratuidade, a carência de médicos no HCPM e por aí vai. Fico arrepiada em pensar nisto, mas acredito que uma greve se faz extremamente necessária, de verdade!

Ulisses disse...

Belíssima esplanação sr. Ten Cel, sugiro que o sr envie essa mensagem aos deputados e senadores para que eles tomem conhecimento da triste realidade dos profissionais de segurança pública deste país.

PEC 300, EU ACREDITO!

henrique disse...

Caríssimo eterno Parlamentar Cel Laranjeiras .
O movimento nacional de apoio a PEC 300 , significa o RESGATE DA DIGNIDADE e beneficia a grande camada , maioria absoluta , da sociedade de BEM do país .
Creio que pegamos gosto pela coisa , o gigante adormecido está despertando naturalmente , não podemos mais aceitar ser OPRIMIDOS por toda sorte regras e comportamentos hipócritos , basta , nossa MOBILIZAÇÃO é irreversível !
AGORA É PRA VALER !
SEM LUTA NÃO HÁ VITÓRIA !
JUNTOS SOMOS FORTES sim !
QUE DEUS NOS ABENÇOE SEMPRE !
PEC 300 - DIGNIDADE JÁ - EU ACREDITO !