terça-feira, 13 de outubro de 2009

“Cobra que não anda não engole sapo.” (adágio popular)


Cabine assaltada na na Praia de Botafogo


O assalto à cabine da PM na Zona Sul do Rio de Janeiro, nesta semana, comprova a fragilidade do policiamento parado, seja qual for o modelo, exceção para as blitze organizadas em aparato. Ainda bem que nesse último caso ocorrido, mui vergonhoso, por sinal, o Cabo PM não foi assassinado, como geralmente ocorre com muitos colegas dele em imagens trágicas. Pior é que os fundamentos para estacar o policiamento ostensivo são diametralmente opostos aos princípios da frequência máxima a inibir a oportunidade do delito.
Existe um fundamento operacional que anda esquecido desde muito tempo, e que se resume na seletividade do uso da força. A força do policiamento ostensivo está na máxima frequência do patrulhamento a impressionar o contumaz delinquente. Mas patrulhamento ostensivo maximizado implica mais viaturas, gasolina suficiente e outros meios que vão da estruturação de radiopatrulhas, mais adequadas à prevenção, às formas de patrulhamento mais repressivas (PATAMO, PAMESP, comboios etc.).
Esses modelos mínimos de ostensividade, como cabines, barracas e outros, não passam de artifício operacional para agradar algumas comunidades não esclarecidas a respeito de sua inutilidade na prevenção e na repressão ao crime. Porque cravar feito poste uma cabine significa gastar efetivo para tomar conta dela, e, do modo como as coisas estão, isto é sonho afastado da realidade de uma criminalidade violenta, decidida e impune que grassa calamitosamente a tessitura social do Grande Rio e até do interior do Estado.
Claro que não cabe somente à PMERJ solucionar o problema da criminalidade. Entretanto, o preço que ela paga há de ser maior devido à visibilidade que o patrulhamento ostensivo naturalmente possui e que faz o povo esquecer-se do resto. Mas esta visibilidade não pode ser invertida e pervertida em seus conceitos básicos, que se resumem na impressão de onipresença do patrulhamento, o que somente se consegue dando mobilidade ao patrulhamento motorizado e a pé, este último restrito a locais de grande movimento de pedestres (ruas comerciais, por exemplo). Mesmo assim, o patrulhamento a pé deve estar escorado por um sistema de força facilmente acionável, via rádio de mão, como se vê em tudo que é canto do mundo. Estacar o homem é consagrar o antipoliciamento ostensivo; com efeito, é mais barato plantar árvore para se fingir floresta, o que faz lembrar o poeta inglês William Blake: “O povo não vê a árvore que o sábio vê.”
Não adianta plantar PMs aqui e ali para o povão vê-lo isoladamente e se sentir protegido. Essa lógica é cruel para o PMs (muitos nem têm onde atender às suas necessidades fisiológicas) e enganosa para o destinatário dos serviços policiais militares. Pior é que a corporação não reage para resgatar sua dignidade operacional, mesmo assistindo a reiterados episódios desmoralizantes nas páginas dos jornais, como é o caso ora comentado.
A continuar assim, a PMERJ se encaminha à falência de sua decrescente legitimidade. Quando houver o golpe final da extinção, ninguém sentirá falta dela nem irá reclamar da sua ausência. O povo está acostumado a não ver o PM circulando suficientemente, e basta surgir uma instituição concorrente a fazer um bom trabalho ostensivo (as Guardas Municipais aí estão dando um bom exemplo...) e a PMERJ já era! Bem, se é o que a PMERJ quer, está conseguindo. Como diz o ditado popular, “cobra que não anda não engole sapo”...

3 comentários:

Rose Mary M. Prado disse...

As cabines por dentro não tem nenhum conforto, tornam os policiais em possíveis alvos e ainda os imobilizam.
Não há grande cidade no mundo, em Paris ou Nova York, México ou Bogotá, Londres ou Santiago... que se use esse tipo de equipamento.
A que ficava aqui na Tijuca, mais precisamente na Praça Comendador Xavier de Brito finalmente deixou de existir , porém até "darem cabo" da tal, seu estado ficou em situação lamentável por muitos anos, com papelão no lugar da janela, dando vergonha de quem achava que aquilo ali era um lugar adequado para alguém trabalhar.
Lugar de PM é na rua patrulhando!

Inconfomado disse...

Minha vo dizia isso... cel, leio muito suas linhas, e, posso perceber que a policia nao e' uma instituicao seria. Sou sargento de curso e tive excelentes coroneis instrutores, todos com uma visao critica como a sua e me pergunto, onde vcs stodos estavam que nada PUDERAM fazer? Se a PM tem pessoas inteligentes e capazes, que nao se deixaram contaminar pelo marasmo, pq nao tem vez? Eu entrei pra policia ja velho (30), e com onze anos de carteira assinada em grandes empresas, gracas ao desemprego, pois nao tenho vocacao pra ser policial e muito menos militar e vejp que a Pm nao faz o que deve ser feito, mas o que interessa a alguns poucos. As ideias sao erradas os metodos errados e confesso que ainda nao me acostumei com a instituicao. O que me sustenta e' a escala, que me concede a graca de permanecer afastado tempo suficiente para me recompor dos absurdos que vejo. Se a policia fosse uma empresa ja teria falido.
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Outro dia o sr falou em descentralizar(criacao do 40 bpm), sim concordo, mas e a estrutura administrativa? Tudo e' precario e infortizacao zero. Na ultima empresa em que trabalhei, nacional, um unico departamento dava conta do pagamento de gente de todo o pais, assim como da parte administrativa, ja a PM,,,o sr sabe. O reces tera que ter p1 p2 p3 etc, inclusive guarda do quartel...sera que e' o momento??? parabens pelas postagens e continue escrevendo!!!

Emir Larangeira disse...

O companheiro tem razão. Mas eu me excluo do marasmo interno. Enquanto pude, eu agi e reagi no sentido de melhorar a vida dos companheiros, é só indagar daqueles que comigo serviram no nono, único quartel que comandei, e nos demais lugares onde servi. Mas fui uma só andorinha, e não “fiz verão”. Continuo, porém, reclamando, como eu mesmo sublinhei num romance meu (O Espião), cujo texto está no site. Lá eu me refiro a Erico Verissimo em texto primoroso (Solo de Clarineta) que ora transcrevo em sua homenagem: “Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que um escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.”
Obrigado pelo comentário!

Abraços

Emir Larangeira